quinta-feira, janeiro 03, 2013

Experiência para 2013 - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 03/01


A vida deixa marcas e feridas na roupa e na gente, escondê-las seria esconder nossa maior riqueza


Vinte anos atrás, fui ao casamento de uma amiga em Saratoga Springs, no norte do Estado de Nova York. Era o fim do inverno; a cidade ainda não recebera a turma das águas termais, que chega na primavera, e ainda menos a turma das corridas de cavalos, que acontecem no verão.

Na noite antes da festa, passeando pela rua principal (que, se não me engano, chama-se Broadway), entrei numa loja para fugir do vento. Num canto, estavam os restos dos restos das liquidações de inverno, descontados até não poder mais: as camisas custavam US$ 5 (R$ 10, mais ou menos). Adquiri duas camisas idênticas de sarja pesada, de um cinza escuro, quase preto. Eram as últimas duas no meu tamanho.

Desde então, com o uso, a sarja se tornou mais macia e a cor desbotou um pouco. Por sorte minha e das camisas, isso aconteceu ao longo de uma época que me parecia valorizar, digamos assim, as marcas da experiência. É dessa forma que sempre entendi a moda do brim desbotado, das bainhas desfeitas e desfiadas ou das calças jeans furadas e rasgadas: a vida deixa marcas e feridas na roupa e na gente, escondê-las (por exemplo, atrás de roupas novas) significaria esconder a maior riqueza que acumulamos, a dos percalços de nossa existência -que eles tenham sido bons ou ruins, tanto faz.

Um dia, 8 anos atrás, a manga de uma dessas camisas brigou com a maçaneta de uma porta, e o tecido foi rasgado, na forma de um sete -de cinco centímetros por oito.

Mandei consertar, sem dissimular o remendo. Afinal, o mundo me parecia maduro para isso: tanto eu quanto minha camisa (que se tornou a preferida das duas) podíamos mostrar sem vergonha as marcas dos anos e das batalhas.

Durante muito tempo, carreguei meu remendo na manga como o distintivo de uma honrada patente militar. Ou como uma declaração à la Neruda, feita por mim e por minha camisa: "confesso que eu vivi".

Como disse, minha confiança no espírito dos tempos era um pouco ingênua, e isso foi revelado nos últimos dias, quando, de repente, um menino de dez anos apontou o dedo para a manga de minha camisa e estranhou: "Mas este é um rasgo?".

Pensei que ele estivesse censurando o que talvez lhe aparecesse como desleixo: por que eu não compraria uma camisa nova e pararia de impor ao mundo a triste visão de um remendo? Mas logo percebi que ele estava usando uma calça jeans rasgada com afinco, de modo que era suficiente ele dobrar levemente as pernas para que seus joelhos estivessem ao ar livre.

Agora, a própria existência de calças rasgadas e desbotadas para crianças invalida meu entendimento de que os nossos tempos valorizariam a experiência. Pois, mesmo vivendo intensamente, uma criança não teria tempo para maltratar sua calça a ponto de lhe imprimir um "look" rasgado radical.

Conclusão: para o menino, meu rasgo e meu remendo eram ruins porque eram verdadeiros. Enquanto os rasgos da calça jeans dele eram bons porque eram de mentira. Ou seja, o que ele aprendera a valorizar não era a experiência real (pressuposto de eventuais acidentes com suas calças), mas os rasgos falsos, ou seja, a pura aparência da experiência.

Entendo que adolescentes e pré-adolescentes tentem aparentar "quilometragem". Alguns, aliás, fazem "besteiras" para acumular logo experiências que lhes permitam se comparar aos adultos. Outros (hoje mais numerosos, talvez?) fazem menos besteiras, porque escolhem um atalho (que os pais, em geral, adoram propor): eles descobrem que arriscar-se a viver é mais difícil e mais cansativo do que acumular e exibir as falsas aparências da experiência. Para eles, os rasgos falsos são propriamente melhores do que os verdadeiros. E brincar é sempre melhor do que viver.

Escrevo esta coluna no dia 31. Estou perto de Times Square. Ao longo da tarde, periodicamente, ouço uma "hola" das pessoas que já esperam para o fim do ano. A "hola" corresponde aos momentos em que as redes de televisão ligam as câmeras. Faz frio e ficar 12 ou 14 horas em Times Square é chato. À meia-noite, você dará um abraço e um beijo nos amigos que estão com você, mas isso você poderia ter feito em casa ou numa festa. A razão de estar em Times Square não é sua experiência, é a aparência de alegria que você talvez possa mostrar ao mundo, na televisão.

Para todos, os votos de um 2013 com rasgos e remendos reais, ou seja, de uma vida que não precise ser confundida com um reality show para convencer aos outros (e à gente) de que ela vale a pena.

Entra ano, sai ano - CORA RÓNAI

O GLOBO - 03/01


Lembranças das noites de réveillon passadas


Uma vez, quando os meus filhos eram crianças, resolvemos passar o réveillon num barco. Saímos com amigos da Marina da Glória e paramos em frente à praia de Copacabana para ver os fogos. Chovia torrencialmente, o mar estava batido e ficamos molhados até os ossos. Mal tocamos na ceia: comer debaixo daquele aguaceiro, num barco que jogava para cá e para lá, não era uma boa experiência. Mais molhados do que nós só mesmo os fogos, que exibiram muita fumaça e pouco brilho. Fiquei contente quando a festa, se é que podemos chamá-la assim, acabou. Mal podia esperar para voltar para casa.

Na Marina, o pessoal mais animado — sim, apesar dos pesares havia um pessoal animado — resolveu continuar no barco e navegar até o amanhecer. Paulinho estava nessa turma. Bia e eu só nos lembramos de que as chaves de casa estavam na mochila dele quando o barco se afastou. Gritamos e acenamos, e o pessoal de bordo acenou de volta, alegremente. Logo o barco sumiu na noite e nós duas começamos o nosso périplo em busca de abrigo.

Papai, Mamãe e os tios estavam no sítio, Laura estava em Nova York, os amigos mais chegados, cujos telefones sabíamos de cor, estavam espalhados pelo mundo. Eram tempos de orelhão e de caderneta de endereços, e ninguém, em sã consciência, levava um tesouro como uma caderneta de endereços para um réveillon al mare.

Paramos em pelo menos uma dúzia de hotéis. Os poucos que tinham quartos achavam esquisitíssimo uma moça e uma menina querendo se hospedar àquela hora, sem bagagem, e nos mandavam embora. Acabamos dormindo dentro do carro, encharcadas, famintas e desconsoladas com aquele começo de ano nada auspicioso.

Paulinho chegou quase na hora do almoço, trazendo notícias do naufrágio do Bateau Mouche. Mais tarde, quando vimos o noticiário na TV, fiquei horrorizada com o risco que havíamos corrido. E, no fim do ano, ninguém conseguiu tirar da cabeça da Bia a ideia de passar o réveillon de 1990 de preto: ela não havia se esquecido da imagem dos mortos, todos vestidos de branco.

Ao contrário do péssimo réveillon de 1989, o de 2013 entra para a minha história como o mais perfeito de todos que vivi no Rio. O mar estava um espelho, não choveu, os fogos quase não fizeram fumaça. A natureza caprichou, assim como o povo do foguetório, que merece nota dez.

A volta para casa, porém, continua problemática. Ao estipular que taxis e ônibus só voltariam a circular por Copacabana às 4h, a prefeitura castigou todas as crianças, todos os velhinhos e todas as pessoas que já descobriram que têm joelho.

No trajeto entre a Avenida Atlântica e a minha casa presenciei cenas dignas de retiradas épicas: crianças virando abóboras, idosos exaustos sentados no meio-fio, reclamações por todos os lados. A alegria da linda festa da praia se perdia a olhos vistos pelo caminho.

Em Ipanema, não havia taxi nem para remédio, e vans e ônibus passavam lotados. A Praça General Osório, que mais uma vez virou mictório público, dava engulhos nos passantes; houve apagão na Vinicius de Moraes, problema sério numa rua em que a calçada é uma sucessão de buracos.

Outro problema: a quantidade absurda de lixo que as pessoas largam na praia e espalham pelas ruas. Quando cheguei a Copacabana, às 21h30m, a praia já estava imunda, cheia de oferendas, garrafas, latas e lixo de toda a espécie. Está mais do que na hora de tentar consertar essa falta de educação generalizada.

Ninguém descreveu a virada como a Fal Vitiello de Azevedo, moça que sabe das coisas:

“Fui dormir bêbada e foi uma sensação maravilhosa e eu dormi como um coelhinho bebê que estivesse dormindo no mesmo ninho que o ursinho do comercial de amaciante, dois dos gatos da Stella Cavalcanti, um cobertorzinho felpudo e um travesseiro em formato de carneirinho. Acordei me sentindo dentro do trato digestivo de um camelo velho e rabugento que jantou guisado de coiote, mas não quero falar sobre isso, porque quando cheguei em casa Maliu tava assando bolo de uva. Entendi pra que serve bolo de uva e porque minha mãe é este ser sábio e catito.”

Está todo mundo atrás do escalpo do neurocirurgião Adão Orlando Crespo, que faltou ao plantão no Salgado Filho na noite de Natal e deixou sem atendimento a menina vítima de bala perdida.

Está certo. Quem não quer trabalhar na noite de Natal não deve fazer medicina. Faltar sem motivo a um plantão do qual dependem pacientes em estado grave é um ato criminoso.

