O ESTADÃO - 26/01
Não é de hoje que o Brasil vive o dilema de administrar duas contas: a de chegar e a de sair. A primeira abriga repertório, programas e atos que impulsionam o país, garantindo uma escalada crescente na esfera das Nações, o que lhe confere respeito, credibilidade para levar a cabo metas e aspirações. Um exemplo? O avanço alcançado pela política de inserção social, que propiciou a ascensão de cerca de 30 milhões de brasileiros às classes médias. Um tento. Já a conta de sair reúne o acervo das demandas e carências, erros, falhas e ausências do Estado no exercício de suas funções constitucionais, manchas que borram a imagem de um país na paisagem internacional, e, consequentemente, o impedem de ostentar a marca de grandeza. Um exemplo? Os recentes episódios no presídio de Pedrinhas, no Maranhão, cujos detalhes – decapitação de corpos, enforcamentos – ganharam espaços na mídia mundial, projetando estes nossos trópicos no ranking da barbárie e fragilizando seu discurso nos palcos da diplomacia. Uma vergonha. Afinal, qual a maior ambição brasileira na esfera da política internacional? Ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
"Desde os anos 90, fragmenta-se o cordão da segurança pública. Já existem mais de 500 mil adultos encarcerados, número que cresceu 30% nos últimos cinco anos”
Mesmo que reunisse condições para tanto, seria irrefutável a hipótese de que uma Nação democrática, caso queira emprestar colaboração à meta de manter a paz e a segurança internacional, função que compete ao Conselho de Segurança, precisa demonstrar compromisso com sólida política de segurança interna. Não é o nosso caso. Um território inseguro, assaltado pela violência, que registra 50 mil homicídios anuais, um déficit de 200 mil vagas no sistema carcerário, e onde cerca de 20 pessoas desaparecem diariamente sob alarmantes violações aos direitos humanos, estaria confortável numa cadeira do órgão que define diretrizes para a segurança mundial? Não seria o caso de inferir que, ali, o Brasil acabaria produzindo incongruente discurso, do tipo: “Faça o que digo, mas não faça o que faço”? O grau de arrogância e autossuficiência que se vê em diversas frentes da vida institucional – expandido na esteira do bordão “pela primeira vez na história deste país” – funciona como viseira de governantes incapazes de enxergar desvios, corrigir rumos e aceitar sugestões.
Antes, porém, que o epíteto de “catastrófico” seja jogado nestas linhas, façamos o exercício de identificar alguns traços da grandeza nacional. Somos uma potência emergente, com elevado papel nos fóruns de decisão política e econômica, graças ao desenvolvimento alcançado nas últimas décadas. O Brasil encontrou o fio da meada, pagou a dívida ao FMI, exerce um papel de liderança entre os países da América do Sul, tem razoável influência na América Central e ajuda países da África, com os quais mantém estreitas relações. Nossa democracia dá sinais de vitalidade, com o funcionamento pleno dos Poderes, apesar de tensões frequentes, não havendo ameaças de rompimento nos dutos democráticos. A população, já ultrapassando 200 milhões de pessoas, se anima na esteira da mobilização de grupos e comunidades, a denotar crescente interesse em participar do processo político. Nosso sistema de consumo se expande sob empuxo de políticas de redistribuição de renda.
Dispomos de moderna estrutura de produção, com monumental seara plantada pelo agronegócio, um animado setor de serviços em expansão, um parque industrial arrojado (mesmo padecendo de agruras) e promissoras perspectivas nos campos da exploração de petróleo (pré-sal). O país conquistou, mais recentemente, o comando da Organização Mundial do Comércio, tem a China como principal parceiro comercial, sinaliza expansão na política multilateral e vontade de fortalecer vínculos com os EUA e a Europa. Integra o G-20, o grupo que toca a orquestra da economia internacional. E participou de operações de imposição de paz e ajuda a governos em diversos territórios, como República Dominicana, Canal de Suez, Angola, Moçambique, Líbano, Timor Leste e Haiti. Essa é, portanto, a base do um portentoso edifício, ou, em outros termos, a conta de chegar para disputar espaços de mando e influência na textura das Nações. O que falta, agora, é estreitar a conta de sair, ou seja, atenuar e mesmo eliminar as tintas que enfeiam a paisagem dos nossos campos e cidades, a começar por declives e despenhadeiros nos vãos da segurança pública.