Dito isso, é muito cômodo para o prefeito — e para o governador — ter um bode expiatório tão prático quanto um médico irresponsável. Não vi, da parte deles, nenhuma indignação pelo fato que, em primeiro lugar, não deveria ter acontecido. Como é que uma criança é atingida por uma bala perdida na porta de casa, ainda por cima numa comunidade supostamente pacificada? Cadê as investigações para descobrir de onde saiu o projétil?

A lombada e o apêndice - FERNANDO REINACH

O Estado de S. Paulo - 03/01


Lombadas são aqueles morrinhos colocados em estradas asfaltadas para forçar os motoristas a reduzir a ve­locidade. O apêndice é uma pequena ramificação do intestino do tamanho e formato de um dedo de luva. O que um teria a ver com o outro?

O apêndice é um tubo fechado em uma das pontas, por isso restos ali­mentares podem se acumular no seu interior, desencadeando um proces­so infeccioso que leva a dores abdo­minais. Se a apendicite for diagnosti­cada a tempo, remove-se cirurgica­mente o apêndice e fim de conversa.

" Mas se o médico não fizer o diag­nóstico correto ou demorar para ope­rar, o apêndice pode se romper e o conteúdo do intestino pode vazar pa­ra o interior do corpo, provocando infecção generalizada e risco de morte. Como a operação é simples e o risco de não operar é grande, na dúvida os médi­cos competentes operam. Por isso, de­pendendo do hospital na Grã-Bretanha, de 4% a 40% dos pacientes operados, quando têm seu apêndice estudado após a cirurgia, não precisavam da ope­ração, pois não tinham apendicite.

Nem todas as dores abdominais são apendicites. Um dos métodos que aju­dam os médicos a saber se uma dor ab­dominal é apendicite consiste em dei­tar o paciente de costas e apertar lenta­mente o abdome no local do apêndice. Esse aperto geralmente não causa dor. No momento seguinte, o médico remo­ve rapidamente o dedo, aliviando ins­tantaneamente a pressão. Se o paciente gritar de dor, é provável que seja uma apendicite. Gases e outras causas de dores abdominais não provocam essa rea­ção. Mas não é fácil diagnosticar correta­mente uma apendicite, principalmente nos estágios iniciais.

Influência das lombadas. Na região de Buckinghamshire, as estradas têm as­falto impecável, mas, como relatam mé­dicos de um hospital local, são infesta­das por lombadas. A esse hospital, para onde são enviados os pacientes com fortes dores abdominais, é impossível che­gar sem passar por lombadas. Em 2010, um médico observou que muitos pacien­tes se queixavam de que, ao passarem sobre as lombadas, sentiam a dor abdominal aumentar muito. Muitos desses : pacientes estavam com apendicite.

Com base nessa observação aleatória, o (que só ocorre em mentes preparadas), médicos e epidemiologistas decidiram estudar se o relato de dor causada por lombadas auxiliaria no diagnóstico da apendicite. Incluíram na lista de pergun­tas, feita a todos os pacientes, se haviam sentido dor ao passar sobre as lomba­das. De acordo com as respostas, eram classificados como "lombada positivo" e "lombada negativo". Além dessa per­gunta, todos eram submetidos aos exa­mes tradicionais e era decidido se eles seriam ou não operados para a retirada do apêndice (nesta decisão não era leva­do em conta se o paciente era "lombada positivo" ou "lombada negativo").

Entre fevereiro e agosto de 2012, mais de cem pacientes foram submetidos ao novo protocolo. A partir de agosto, os médicos começaram a examinar os da­dos. Verificaram quantos pacientes ha­viam sido diagnosticados corretamen­te como sofrendo de apendicite (o apên­dice retirado estava danificado) ou diag­nosticados corretamente como não apendicite (outro diagnóstico havia si­do feito e se mostrou correto). Tam­bém verificaram o número de falsos po­sitivos (pacientes diagnosticados com apendicite, mas cuja operação mostrou que o apêndice estava normal) ou falsos negativos (o pior erro: o paciente "não foi operado, mas tinha apendicite).

Fizeram então a seguinte análise: o que teria ocorrido se tivessem tomado a decisão de operar ou não apenas utili­zando a classificação dos pacientes em "lombada positivo" ou "lombada negativo"? Essa comparação foi feita com cada um dos métodos de diag­nóstico, como a presença de vômitos e enjoo e dores refletidas em outros locais do abdome. O resultado de­monstrou que o método da lombada é melhor para prever os casos de apendicite que qualquer outro méto­do usado isoladamente. Esse novo método também é melhor para evitar falsos negativos e falsos positivos e, se associado a métodos já em uso, re­duz significativamente o número de erros no diagnóstico da apendicite.

Essa descoberta demonstra como muitas vezes a medicina progride por meio de observações simples, ao alcance de qualquer médico atento, sem necessidade de grandes equipa­mentos ou de laboratórios sofistica­dos. A única característica que permi­tiu essa descoberta foi a capacidade de um médico de ouvir atentamente a história relatada pelos pacientes.

O calor e a dengue - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 03/01


Pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz concluíram estudo sobre a relação entre as variações climáticas e o risco de dengue no Rio. O resultado mostra que, entre 2001 e 2009, o aumento de um grau na temperatura mínima em um mês fez, acredite, crescer, no mês seguinte, os casos de dengue em 45%.

A vez de Carolina
Débora Secco será a protagonista de “Boa sorte”, o primeiro longa de ficção da diretora Carolina Jabor, da Conspiração. O filme é inspirado no conto “Frontal com Fanta”, de Jorge Furtado. Filha de Arnaldo Jabor, Carolina dirigiu episódios de “A mulher invisível”, que venceu o Emmy.

Romário 2 x 0 Vasco
A 5ª Câmara Cível do TJ do Rio penhorou o passe de três jogadores do Vasco e metade das cotas do Brasileirão e de patrocínio. É para pagar dívidas com Romário. O Vasco chegou a pedir a suspensão da decisão alegando que a penhora abalaria a continuidade do clube.

Retrato do Brasil
Rodrigo Neves, no primeiro dia de trabalho como prefeito de Niterói, RJ, constatou que a cidade, cujo trânsito, dia sim, outro também, dá um nó, tem 200 guardas.Mas só 80 trabalham na função. Os outros estão cedidos a outros órgãos.

Diário de Justiça
A 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial de São Paulo condenou o laboratório Cimed a mudar o layout do seu Bepantriz, remédio para assaduras. É que é semelhante à embalagem do Bepantol, da concorrente Bayer, que moveu a ação. A causa foi ganha pelo escritório Dannemann Siemsen.

S.O.S. CASA DA FLOR
A aprazível São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos do Rio, guarda uma joia da arte popular brasileira: a Casa da Flor. É obra do salineiro Gabriel Joaquim dos Santos (1892-1985), natural da cidade. Em 1912, ele começou a decorar o imóvel com cacos de vidro, conchas, pedrinhas, materiais recolhidos de lixo doméstico e restos de obras. Só parou quando morreu. Em 1986, a “obra de arte” de seu Gabriel foi tombada pelo Inepac como patrimônio cultural. Mas a ação do tempo tem sido implacável com a Casa da Flor, que hoje, com rachaduras pelas paredes e vidros quebrados, clama por restauração 

Menino do Rio
FH também passou o réveillon no Rio. Foi visto, ontem, almoçando no Sentaí, um pé-sujo maravilhoso que fica nos arredores da Central do Brasil.

Casais de artistas
O casal de atores Ashton Kutcher e Mila Kunis passou o réveillon em Angra, RJ, na casa de outro casal de artistas: Luciano Huck e Angélica. O senador Aécio Neves também foi.

Deve ser terrível
O querido Nelson Motta esteve em Roma, em dezembro. No aeroporto de Fiumicino, as suas malas chegaram arrombadas, não havia carrinhos suficientes, e o lugar estava imundo:

— Quase deu saudade do Galeão...

O outro lado
Por falar no Galeão, a Infraero diz, sobre nota publicada na coluna de ontem, que, das cinco esteiras no setor de desembarque doméstico do terminal 1, apenas uma não estava disponível no dia 31.
A estatal garante ainda que não há pendências com a empresa MPE.

Cingapura, não!
De autoria do cartunista Aroeira, estas máscaras (acima) de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, a dupla que planejou Brasília, serão usadas dia 10 agora, na festa de premiação anual do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) por arquitetos, urbanistas e estudantes. Trata-se, na verdade, de um protesto contra o governador Agnelo Queiroz, que, sem licitação, entregou a uma empresa de Cingapura o direito de planejar os próximos 50 anos de Brasília.

Milícia em Jacarepaguá
O ex-vereador Cristiano Girão Matias, preso fora do Rio, será ouvido por videoconferência no processo a que responde, com mais dez réus, por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e lesão corporal grave. Girão foi preso acusado de chefiar uma milícia em Jacarepaguá.

Segue...
A primeira audiência do caso foi marcada para dia 15 agora pelo juiz Marco José Mattos Couto, da 1ª Vara Criminal de Jacarepaguá.

Caso de polícia
Uns larápios invadiram a sede do Botafogo, o clube carioca, horas antes do início da festa de réveillon, e furtaram laptops dos DJs e da produtora do evento. O caso foi parar na 10ª DP.

No mais
Pergunta que não quer calar: o secretário José Mariano Beltrame vai resistir à tentação de entrar na política na eleição de 2014?

Freud no MASP - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 03/01


A primeira exposição dedicada a Lucian Freud no Brasil será inaugurada em junho, no Masp. A mostra, realizada em parceria com o British Council, contará com 40 gravuras do artista emprestadas do museu de arte contemporânea de Caracas.

FREUD 2
Sessenta fotografias de Freud e de sua obra feitas por David Dawson, que foi seu assistente, também farão parte da exibição. Alemão naturalizado inglês, Freud é considerado um dos maiores retratistas dos últimos tempos. Era neto do psicanalista Sigmund Freud e morreu em 2011, aos 88 anos.

VOCÊ VAI PRECISAR
Lula, que era esperado na posse de Fernando Haddad (PT), anteontem, e faltou, ligou para o novo prefeito de São Paulo. "Ele me disse: 'Que Deus ilumine suas decisões. Você vai precisar'."

DESENCARNA
Gilberto Kassab tentou descontrair o momento em que transmitia seu cargo. "Ele brincou falando algo como 'não sei se vou assinar'", contou Haddad.

SEM DESCULPA
E o novo prefeito diz que pretende despachar semanalmente com grupos de secretários, em vez de fazer reuniões individuais, para promover uma "gestão integrada" e incentivar o pensamento "matricial" entre as pastas. Assim, cada titular "vai se reunir comigo umas 40 vezes por ano, não vai ter desculpa nenhuma", afirma.

CANTA, CANTA
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) se juntou à juventude do partido para recepcionar Haddad na comemoração do Bar Brahma, no centro. Cantou: "São Paulo tem jeito, Haddad é prefeito".

Tossindo muito, Suplicy pediu que o garçom retirasse o gelo de seu suco de laranja. Ele tinha saído do hospital na véspera, dia 31, após um princípio de pneumonia.

DEIXA PRA DEPOIS
Frederico Haddad, 20, primogênito do prefeito, passou um bom tempo na mesa de parlamentares petistas durante a comemoração da posse no Bar Brahma. Aluno do quarto ano de direito na USP, Fred, como ele é chamado, afirma que não pretende trabalhar com o pai na política por ora.

MEU NOME É
E durante a posse na Câmara Municipal, o vereador Andrea Matarazzo (PSDB-SP) ficou injuriado com o cartão que o identificava: "Angelo Andrea Matarazzo". Cobriu, com um pedaço de papel branco, o primeiro e desconhecido nome.

BOSSA 'N' ROLL
O cantor Supla assinou um artigo para a "Modern Drummer", a principal publicação mundial para bateristas. Pediu que seja imaginado como "Sid Vicious [músico do Sex Pistols] com Tom Jobim cantando 'Garota de Ipanema'".

Norma Haddad

'Adotamos o Chalita'


O prefeito Fernando Haddad ganhou festa em comemoração à sua posse, anteontem, no Bar Brahma, na avenida São João. Sua mãe, Norma, as irmãs Lúcia e Priscila, os filhos, Frederico e Ana Carolina, e a mulher, Ana Estela, estavam com ele. A coluna conversou com Norma Haddad. "Não revelo minha idade! [risos]", diz.

Folha - Como a família comemorou a virada do ano?

Norma Haddad - Fomos jantar na casa do Chalita [Gabriel, deputado do PMDB que disputou o primeiro turno com Haddad e depois o apoiou no segundo turno]. Ele nos convidou, foi uma coisa bem pequena, tinha umas 20 pessoas. O Chalita é uma graça, uma pessoa íntegra, educada. Nos conhecemos há pouco tempo, mas a gente já adotou ele. O Fernando é muito correto. Ele escolhe as pessoas com quem trabalha por suas qualidades, pela integridade, independentemente de partidos.

A senhora imaginava que um dia seu filho seria prefeito da maior cidade do país?

Não. O Fernando sempre foi um aluno brilhante no [colégio] Bandeirantes, na USP. E é um ótimo professor. Mas nunca imaginei ele prefeito.

Algumas pessoas gritavam "lindo!" na cerimônia de posse. O prefeito sempre fez sucesso com as mulheres?

Mãe é suspeita, né? Ele sempre fez sucesso, mas nunca foi paquerador. Mas, posso te falar? Acho que o Fernando tá muito mais bonito agora. E sabe o que é? O Fernando é muito gente. Isso transparece e deixa as pessoas mais bonitas. Ele tem um coração grande, fala com todo mundo.

E a minha nora, Ana Estela, é linda também. Viu como ela está chique?

IH, É CARNAVAL?
As atrizes Flávia Alessandra e Nívea Stelmann levaram os filhos, Olívia e Miguel, para a virada de Ano-Novo do hotel Copacabana Palace, no Rio. O ator Marcos Caruso posou abraçado com passistas de samba na festa.

CURTO-CIRCUITO
As lojas da grife Maria Garcia nas ruas Oscar Freire e Mario Ferraz começam liquidação hoje, com descontos de até 70%.

Zeca Baleiro inicia amanhã temporada de shows no Sesc Belenzinho. 18.

A Funhouse, na Bela Vista, faz amanhã a festa "Indioteque". 18 anos.

A loja Oren, nos Jardins, promove seu saldo até o dia 31 de janeiro.

A Mostra Internacional de Cinema na Cultura exibe amanhã o longa-metragem "Dorfpunks", de Lars Jessen. 16 anos.

Sai de cartaz no domingo a mostra "Planos de Fuga - Uma Exposição em Obras", no CCBB-SP.

Desmoronando - LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO

ZERO HORA - 03/01


O prédio de lata estava desmoronando e eu estava dentro dele, desmoronando também. Caía de bruços como um super-herói que esqueceu como voar, com a cara virada para o chão, ou para o saguão do prédio, que se aproximava rapidamente. Se eu me espatifasse no saguão, certamente morreria, pois seria soterrado pela lataria em decomposição que acompanhava meu voo. O fim do sonho seria o meu fim também. Mas a queda era interrompida, a intervalos, como naquelas “lojas de departamento” em que o elevador parava, o ascensorista abria a porta e anunciava: “Lingerie”, “adereços femininos” etc. Levei algum tempo para me dar conta de que aquelas paradas não eram só para interromper o terror da queda. Eram oportunidades de fuga. O sonho me oferecia alternativas para a morte, se eu fizesse a escolha certa. Ou então me dava um minuto para pensar em todas as escolhas erradas que tinham me levado àquele momento e à morte certa: os exageros, os caminhos não tomados e as bebidas tomadas, as decisões equivocadas e as indecisões fatais, o excesso de açúcar e de sal, a falta de juízo e de moderação. Não posso afirmar com certeza, mas acho que ouvi o ascensorista fantasma dizer, em vez de “lingerie” e “adereços femininos”: “Desce aqui e salva a tua alma” ou “pensa no que poderia ter sido, pensa no que poderia ter sido...” As paradas não eram para diminuir o terror, as paradas eram parte do terror! Eu não tinha tempo nem para a fuga nem para a contrição. E o saguão se aproximava. Decidi me resignar. É uma das maneiras como a morte nos pega, pensei: pela resignação, pela desistência. Meu corpo não me pertencia mais, era parte de uma representação da minha morte, o protagonista de um sonho, absurdo como todos os sonhos. Talvez a morte fosse sempre precedida de um sonho como aquele, uma súmula de entrega e renúncia à vida, mais ou menos dramática conforme a personalidade do morto. Um sonho com anjos e nuvens rosas ou um sonho de destruição, como eu merecia. Eu nunca saberia por que meu sonho terminal fora aquele, eu desmoronando junto com um prédio de lata. Mas nossas explicações morrem com a gente.

No fim do sonho, me espatifei no chão do saguão e esperei que o prédio caísse nas minhas costas. Em vez disso, ouvi a voz do Dr. Alberto Augusto Rosa me perguntando se eu sabia onde estava. “Hospital Moinhos de Vento”, arrisquei. Acertei. Lá juntaram as minhas partes, me espanaram e me mandaram para casa. E eu não disse para ninguém que deveria estar morto.

2012 - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO - 03/01

É certo que as previsões pessimistas ou simplesmente as previsões do pensamento mais à esquerda não se realizaram



O mundo não mergulhou na segunda recessão. Houve crescimento — baixo, é verdade, mas sempre algum ganho de produto e renda. E alguns países e regiões, como partes da Ásia e da América Latina, foram até bastante bem, com expansão acima dos 5%.Os Estados Unidos também não caíram numa segunda recessão. A maior economia do mundo fechou o ano com crescimento pouco acima de 2%. É menos do que o potencial americano, mas é o melhor resultado entre os maiores países ricos. A taxa de desemprego caiu e o governo começou a venda das ações de empresas e bancos que haviam sido estatizados. Estão sendo reprivatizados.

Os Estados Unidos também não despencaram no abismo fiscal. Na última hora, Obama conseguiu um acordo com os republicanos, regulando aumento de impostos e corte de gastos públicos. É parcial, mas saiu, aliás confirmando o diagnóstico atribuído a Churchill: “Pode-se sempre confiar em que os americanos farão a coisa certa, uma vez esgotadas todas as outras possibilidades.”