O país tem afundado neste lamaçal. Desde os anos 90, fragmenta-se o cordão da segurança pública. Já existem mais de 500 mil adultos encarcerados, número que cresceu 30% nos últimos 5 anos, mas 43% dessa população excedem a capacidade do sistema prisional. E há 200 mil presos aguardando julgamento. Soma-se a esse contingente 20 mil adolescentes que cumprem medida socioeducativas com privação de liberdade. As projeções são sombrias. Frágeis índices de escolaridade, desigualdade, tortura em delegacias e centros de detenção, quadros policiais muito violentos, execuções extrajudiciais, superlotação das prisões, impunidade para abusos, salários vergonhosos de policiais, pobreza nas periferias, ausência de espaços de lazer, falta de treinamento, desaparelhamento de estruturas, a par das angústias urbanas – precários sistemas de mobilidade, atendimento precário dos centros de saúde – arrematam a descosturada malha da segurança e elevam às alturas os índices de violência. O copo das águas destoantes transborda. Os direitos humanos são hasteados nos mastros da cidadania, a deixar ver o apurado gosto nacional por verborragia bombástica. Mas o vento das ruas rasga discursos. Não por acaso, o assessor de Direitos Humanos da Anistia Internacional no Brasil, Maurício Santoro, proclama: “Há por aqui um déficit de justiça muito grande. O Brasil é um país com ótimas leis, mas que não são cumpridas”.
Ora, o velho Barão de Montesquieu já lidava com esse mote. Vivia dizendo: “Quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se são executadas as que há, pois há boas leis por toda parte”.
domingo, janeiro 26, 2014
Mercadante, ou José Dirceu 2.0 - ELIO GASPARI
O GLOBO - 26/01
A escolha do senador Aloizio Mercadante para a chefia da Casa Civil é um luminoso indicador do que é o governo da doutora Dilma e, sobretudo, do que virá a ser. Desde que o PT entrou no Planalto, esse cargo foi ocupado por dois comissários (José Dirceu e Antonio Palocci), dois quadros de perfil técnico (ela e Erenice Guerra), mais Gleisi Hoffmann, que teve um desempenho híbrido. Dos cinco, um está na Papuda e dois deixaram as funções no tapete manchado dos escândalos.
Mercadante será o terceiro comissário. Não tem as mesmas bases que Dirceu teve na burocracia partidária, nem as conexões de Palocci na plutocracia, apesar de buscá-las em cordiais jantares paulistas. Como Dirceu e Palocci, foi um dos fundadores do partido. Como os dois, teve sua carreira tisnada por uma operação que Lula classificou, sem se referir a ele, como obra de "aloprados". Na reta final de sua campanha pelo governo de São Paulo, em 2006, dois militantes petistas foram presos mercadejando dossiês. Um deles carregava R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo. O Supremo Tribunal Federal absolveu Mercadante de qualquer relação com o caso.
Nomeado para os ministérios da Ciência e Tecnologia e da Educação pela doutora Dilma, mostrou uma opção preferencial por projetos fantásticos, felizmente adormecidos. Por exemplo: um laboratório de pesquisas oceânicas em alto mar, ou a reciclagem de um plano delirante de Fernando Haddad, que pretendia comprar 600 mil tablets para alunos de escolas públicas, que Mercadante redirecionou para professores. (Em 2004 a Casa Civil de José Dirceu operava 36 grupos de trabalho e ele coordenava 16, inclusive um para tratar de hip hop.)