A China não sofreu a temida aterrissagem forçada, nem sua estrutura política entrou em colapso. O crescimento econômico desacelerou e manteve-se entre 7,5% e 8% ao ano, talvez até mais saudável que o ritmo anterior. E iniciou-se uma completa troca de comando na direção do partido e do governo, operada de modo planejado e organizado. A nova liderança anuncia reformas na direção correta, de poupar menos, gastar mais e ampliar o consumo interno.

A zona do euro não entrou em colapso. Nenhum país abandonou a moeda.

Espanha e Itália não afundaram na crise da dívida, nem na turbulência política. Ficaram mais pobres em 2012, é verdade, e é triste, mas chegaram ao fim do ano financiando suas dívidas a juros menores do que no início do período. Seguem as políticas de ajuste e reformas, que começam a produzir os primeiros resultados. Os governos conservadores desses dois países mantiveram suas posições.

Já François Hollande, que se elegeu com o mote “abaixo a austeridade”, criou na França uma confusão de política econômica bem parecida com a brasileira. Designou um superempresário para fazer um diagnóstico da baixa competitividade francesa (como Dilma convidou Gerdau), aplicou uma ou outra das medidas sugeridas (como a redução do imposto sobre a folha de salários, de novo como Dilma), mas ao mesmo tempo desencadeou políticas intervencionistas que assustaram o empresariado e reduziram o nível de investimentos (de novo ...).

A Corte Constitucional francesa considerou inconstitucional o imposto de 75% sobre a renda superior a um milhão de euros anuais — que havia sido outro grande tema de campanha socialista. Antes disso, Gerard Depardieu já havia renunciado à cidadania francesa. Para ele, o governo Hollande “pensa que sucesso, criatividade e talento precisam ser punidos”.

Ministros socialistas atacaram sua “falta de patriotismo e de solidariedade”. Depardieu respondeu com sua biografia: começou a trabalhar aos 14 anos como operário gráfico; em 45 anos, nos tempos mais recentes como ator e empresário, juntou uma bela fortuna; ao longo desse tempo, criou empregos e pagou 145 milhões de euros em impostos. Que querem mais? Mudou-se para a Bélgica, enquanto a popularidade de Hollande caía para 35%.

Já Angela Merkel segue firme em suas políticas e convicções. Dos grandes europeus, a Alemanha foi a única a apresentar algum crescimento no ano passado.

Dirão: o jogo ainda não acabou, há muitas variáveis no ar. Sim, como sempre será. Mas é certo que as previsões pessimistas ou simplesmente as previsões do pensamento mais à esquerda não se realizaram. E não se realizaram pela ação política. Super-Mário, o presidente do BC Europeu, Mario Draghi, salvou o euro. La Merkel, acreditem ou não, manteve o euro e a União Europeia de pé, reclamou reformas que começam a ser implementadas em diversos países. O presidente do BC americano, Ben Bernanke, evitou um desastre global. Obama se reelegeu e, aos pouquinhos, vai arrumando a economia e as contas públicas.

Já no Brasil, foram as previsões otimistas que deram errado. A presidente Dilma passou o ano inteiro dando lições de crescimento nos fóruns internacionais. Atacou as políticas americana e europeia, culpou-as pelos problemas locais, e fez propaganda do modelo brasileiro-lulista. Para colher o quê? Crescimento de menos de 1% e inflação perto de 6% — combinação pior que a média latino-americana, pior que a média asiática, pior que a média mundial, pior que os Brics, pior que EUA e pior que Alemanha.

Tem uma poderosa carta na manga — o desemprego baixo, mas cuja força está sob ameaça.

2013? Fica para a próxima.

George Orwell e o uso da linguagem - ROBERTO MACEDO


O Estado de S.Paulo - 03/01


George Orwell foi um grande escritor e jornalista inglês. Na sua extensa obra, dois livros se destacaram, inclusive no Brasil, nos quais revelou sua intensa oposição ao autoritarismo e ao totalitarismo: 1984 e A Revolução dos Bichos.

Aqui inspirou até o nome de um programa de televisão, o Big Brother Brasil. Big Brother, ou o Grande Irmão, era a figura imaginária e onipresente que conduzia o partido no poder num país sob jugo totalitário, imaginado por Orwell. Esse partido controlava seus membros de forma acintosa e cada um tinha em sua residência uma câmera de vídeo com que era observado pelo controle central exercido pelo Big Brother.

Menos conhecida é a paixão de Orwell pela clareza no uso da linguagem. Soube pelo seu livro Como Morrem os Pobres e Outros Ensaios (São Paulo, Companhia das Letras, 2011). Nele, o capítulo A política e a língua inglesa trata mais da linguagem do que da política. Esta e os políticos entram em cena porque Orwell lhes atribui parte da culpa pela má linguagem.

Começa apontando a decadência da língua inglesa. As causas, várias, com seu próprio efeito atuando como causa adicional, ao reforçar as originais, produzir o mesmo resultado de forma intensificada, e assim por diante, indefinidamente. Nas suas palavras, a linguagem "... se torna feia e imprecisa porque nossos pensamentos são tolos, mas seu desmazelo torna mais fácil para nós termos pensamentos tolos".

Várias de suas observações cabem também à língua portuguesa no seu uso no Brasil. Entre outros males, é evidente a invasão de estrangeirismos, principalmente ingleses, muitas vezes sem ponderação quanto ao seu significado e à necessidade e relevância de usá-los. Entre casos mais comuns, estão delivery, sale e off. E há bullying, que ignora nosso verbo bulir e o substantivo bulimento.

Há também os estranhos nomes que recebem edifícios lançados na cidade de São Paulo, quase todos em inglês, francês ou italiano. Recentemente, um jornalista americano que nela vive me disse ter ficado perplexo com um deles, o Augusta High Living, na chamada baixa Rua Augusta. Em inglês high é palavra também usada para descrever uma pessoa embriagada ou sob efeito de drogas.

Para crítica, Orwell apresenta cinco trechos de igual número de autores e neles ressalta duas características comuns. A primeira é o "ranço das imagens" ou metáforas. A segunda é a falta de precisão conceitual, à qual voltarei mais à frente.

Quanto às metáforas, e escrevendo em 1946, argumenta que uma "recém-inventada ajuda o pensamento a evocar imagem visual, ao passo que uma que está tecnicamente 'morta' (por exemplo, resolução férrea) se transforma numa palavra comum e pode ser usada sem perda de vivacidade. Mas, entre esses dois tipos, há um enorme depósito de metáforas gastas que perderam todo o poder de evocação e só são usadas porque economizam para as pessoas o trabalho de inventar expressões".

Entre as gastas que cita, várias estão também na nossa língua: trocar seis por meia dúzia, misturar alhos com bugalhos, caiu na rede é peixe e calcanhar de Aquiles. Acrescenta que muitas dessas expressões são usadas sem o conhecimento de seu sentido, e pergunta: o que são bugalhos, por exemplo?

É ao discutir o sentido das palavras e expressões que enfatiza a política e os políticos. O termo democracia tem destaque: "... além de não existir uma definição com que todos concordem, a tentativa de criá-la sofre resistência de todos os lados. (... ) quando dizemos que um país é democrático, nós o estamos elogiando; em consequência, os defensores de todo tipo de regime alegam que ele é democrático, e temem que tenham de deixar de usar a palavra se esta for atrelada a algum significado".

E mais: "Em nosso tempo, o discurso e a escrita política são, em grande medida, a defesa do indefensável. (...) Desse modo, a linguagem política precisa consistir, em larga medida, em eufemismos, argumentos circulares e pura imprecisão nebulosa. (...) O estilo inflado é em si mesmo uma espécie de eufemismo. (...) A linguagem política (...) é projetada para fazer com que as mentiras soem verdadeiras (...), e para dar uma aparência de solidez ao puro vento". Assim, mesmo discorrendo sobre linguagem, percebe-se que Orwell foi fiel à sua vocação de rebelar-se quanto ao que via de errado na política, na qual ressaltou esse uso deturpado.

Afirmações suas soam familiares no Brasil, onde, por exemplo, é disseminado o entendimento de que o voto livre e universal basta para marcar o País como uma democracia; onde a escolha de reitores de universidades públicas apenas por seus professores, estudantes e funcionários é defendida a pretexto de ser democrática; onde há toda uma ginástica verbal de petistas a defender companheiros condenados à prisão; e onde o líder petista maior sempre se autoelogia, afirmando ter realizado uma gestão bem-sucedida "como nunca antes neste país".

Quanto à linguagem em si, Orwell propõe seis regras para aprimorá-la, e adaptei a quinta à nossa língua: "1) Nunca use uma metáfora, símile ou outra figura de linguagem que está acostumado a ver impressa; 2) nunca use uma palavra longa quando uma curta dará conta do recado; 3) se é possível cortar uma palavra, corte-a sempre; 4) nunca use a voz passiva quando pode usar a ativa; 5) nunca use uma expressão estrangeira, uma palavra científica ou um jargão se puder pensar num equivalente do português cotidiano; 6) infrinja qualquer uma destas regras antes de dizer alguma coisa totalmente bárbara".

Adicionaria uma sétima, a de evitar frases longas, pois embolam o raciocínio e confundem leitores e ouvintes. E de um filósofo da educação, o franco-americano Jacques Barzun, uma que abrange todas: escrever é reescrever.

Vacina política - ROGÉRIO GENTILE

FOLHA DE SP - 03/01


SÃO PAULO - Ano Novo, falação nova. Prefeitos das principais cidades do país tomaram posse anteontem com discursos bem diferentes daqueles que os elegeram. No lugar do otimismo contagiante das campanhas, preocupação com a situação econômica. Em vez da metralhadora giratória de promessas, pedidos de ajuda e cortes de gastos.

Fernando Haddad (PT) é um dos principais exemplos. O petista arrojado da propaganda política, que, com passos firmes e mangas arregaçadas, olhava para a câmera e dizia coisas como "eu sei como fazer", "São Paulo precisa de mais em menos tempo" e a cidade necessita "de um prefeito com ideias novas", ficou lá no horário eleitoral.

Agora, ao assumir, Haddad declarou que as "tarefas não são simples" e que "não há a menor condição de levar à frente esse grande empreendimento que é a nossa cidade sem renegociar a dívida municipal". Como assim, não há a menor condição? O "homem novo para um tempo novo" vai deixar tudo para depois?

Vale notar que Haddad, ao dizer que "não há condição", repetiu Kassab, seu antecessor, aquele que o petista da campanha afirmava estar no "rumo errado". Kassab passou os últimos anos reclamando de que a dívida, "impagável", engessara a capacidade de investimento da prefeitura. E, por pelo menos quatro vezes, tentou renegociá-la com o governo Dilma. Sem sucesso algum.

Assim como Haddad, ACM Neto (DEM), em Salvador, é outro prefeito que mudou o tom da sua fala após a posse. Se, na campanha, dizia que havia chegado a "hora do povo" e que era "possível fazer muito mais", agora afirma que precisará "tomar medidas duras e até impopulares".

É claro que fazer campanha é uma coisa e governar é outra. Mas, como ninguém pode alegar que não sabia das dívidas das capitais e dos "pibinhos" dos anos Dilma, os discursos cautelosos servem de vacina para justificar as várias promessas que eles não vão cumprir.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 03/01


COPA E JOGOS JÁ MEXEM COM MERCADO DE TRABALHO
Mundial de futebol já gerou R$ 75 milhões em negócios para microempresas, diz o Sebrae. Sete setores saíram na frente
A 18 meses da Copa 2014, o Mundial de futebol já rendeu R$ 75 milhões em negócios para micro e pequenas empresas nacionais. Somente em 2012. O valor, segundo Luiz Barreto, presidente do Sebrae, pode chegar a R$ 100 milhões, quando os dados do ano forem finalizados. Mapeamento do Sebrae listou, ao menos, 930 segmentos com potencial de crescimento. Mas todas as 12 cidades-sede, Rio de Janeiro entre elas, já se beneficiaram da criação de empregos em sete setores-chave da economia: construção civil, turismo, hotelaria, serviços, meio ambiente, tecnologia da informação e petróleo e gás. Os salários chegam a R$ 20 mil. Abaixo, a coluna apresenta o cenário para cada um dos segmentos, de agora até 2016. O movimento começou nas áreas de construção civil e energia, pela busca de mão de obra qualificada. Agora, a vez é da hotelaria, que terá de contratar pessoal para dar conta dos 20 mil novos quartos que serão construídos só na capital fluminense, até os Jogos Olímpicos.

CONSTRUÇÃO CIVIL
O setor receberá R$ 22,8 bilhões dos R$ 33,1 bi que serão investidos em infraestrutura, segundo dados do Ministério do Esporte. Estudo da Firjan prevê que a procura por profissionais ligados ao setor será intensa até 2015. A demanda vai de pedreiros (salários de R$ 1.450) a gerente geral de obras (R$ 20 mil), diz o Senai.

TURISMO
A expectativa do MTur é atrair, com Copa e Olimpíadas, dez milhões de turistas internacionais por ano, até 2022. Além do Rio, o fluxo crescerá nas regiões Serrana e dos Lagos, em Paraty e Angra dos Reis. A Embratur estima que, nas ruas da capital fluminense, haverá um milhão de turistas durante os eventos. Há oportunidades, por exemplo, para agentes de viagens. Na função, os salários vão de R$ 1.500 a R$ 5 mil.

SERVIÇOS
De acordo com o IBGE, o Rio se ancora nos ramos de comércio e serviços por muito mais tempo que outras cidades do país. Tudo a ver com a temporada de verão e o carnaval. Quem ganha são os profissionais de transporte, alimentação e bebida, vestuário e educação, diz o Sebrae. Há chances também para trabalhadores informais.

TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO 
Desde os Jogos Panamericanos de 2007, o setor cresce 10% ao ano, estima Benito Paret, presidente do TI Rio. Sobram vagas para quem já está qualificado. As empresas buscam colaboradores que consigam gerenciar fluxo intenso de informações. A melhoria na infraestrutura das redes de telecom e energia também elevaram a procura por profissionais.

PETRÓLEO E GÁS
No setor de petróleo e gás, de acordo com o Mdic, o Rio é o estado que mais recebe investimentos. Mas a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada faz as empresas trazerem profissionais estrangeiros. Há oportunidades para engenheiros de todas as especialidades e cargos ligados à administração.

HOTELARIA
A ABIH-RJ estima que cada novo quarto de hotel gere cerca de quatro empregos no setor turístico. São uma vaga direta e três indiretas, em serviços. Há vagas para belboy (carregador de malas), cozinheiros e gerentes.

MEIO AMBIENTE
O Rio prometeu despoluir a Lagoa Rodrigo de Freitas e a Baía de Guanabara. A cidade precisa de oceanógrafos, geólogos, engenheiros hídricos, zootécnicos, gestores ambientais e ecólogos. Tudo para dar conta dos investimentos em sustentabilidade. Em 2012, a cidade teve 81 projetos registrados para obter o selo verde, diz Jones LaSalle.

Quase cheios 1
Foi de 92,32% a taxa de ocupação dos hotéis cariocas na virada do ano. Houve queda de cinco pontos percentuais em relação aos 97,6% de 2011/12. A pesquisa da ABIH-RJ ficou pronta ontem. No eixo Leme-Copacabana, o índice foi pleno: 99,53%.

Quase cheios 2
Alfredo Lopes, presidente da ABIH-RJ, relaciona a queda a um par de fatores. A crise na Europa tirou alguns turistas do Rio. E oferta de quartos na cidade aumentou em mil unidades no ano passado, com a abertura de hotéis.

Em Foz
O Hotel das Cataratas, no Parque Nacional de Foz do Iguaçu (PR), está com ocupação média de 90% de 26 de dezembro a 6 de janeiro. A taxa cresceu 14% em 2012. De cada quatro hóspedes, um é brasileiro.

Cultural
Com a aprovação da reforma da Lei de Incentivo à Cultura pela Câmara do Rio, o setor passará a dispor de R$ 50 milhões em 2013. Foram R$ 14 milhões no ano passado. O salto tem a ver com a autorização do aumento de 0,35% para 1% da arrecadação total do ISS. São Paulo terá R$ 4 milhões para a cultura este ano.

Qualificação
O Senac RJ capacitou 15 mil alunos no programa Jovem Aprendiz em 2012. A meta é formar 20 mil este ano.

Esgoto 1
A Cedae fez parceria com o grupo Hyatt, que constrói polêmico resort na Praia da Reserva, na Barra. A estatal fluminense inicia ainda este mês as obras de um tronco coletor, que levará esgoto da área para uma estação de tratamento e, de lá, para o emissário submarino.

Esgoto 2
O acordo engloba não só os resíduos liberados pelo Grand Hyatt, complexo hoteleiro e residencial, mas também do entorno, informa Wagner Victer, presidente da Cedae. “O projeto estará ligado à rede antes da inauguração”, diz.
É de R$ 150 milhões o aporte em saneamento na Barra.

Tem que malhar
A Zumba, de fitness, investirá este ano US$ 63 milhões em publicidade. É verba 26% superior à de 2012. Hoje, 140 mil pontos em 150 países usam a metodologia nas aulas. A previsão é aumentar este número em 85% em 2013.

Empurrão
O grupo Tátil fechou 2012 com R$ 21 milhões de faturamento. Cresceu 25% sobre um ano antes. A criação da marca dos Jogos Rio 2016 alavancou a clientela. Facility, SuperVia, Cosan, Coca-Cola (Copa) são algumas das novas contas.

Mal na foto
Caiu 30% a demanda por fotos com Papai Noel no Natal 2012. A conta é da Escola de Papais Noéis do Brasil. Um shopping do Rio contabilizou cinco mil fotos, contra sete mil em 2011.

TEMPORADA DE LANÇAMENTOS
A João Fortes Engenharia vai lançar, ainda em janeiro, o Alfa Rio Prime Business, no Centro. Será o 10º empreendimento comercial do grupo. O valor de vendas deve chegar a R$130 milhões. O prédio terá duas lojas no térreo e 64 salas. Bel Castro assina as áreas decoradas.

No azul
A House Vendas fechou 2012 com 606 unidades vendidas. Foi alta de 27% ante 2011. O valor geral de vendas bateu R$ 213 milhões. Sozinho, o Rio representa 50% dos negócios, seguido por Niteró (30%) e Brasília (20%).

É seguro 1
A Marítima Seguros emitiu R$ 66,7 milhões em prêmios no Rio, até setembro. Na média, cresceu 15,6% sobre igual período de 2011. No ramo de automóveis, o salto foi de 30,6%. A empresa faturou R$ 1,2 bilhão no país

É seguro 2
A Mongeral fechou com o Sindiserj. Venderá seguro de vida aos 420 mil servidores do Estado do Rio associados ao sindicato. Começa hoje.