Como estrategista político, Mercadante fez parte do conclave de comissários que conceberam uma resposta do governo às manifestações de junho do ano passado. Propunha uma Constituinte exclusiva e um plebiscito para desenhar uma reforma política. Esse caos desarticulou-se em três dias. Havia ainda uma proposta de cinco pactos. Um deles previa a abertura de mais vagas nos cursos de medicina. Mercadante deixa o Ministério da Educação enquanto a doutora vai a Cuba negociar a vinda de mais 2.000 médicos e o Rio arrisca perder a maior faculdade (decadente) do país, com 2,4 mil alunos.
A grande virada do governo de Lula deu-se quando ele trocou José Dirceu por Dilma Rousseff, pondo ordem na administração e mantendo-a parcialmente ao largo do troca-troca. Agora deu-se o contrário, abrindo-se mais espaço para o projeto partidário. Foram muitos os enganos de José Dirceu. Talvez o maior deles tenha sido a ideia de que a Casa Civil poderia ser sua plataforma para chegar à Presidência da República.
COPA É COPA
A militância que jogou na rede o slogan "Não vai ter Copa" está enganada.
Copa, todo mundo quer que haja. O que não se quer é roubalheiras na construção de estádios, mordomias para a Fifa e faculdades de medicina fechando.
Durante a Copa de 1970, quando a ditadura alavancava sua popularidade com os êxitos da seleção, houve dias em que militantes da Aliança Libertadora Nacional festejavam os gols acompanhando o foguetório com tiros de Winchester disparados de seus "aparelhos".
TUCANATO TONTO
A admissão, por Fernando Henrique Cardoso, de que o mensalão mineiro "foi, eventualmente, desvio de recursos para campanha eleitoral" mostra que o tucanato ainda não sabe o que fazer com a história da sua caixa mineira e com ex-governador Eduardo Azeredo, que à época presidia o partido.
"Desvio", o caixa dois nunca é. Pelo contrário: é tiro certo.
Isso tudo num aviário que também está tonto com o caso das propinas da Alstom e seu cartel.
SINAL AMARELO
Diretores de uma grande empresa brasileira voltaram estarrecidos depois de um giro pela calota norte em busca de parceiros para uma de suas iniciativas. A América Latina pegou uma inhaca e, mesmo que se diferencie o Brasil da Venezuela, surgiu uma tendência para associá-lo à Argentina, cuja moeda dá sinais de colapso.
Como diria José Genoino, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, mas um pedaço do comissariado encanta-se com algumas medidas da senhora Kirchner.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e está em busca de alguém que o ajude a fazer um site para receber doações. Decidiu-se ao saber que Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT e integrante do diretório da Papuda, pretende coletar na rede os R$ 466 mil que deve à Viúva por causa da multa que lhe impôs o Supremo Tribunal Federal.
Eremildo jura que não tem um tostão, mas espera melhorar sua finanças com alguns projetos que tem em andamento. O cretino não sabe nada, só lembra. Ele recorda que em 2004 a fazenda da família Soares em Buriti Alegre (GO) dobrou de tamanho, chegando a 60 alqueires. A expansão teria um valor de mercado de R$ 800 mil, mas o valor declarado da transação foi de R$ 150 mil, pagos em dinheiro vivo, levados num saco de pano.
Nessa época Delúbio era conhecido pela qualidade de seus charutos.
CHEIRO DE QUEIMADO
O velho e bom BNDES empresta dinheiro a juros camaradas e a taxa de juros do Banco Central voltou a subir.
Com isso, reativou-se uma modalidade de dinheirinho fácil. O sujeito pega dinheiro no banco (mais do que precisa), põe uma parte na empresa e outra em títulos do governo. Caso faça as escolhas certas, com aquilo que empresta à Viúva, ganha, garantidos, 4% ao ano. Numa parte dessa ponta virtuosa teria entrado o componente das doações de campanha.