Prontuário
O sistema Kubbo de saúde, que oferece prontuário via internet, fez convênio com o Cremerj. Todos os médicos recém-formados terão um ano de acesso subsidiado.

Livre Mercado
A AMP Tshirt Store abriu unidade no BarraShopping. É a 3ª da marca de camisetas de Cello Macedo, fundador da Devassa. A meta é inaugurar mais 12 lojas em 2013: seis no Rio; o resto em São Paulo.

A Cores Novas, carioca de moda infantil, faturou 15% mais em 2012. A venda de Calvin Klein ajudou no resultado. A marca tem cinco lojas.

A Jour, loja de calçados, virou multimarcas. Vende sapatos Luiza Barcelos e bolsas Amie. Espera dobrar resultados em três meses.

A Koni Store abre quatro lojas em janeiro. Começa com duas em São Luis (MA). As outras ficarão em Recife e Brasília. O aporte nas franquias é superior a R$ 2 milhões.

A Faculdade de Medicina de Petrópolis investiu R$100 mil no sistema de gestão de ensino Pauta On-Line, em nuvem. Renderá economia de 75% em dois anos.

Papinhas Nestlé e Mucilon iniciam ação cultural no Baixo Bebê Leblon, dia 8. Esperam cinco mil visitantes.
O Itaucard estreou no Twitter na virada de 2013.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 03/01


Maioria de empresas nacionais sentiu a crise, diz consultoria

Em 2012, 75% das empresas nacionais sofreram, em algum nível, impactos negativos nos seus resultados em razão da conjuntura econômica internacional, de acordo com pesquisa da Delloite.

"Companhias de diversos setores e portes foram afetadas no período. Foi algo quase generalizado", afirma José Paulo Rocha, sócio-líder da área de finanças corporativas da empresa.

Quase metade (46%) das organizações teve queda da lucratividade em 2012, com grande influência do aumento de salários e benefícios a funcionários, o que afetou cerca de 70% das empresas.

A isso se somaram custos com fornecedores e insumos (64%), segundo o estudo.

"A retenção de pessoal é uma medida de curto prazo para enfrentar os impactos negativos", diz o executivo.

"No entanto, a médio e longo prazos pode ser necessário adotar a renegociação de contratos", acrescenta.

Mesmo com a indicação de um final de ano não tão otimista, a maioria dos entrevistados espera melhores resultados para o Brasil em 2013.

Os executivos ouvidos apontam a expectativa de um PIB maior, a ampliação dos gastos do governo e a elevação no investimento estrangeiro, além de um acréscimo da renda da população.

"As empresas terão maior controle de suas despesas. Os custos estão muito altos", conclui Rocha.

"Foi um pibinho, mas temos quase pleno emprego"
Para 2013, Cledorvino Belini, presidente do Grupo Fiat/Chrysler para a América Latina, está otimista, "como sempre, apesar do aumento do IPI", frisa.

"Surgirão reflexos da queda de juros e novos investimentos." O ano de 2012 foi de forte emoções.

"Iniciou-se com grande expectativa, mas logo depois, nosso setor e outros estavam sofrendo muito com a crise e a redução de IPI ajudou a nos manter aquecidos", afirma.

"O PIB foi um pibinho, mas enquanto há países com 26% de desemprego, temos quase pleno emprego no Brasil."

Para Belini, o governo está certo em estimular mais a demanda do que o investimento. "Sem demanda forte, não ia fazer fábrica nova em Pernambuco, nem ampliar a minha planta de Betim de 800 para 950 mil unidades".

No Brasil, há um automóvel para cada seis habitantes. "Há oportunidade. Se compararmos com a Argentina, onde há um para quatro habitantes, faltam 15 milhões de carros no Brasil. Ante à Europa, são 65 milhões."

No Brasil, há 200 mil empresas ligadas ao setor. "Somos o quarto maior mercado do mundo, mas o sétimo maior produtor."

Entre o pior cenário e o do prolongamento da redução do IPI, ambicionado pelo setor, "o aumento gradual do tributo é um cenário de boa convivência", afirma.

A partir deste mês, os preços dos carros sobem "automaticamente". Nos veículos até 1.0, o IPI que era zero, passa a 2% de IPI e os carros acima de 1.0, vão a 9%.

Quanto à Itália, "vai demorar dois, três, quatro anos, mas ela sai da crise. É um país muito criativo".

Também presidente da Anfavea (associação de fabricantes de veículos), Belini prevê que as vendas de automóveis crescerão 4% em 2013 ante 2012."Mas tudo depende do PIB."

Novidade em 2013? "Vou sair de férias por uma semana, dez dias, para ficar em uma praia, em São Paulo."

Frota
A Viação Catarinense, do grupo JCA, antecipou a compra de 30 ônibus, que deveria ocorrer durante 2013. Antes do ano começar, a empresa investiu R$ 15 milhões para renovar parte da frota.

Nos próximos meses, a companhia deverá desembolsar o mesmo montante para adquirir mais veículos e diminuir a idade média de seus ônibus, que hoje é de 4,8 anos.

"A queda dos juros do [financiamento] Finame fez com que comprássemos mais cedo", afirma o diretor-executivo da viação, Marcelo Pierobon.

Antes de completar a renovação da frota, a empresa analisará o modelo dos novos veículos que adquiriu, com mais poltronas do modelo leito. "Queremos mudar nossa configuração."

A Catarinense também pretende, neste ano, reforçar as linhas que percorrem até 150 quilômetros.


Infarto adiado - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 03/01


O Congresso dos Estados Unidos apenas adiou o infarto das contas públicas. Os grandes problemas fiscais estão longe de terem sido resolvidos. A agonia continua ao longo dos próximos dois meses.

Graças à decisão que derrubou a isenção do imposto sobre a renda da parcela mais rica da população americana, os cortes automáticos de despesas que teriam de começar agora em janeiro foram evitados.

Mas o rombo das contas públicas dos Estados Unidos continua alto. Sem uma nova autorização do Congresso, a partir de março, o Tesouro não poderá mais emitir títulos com o objetivo de aumentar a dívida federal acima do atual teto de US$ 16,4 trilhões (já atingido), correspondente a cerca de 73% do PIB americano.

O aumento da arrecadação proporcionado pelas decisões tomadas na madrugada de ontem tirou a economia americana da UTI, mas não evitará um desempenho mais baixo da atividade econômica. As primeiras estimativas divulgadas por empresas de consultoria são de que pode tirar em 2013 quase 1 ponto porcentual do crescimento do PIB. Também não deve concorrer para aumentar os postos de trabalho. O atual nível de desemprego, de 7,7% da população ativa, tende a ficar por aí mesmo.

O acordo arrancado com enorme queima de energia política não equaciona as contas públicas. Por enquanto, mantém-se elevada a aceitação dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. É o principal ativo das reservas técnicas dos bancos centrais, dos fundos de investimento e das seguradoras. Mas o crescimento da dívida dos Estados Unidos segue em direção do insustentável, nível que ninguém se atreve a definir onde fica, mas que todos sabem que existe.

Mesmo se, em março, o Congresso concordar em aumentar o teto da dívida americana e, assim, impedir a suspensão imediata dos pagamentos, ainda ficará para ser resolvida a necessidade de cortes extras de despesas da ordem de US$ 1,2 trilhão em dez anos.

Por isso, o alívio pelo acordo, que o mercado financeiro ontem refletiu, não deve perdurar. Ficou demonstrado que os políticos americanos adoram manter a vaquinha balançando sobre o precipício. Mas também se viu que entre eles há razoável percepção de que uma solução ruim é melhor que a ruína de todos. Na undécima badalada do relógio, sempre sai um acordo que evita o pior.

Como este acordo não elimina as incertezas, o mundo dos negócios tenderá a atuar relativamente travado. Os investidores não se sentirão encorajados a despejar dinheiro na economia enquanto não houver clareza sobre o comportamento futuro das contas públicas.

O problema principal está longe de ser econômico. Ele é fundamentalmente político. Consiste em definir como a conta da crise deve ser repassada para a população. Os republicanos entendem que devam ser cortadas as despesas sociais, especialmente de seguro-desemprego e seguro saúde (Medicare). Os democratas preferem o aumento de impostos, sobretudo sobre os mais ricos e os de maior renda. A curto prazo, não há perspectiva de desempate. O impasse seguirá por mais tempo.

O gargalo mais apertado - CRISTIANO COSTA

FOLHA DE SP - 03/01


Vai ser certamente mais difícil destravar a educação do que a infraestrutura. Há uma série de medidas que o Brasil tem de tomar na área o quanto antes


O Brasil possui dois grandes gargalos que travam seu crescimento potencial: infraestrutura e educação.

O mais grave e de solução mais difícil certamente é o segundo.

A última avaliação da ONU, o Pisa, classificou o Brasil em 53º entre 65 países avaliados. Enquanto os russos fizeram 459 pontos em leitura, a nota do Brasil foi 412. Mas, a Rússia ficou somente em 43ª na classificação. Os líderes são os chineses de Xangai. Eles fizeram 556 pontos no exame da ONU.

Infelizmente, essa distância não pode ser reduzida no curto prazo. Os resultados de políticas adotadas hoje levarão pelo menos uma década para serem percebidos. O maior desafio é o aprendizado.