Houve um tempo em que o velho e boníssimo BNDES emprestava dinheiro em condições semelhantes e muito mais vantajosas. Quem foi para o papelório continua rico. Quem investiu na produção quebrou.
BARBOSA DEU UMA AULA IMPRÓPRIA
No dia 2 de janeiro o presidente do STF, Joaquim Barbosa, decidiu a prisão do mensaleiro João Paulo Cunha, não assinou o necessário mandado e saiu de férias pouco depois. Tratava-se de autografar um despacho relacionado com um processo que relatara e dos recursos que negara.
De Paris, ele condenou os colegas Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski, que o substituíram: "Eu, se estivesse como substituto, jamais hesitaria em tomar essa decisão".
Tudo bem, mas esteve, como titular, e não assinou.
Barbosa diz que a ministra Cármen Lúcia não discutiu com ele qualquer problema: "Ela não me telefonou. Não falou comigo".
Um curioso ouviu de Cármen Lúcia, numa conversa casual, anterior a essa declaração de Barbosa, que ela lhe telefonou no dia 3, falou e perguntou se o doutor deixaria alguma questão relevante sobre a mesa. Ele disse que não.
A escolha do senador Aloizio Mercadante para a chefia da Casa Civil é um luminoso indicador do que é o governo da doutora Dilma e, sobretudo, do que virá a ser. Desde que o PT entrou no Planalto, esse cargo foi ocupado por dois comissários (José Dirceu e Antonio Palocci), dois quadros de perfil técnico (ela e Erenice Guerra), mais Gleisi Hoffmann, que teve um desempenho híbrido. Dos cinco, um está na Papuda e dois deixaram as funções no tapete manchado dos escândalos.
Mercadante será o terceiro comissário. Não tem as mesmas bases que Dirceu teve na burocracia partidária, nem as conexões de Palocci na plutocracia, apesar de buscá-las em cordiais jantares paulistas. Como Dirceu e Palocci, foi um dos fundadores do partido. Como os dois, teve sua carreira tisnada por uma operação que Lula classificou, sem se referir a ele, como obra de "aloprados". Na reta final de sua campanha pelo governo de São Paulo, em 2006, dois militantes petistas foram presos mercadejando dossiês. Um deles carregava R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo. O Supremo Tribunal Federal absolveu Mercadante de qualquer relação com o caso.
Nomeado para os ministérios da Ciência e Tecnologia e da Educação pela doutora Dilma, mostrou uma opção preferencial por projetos fantásticos, felizmente adormecidos. Por exemplo: um laboratório de pesquisas oceânicas em alto mar, ou a reciclagem de um plano delirante de Fernando Haddad, que pretendia comprar 600 mil tablets para alunos de escolas públicas, que Mercadante redirecionou para professores. (Em 2004 a Casa Civil de José Dirceu operava 36 grupos de trabalho e ele coordenava 16, inclusive um para tratar de hip hop.)
Como estrategista político, Mercadante fez parte do conclave de comissários que conceberam uma resposta do governo às manifestações de junho do ano passado. Propunha uma Constituinte exclusiva e um plebiscito para desenhar uma reforma política. Esse caos desarticulou-se em três dias. Havia ainda uma proposta de cinco pactos. Um deles previa a abertura de mais vagas nos cursos de medicina. Mercadante deixa o Ministério da Educação enquanto a doutora vai a Cuba negociar a vinda de mais 2.000 médicos e o Rio arrisca perder a maior faculdade (decadente) do país, com 2,4 mil alunos.
A grande virada do governo de Lula deu-se quando ele trocou José Dirceu por Dilma Rousseff, pondo ordem na administração e mantendo-a parcialmente ao largo do troca-troca. Agora deu-se o contrário, abrindo-se mais espaço para o projeto partidário. Foram muitos os enganos de José Dirceu. Talvez o maior deles tenha sido a ideia de que a Casa Civil poderia ser sua plataforma para chegar à Presidência da República.
COPA É COPA
A militância que jogou na rede o slogan "Não vai ter Copa" está enganada.