Melhorar a educação requer investimentos. O primeiro deles é valorizar os professores de modo que a carreira se torne atrativa, tanto do ponto de vista financeiro quanto do reconhecimento da sociedade.

O salário anual de um professor do ensino fundamental nos Estados Unidos é próximo dos US$ 55 mil. Esse valor é 20% superior à renda per capita americana e corresponde a 64% do salário de um engenheiro. No Brasil, a lei atual prevê que um professor receba no mínimo R$ 1.451 ao mês, algo em torno de US$ 9 mil ao ano. Esse valor é 20% inferior à renda per capita brasileira e corresponde a apenas 35% do salário médio de um engenheiro no Brasil. Mas isso não é tudo. Muitos Estados e municípios não pagam nem mesmo o piso fixado em lei!

Além de corrigir distorções salariais, mudar o quadro educacional do país requer medidas que deram certo em outros países.

A primeira é avaliar os alunos de forma contínua nas principais áreas: língua portuguesa e matemática. Mais do que avaliar, é necessário detectar os problemas específicos de cada série, item por item.

Se os alunos foram mal ao calcular proporções de triângulos, então que seja repensado o modo de ensino dessa matéria. Isso significa usar a avaliação não só para classificar escolas, mas também para melhorar o ensino.

A segunda forma de melhorar o ensino é por meio da remuneração por desempenho. Ou seja, premiar professores e principalmente gestores de escolas que apresentem melhores resultados ao longo do tempo. Isso cria incentivos e valoriza os profissionais, desde que seja feito de forma cuidadosa, levando-se em conta as diferenças econômicas e sociais do entorno de cada escola.

Outros dois passos são fundamentais para mudar nossa educação.

O primeiro é o aumento do número de horas de ensino. Enquanto os chineses estudam mais de oito horas por dia, a carga horária brasileira, quando cumprida, é de cinco. Não há dúvidas de que mais horas de ensino resultam em melhor desempenho. Além disto, existe evidência de que a redução do número de alunos em sala de aula melhora o aprendizado. Uma sala com 25 alunos é muito mais fácil de ser administrada do que uma sala com 40 alunos.

A mudança da pirâmide demográfica brasileira pode facilitar o trabalho dos governantes nos próximos anos com relação a estes dois últimos passos. Com mais verba para a educação, o Brasil terá uma oportunidade imensa até o final desta década para garantir um bom desempenho na próxima.

Todas as medidas listadas acima tomam tempo. Não podemos esperar mais. Este é o gargalo mais apertado do crescimento do país e sabemos como alargá-lo. Agora cabe à sociedade se organizar e cobrar agilidade dos governantes quanto à apresentação de resultados e propostas.

O mundo livre do abismo - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 03/01


Mais uma vez a economia americana foi salva do desastre no último instante, com a aprovação pela Câmara de Representantes, às 11 da noite de terça-feira, de um acordo contra o abismo fiscal. Na madrugada do mesmo dia, os senadores haviam aprovado as medidas para evitar um arrocho orçamentário suficiente para jogar o país de novo na recessão e dificultar a superação da crise global. Na Câmara, dominada pelos republicanos, a resistência da oposição foi muito mais forte e a insegurança predominou até pouco antes da votação. O resultado final foi recebido com manifestações de alívio em todo o mundo e as bolsas fecharam os pregões com grandes altas. O susto passou, mas nem todos os riscos foram afastados e o presidente Barack Obama ainda terá de enfrentar novas negociações com os oposicionistas. A dívida federal chegou a US$ 16,4 trilhões na virada do ano, bateu novamente no teto e será preciso mais uma vez elevar seu limite. A discussão desse tema será um dos pontos principais da agenda presidencial nos próximos tempos.

EUA voltam a crescer. A economia americana cresceu no terceiro trimestre em ritmo equivalente a 3,1% ao ano. É um fator essencial para o crescimento mundial - ela representa sozinha 24,5% do PIB global -, já que não se poderá contar com os 27 países da União Europeia, com participação igual. Foi um desempenho mais que invejável para a maior parte dos países desenvolvidos e até para um dos grandes emergentes, o Brasil. De outubro para novembro, o desemprego caiu para 7,7% da força de trabalho, enquanto continuou em alta na Europa. Não se sabe ainda se a produção terá perdido impulso nos últimos três meses, nos EUA, mas indicadores do setor industrial têm sido positivos. Todos têm, objetivamente, excelentes motivos para torcer pela recuperação do mais importante mercado consumidor. Com a reativação americana, a economia global será de novo puxada por mais um potente motor.

Republicanos, ainda atrapalham. Mas o desafio enfrentado por Obama seria muito menos assustador se fosse apenas econômico. A economia americana ainda é uma das mais flexíveis e criativas do mundo e sua capacidade de recuperação foi muitas vezes comprovada. Mas o problema é fundamentalmente político, porque as bandeiras dos conservadores incluem cortes em programas sociais e barreiras a qualquer elevação de impostos para as classes de renda mais altas.

Para conseguir o acordo e evitar a queda no abismo, o presidente foi obrigado a ceder em pontos importantes. Desistiu de conseguir um aumento de imposto para os contribuintes com renda individual acima de US$ 200 mil por ano ou casais com ganho superior a US$ 250 mil. Teve de aceitar um teto mais alto - US$ 400 mil para solteiros e US$ 450 mil para casais.

Os republicanos também cederam, porque combatiam qualquer nova tributação desse tipo, mas tiveram vitória parcial. Foram preservados benefícios fiscais para bolsas de estudos, pesquisas e atenção às crianças, assim como o seguro, por mais um ano, para 2 milhões de desempregados. Mas Obama foi incapaz de evitar a elevação do desconto sobre o salário. Além disso, ainda será necessária uma negociação para evitar um corte automático de gastos de US$ 110 bilhões em de dois meses.

Europa em recessão. Na Europa, o crescimento econômico deve continuar lento em 2013, e o desemprego, elevado. Houve sinais de melhora em algumas economias e até de algum avanço do governo grego na redução do déficit fiscal, mas o risco de mais recessão permanece. Para a OCDE e outras instituições, dificilmente ela será evitada porque até agora todos os esforços se concentraram em tentar solucionar a crise da dívida e nada foi feito ou está planejado para estimular os investimentos e a atividade econômica.

Só finanças não salvam. Uma das novidades mais importantes do fim do ano foi o acordo entre os governos da zona do euro em torno de uma política bancária centralizada. O Banco Central Europeu ficará encarregado de fiscalizar e disciplinar as instituições mais importantes. Isso pode contribuir para a separação dos problemas dos bancos e dos Tesouros nacionais. Mas faltam outras medidas para impulsionar as economias da região.

Reação chinesa. A China deve reagir, depois de alguma desaceleração em 2012, mas seu crescimento provavelmente será mais lento que na década anterior. Ainda assim, continuará sendo o principal foco de dinamismo internacional e um grande mercado para as commodities brasileiras. O plano do governo prevê 7,5% este ano, voltado agora mais para o mercado interno com o objetivo paralelo inclusive de melhor os padrões de vida e consumo de uma população mais exigente. Um cenário melhor dependerá, nos próximos meses, principalmente do sucesso político de Obama e de novos avanços da economia americana.

Questão federativa - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 03/01


A reclamação generalizada dos novos prefeitos que assumiram no dia 1º sobre a situação financeira de seus municípios tem tudo a ver com as mudanças que o governo quer fazer na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o que sinaliza que o cenário futuro pode até mesmo piorar. Além da razão básica de que a arrecadação de tributos está caindo devido ao fraco desempenho da economia, há uma razão específica para a situação dos estados e municípios estar pior: os benefícios tributários que o Planalto está oferecendo para setores econômicos atingem principalmente tributos que têm forte influência nas economias regionais, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

A cada isenção oferecida pelo governo, os fundos de Participação dos Estados (FPE) e dos Municípios (FPM) perdem, pois eles são formados basicamente pelo IPI e pelo Imposto de Renda. Com o fraco desempenho da economia, agora mesmo está caindo a arrecadação do IR de grandes empresas, como a Petrobras e a Vale, o que já afeta os fundos regionais. Por isso os governadores estão reclamando, os prefeitos também, mas o governo federal, não, porque a maior parte dos tributos não é dividida com os estados e municípios, principalmente as "contribuições", e a desoneração é basicamente sobre o IPI. A maior parte da conta está, portanto, sendo espetada nos estados e nos municípios, que não têm a capacidade de decisão.

Essa situação, aliás, tem a ver com a discussão da distribuição dos royalties do petróleo. Sem condições políticas para disputar com o Planalto a melhor distribuição dos tributos nacionais, governadores e prefeitos tentam tirar a arrecadação dos estados produtores de petróleo, que são minoria e presas aparentemente fáceis. A melhor solução seria fazer a distribuição geral dos tributos, mas com alíquota menor. As contas indicam que, se houvesse distribuição de 20% da tributação geral, incluindo as "contribuições", o resultado seria melhor para estados e municípios, e a União não ficaria tão prejudicada.

Mas, voltando à questão da Lei de Responsabilidade Fiscal e à mudança que o governo federal quer realizar, está disposto na lei original, de 2000, que não é possível fazer subsídios com caráter permanente, o prazo máximo é de até três anos. Se o governo quiser ir além desse limite, tem que fazer corte de gasto ou promover o aumento de receita com a elevação de outro tributo.

Não é permitido usar o critério de excesso de arrecadação para uma ação de mais longo prazo, porque nunca se sabe se essa situação será permanente. Se a economia ficar fraca, como agora, a arrecadação cai. Mas, se o incentivo for generalizado, e não apenas a setores pontuais, não é necessário fazer essa compensação.

O que o governo fez foi retirar da lei essa ressalva "de caráter geral", o que indica, para especialistas, que pretende dar isenções de longo prazo, além de três anos, ou mesmo permanentes, para alguns setores, aprofundando política que era proibida pela LRF. Com a mudança sugerida pelo governo, fica claro que eles querem ficar escolhendo para quem dar os incentivos, que podem ser de duração mais longa, o que pode enfraquecer de maneira permanente os estados e municípios, muitos dos quais vivem de suas participações nos fundos.

Nesse quadro perigoso para as contas públicas, a situação de penúria da maioria das prefeituras revelada neste final de ano pode estar sinalizando também que a LRF já não está sendo tão eficaz quanto anteriormente. Os problemas de recolhimento de lixo em diversas cidades pelo país podem representar uma vingança do político derrotado nas urnas, ou simplesmente má gestão, contra o que a LRF não tem o que fazer.

Mas os gastos excessivos, estes, sim, devem ser combatidos. O controle da LRF é por quadrimestre, e uma das medidas mais importantes é proibir os governos de assumir novas dívidas quando faltarem dois quadrimestres para o fim do mandato. Se a administração que sai tiver que deixar contas a pagar, tem que deixar também dinheiro em caixa para responder por esses compromissos. Se o governante deixou mais restos a pagar do que tinha em caixa, há punições do Tribunal de Contas, mas geralmente elas são barradas pelas Assembleias Legislativas ou Câmaras Municipais.


Dilma na estrada - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 03/01


Com o "Pibinho" de 2012 e com o cenário econômico incerto, petistas estão recomendando à presidente Dilma que coloque o pé na estrada e faça um tour pelo país este ano. Mesmo que sua popularidade esteja nas alturas, o PT avalia que ela precisa se aproximar do seu eleitor. A campanha de 2014 já está na rua, com PSDB, PSB e a ex-ministra Marina Silva se movimentando.

Foco no Nordeste
No tour pelo país, a presidente Dilma deveria focar no Nordeste. Na primeira metade do mandato, 2011 e 2012, fez 98 viagens. Dessas, 57 foram para estados do Sudeste. O campeão absoluto de visitas presidenciais foi São Paulo, 14 idas em 2011 e dez em 2012, seguido pelo Rio, que recebeu Dilma 13 vezes no primeiro ano de mandato e nove em 2012. A estados do Nordeste, a presidente fez 22 viagens. As rotas preferidas foram Bahia, com sete visitas, e Pernambuco, com cinco. Dilma estreou na Presidência com 56 viagens país afora, mas ano passado reduziu consideravelmente os roteiros, passando para 42 compromissos fora do gabinete de Brasília.

Visitas suspensas
Turistas interessados em conhecer o Palácio do Itamaraty estão dando de cara com placa avisando que a visita está suspensa. Em outubro, a empresa terceirizada parou de prestar o serviço e nova licitação ainda está em andamento. Previsão de retomada das visitas só em março. Impossível não pensar na máxima "imagina na Copa."

“Apesar das inquestionáveis nuvens cinzentas na economia, há clima favorável na opinião pública. (Tem de) fazer o país funcionar, Dilma!” Roberto Requião Senador (PMDB-PR) 

Oi?
Aliados do PSDB não entenderam a tática tucana no Rio. O senador Aécio Neves (MG) se esforça para se apresentar como social-democrata e o partido cogita dois liberais ortodoxos - Pedro Malan e Armínio Fraga - para o governo.

Procura-se
O Diretório Nacional do PT terá que ser formado este ano por 50% de mulheres. Hoje, dos 80 integrantes, 28 são mulheres. O partido aprovou resolução com o novo índice, que se estende a todos os diretórios e executivas do país.

PSB e Kassab
Foi só o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) cogitar a possibilidade de concorrer a governador no ano que vem que o PSB já pensa em conversar para dar apoio. Sem um candidato forte ao governo de São Paulo no horizonte, seria a chance de ter um palanque pronto para o governador Eduardo Campos (PE) no maior estado do país.

Simon fora
Sondado por PSOL e PDT para concorrer contra Renan Calheiros (PMDB-AL) a presidente do Senado, Pedro Simon (PMDB-RS) avisou que não está disposto e que seu candidato é outro peemedebista, o senador Luiz Henrique (SC).

De olho em 2014
O senador Luiz Henrique (PMDB-SC) tem dito que só entra na disputa pela presidência do Senado se for consenso e para ganhar. De outra forma, vai aguardar a próxima eleição, em 2014, quando espera ter o apoio do partido.

SEM APAGÃO. Houve festa de réveillon em São Luís com direito a show do sambista Arlindo Cruz. O que deu foi um apagão na oposição.


Mapa da guerra - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 03/01


Encerrado o protocolo festivo da posse, Fernando Haddad se prepara para o primeiro embate com sua ampla base de sustentação na Câmara paulistana: o petista começará a publicar nos próximos dias a lista de exonerações de comissionados nas 31 subprefeituras. Levantamento preliminar da transição mostra vereadores com cotas de até 40 funcionários lotados em administrações regionais. A tendência é que eles sejam reavaliados e destacados para funções subalternas.

Linha direta Ausente na cerimônia de transmissão de cargo, Dilma Rousseff telefonou na noite de anteontem para cumprimentar Haddad.

Ponte aérea Paulo Maluf (PP-SP), outro aliado que faltou à posse, explicou a assessores de Haddad que estava viajando com a família, no Rio. Enviou o presidente estadual pepista, Jesse Ribeiro, como representante oficial.

Oremos 1 Vereadores da bancada evangélica deram demonstração de unidade na abertura da nova legislatura em São Paulo. Romperam, em conjunto, acordo de lideranças para tentar instalar Souza Santos (PSD) na vice-presidência da Câmara.

Oremos 2 Como não obtiveram sucesso na primeira empreitada, anunciaram o próximo pleito do grupo, que abrange as igrejas Universal, Assembleia de Deus e Internacional da Graça: a flexibilização das regras para licenciamento de templos.

Fechando... A defesa de Paulo Rodrigues Vieira, pivô da Operação Porto Seguro, encaminhará petição hoje à Justiça Federal solicitando que o Banco Central libere as contas da faculdade mantida por familiares do ex-diretor da ANA em Cruzeiro (SP).

... no vermelho Apesar de expedido em 19 de dezembro, o desbloqueio parcial da movimentação bancária da entidade não havia sido efetivado até ontem. Com isso, funcionários estão com os salários atrasados e o início do ano letivo é incerto. O vestibular ocorre no dia 27.

A luta continua Centrais sindicais, entre elas CUT e Força Sindical, discutem no dia 23 a pauta da marcha que farão a Brasília para cobrar de Dilma promessas da campanha eleitoral de 2010.

Descolado 1 Em sua primeira reunião de planejamento para 2014, o PPS colocará em pauta proposta de fusão com partidos que construam, segundo o presidente Roberto Freire, "alternativa à polarização PT-PSDB".

Descolado 2 Previsto para os dias 9, 10 e 11, em São Paulo, o encontro também deve reafirmar o convite para filiação de Marina Silva (sem partido). Embora estude fundação de nova sigla, a ex-ministra tem relatado a interlocutores entraves para viabilizá-la até o ano que vem.

Surfando Virou hit em Pernambuco filme publicitário do governo de Eduardo Campos (PSB) em que Lenine canta "Como uma Onda".

Cada um... O entusiasmo de João Paulo Cunha ao saudar o prefeito de Osasco, Jorge Lapas, na posse foi visto por petistas como resposta ao isolamento a que o deputado havia sido submetido na transição em seu reduto.

... na sua Condenado no mensalão e afastado da briga pela prefeitura na undécima hora, Cunha não foi consultado para a montagem do primeiro escalão e teve espaço reduzido na nova gestão.

Detetives Recém-empossado em Campinas, que teve dois prefeitos afastados recentemente em escândalos, Jonas Donizette (PSB) lançará hoje plano anticorrupção. Criará equipe de seis auditores especiais, que atuarão como "fiscais ocultos" de ilícitos nos serviços públicos.

Tiroteio
Falcão é modesto quando diz que o PT imitou outros partidos. O mensalão foi caso legítimo de 'pela primeira vez na história deste país'.

DE EDUARDO GRAEFF, ex-secretário-geral da Presidência, sobre o presidente nacional petista associar o mensalão a "práticas comuns a outros partidos".

Contraponto


Oposição mirim


Na cerimônia de diplomação dos eleitos em Fortaleza (CE), no final do ano passado, o vereador petista Deodato Ramalho, aliado da ex-prefeita Luizianne Lins (PT), estava acompanhado do filho de cinco anos. Estavam sentados ao lado do novo prefeito Roberto Claudio (PSB).

Ao ser chamado, Ramalho deixou o filho. Ao retornar, com o diploma, o menino olhou para o socialista, que foi crítico contumaz dos petistas na campanha, e disse:

-Seu malvado!

Ontem, Ramalho perdeu a presidência da Câmara para Walter Cavalcante (PMDB), que apoia o prefeito.