Copa, todo mundo quer que haja. O que não se quer é roubalheiras na construção de estádios, mordomias para a Fifa e faculdades de medicina fechando.
Durante a Copa de 1970, quando a ditadura alavancava sua popularidade com os êxitos da seleção, houve dias em que militantes da Aliança Libertadora Nacional festejavam os gols acompanhando o foguetório com tiros de Winchester disparados de seus "aparelhos".
TUCANATO TONTO
A admissão, por Fernando Henrique Cardoso, de que o mensalão mineiro "foi, eventualmente, desvio de recursos para campanha eleitoral" mostra que o tucanato ainda não sabe o que fazer com a história da sua caixa mineira e com ex-governador Eduardo Azeredo, que à época presidia o partido.
"Desvio", o caixa dois nunca é. Pelo contrário: é tiro certo.
Isso tudo num aviário que também está tonto com o caso das propinas da Alstom e seu cartel.
SINAL AMARELO
Diretores de uma grande empresa brasileira voltaram estarrecidos depois de um giro pela calota norte em busca de parceiros para uma de suas iniciativas. A América Latina pegou uma inhaca e, mesmo que se diferencie o Brasil da Venezuela, surgiu uma tendência para associá-lo à Argentina, cuja moeda dá sinais de colapso.
Como diria José Genoino, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, mas um pedaço do comissariado encanta-se com algumas medidas da senhora Kirchner.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e está em busca de alguém que o ajude a fazer um site para receber doações. Decidiu-se ao saber que Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT e integrante do diretório da Papuda, pretende coletar na rede os R$ 466 mil que deve à Viúva por causa da multa que lhe impôs o Supremo Tribunal Federal.
Eremildo jura que não tem um tostão, mas espera melhorar sua finanças com alguns projetos que tem em andamento. O cretino não sabe nada, só lembra. Ele recorda que em 2004 a fazenda da família Soares em Buriti Alegre (GO) dobrou de tamanho, chegando a 60 alqueires. A expansão teria um valor de mercado de R$ 800 mil, mas o valor declarado da transação foi de R$ 150 mil, pagos em dinheiro vivo, levados num saco de pano.
Nessa época Delúbio era conhecido pela qualidade de seus charutos.
CHEIRO DE QUEIMADO
O velho e bom BNDES empresta dinheiro a juros camaradas e a taxa de juros do Banco Central voltou a subir.
Com isso, reativou-se uma modalidade de dinheirinho fácil. O sujeito pega dinheiro no banco (mais do que precisa), põe uma parte na empresa e outra em títulos do governo. Caso faça as escolhas certas, com aquilo que empresta à Viúva, ganha, garantidos, 4% ao ano. Numa parte dessa ponta virtuosa teria entrado o componente das doações de campanha.
Houve um tempo em que o velho e boníssimo BNDES emprestava dinheiro em condições semelhantes e muito mais vantajosas. Quem foi para o papelório continua rico. Quem investiu na produção quebrou.
BARBOSA DEU UMA AULA IMPRÓPRIA
No dia 2 de janeiro o presidente do STF, Joaquim Barbosa, decidiu a prisão do mensaleiro João Paulo Cunha, não assinou o necessário mandado e saiu de férias pouco depois. Tratava-se de autografar um despacho relacionado com um processo que relatara e dos recursos que negara.
De Paris, ele condenou os colegas Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski, que o substituíram: "Eu, se estivesse como substituto, jamais hesitaria em tomar essa decisão".
Tudo bem, mas esteve, como titular, e não assinou.
Barbosa diz que a ministra Cármen Lúcia não discutiu com ele qualquer problema: "Ela não me telefonou. Não falou comigo".
Um curioso ouviu de Cármen Lúcia, numa conversa casual, anterior a essa declaração de Barbosa, que ela lhe telefonou no dia 3, falou e perguntou se o doutor deixaria alguma questão relevante sobre a mesa. Ele disse que não.
Rede de intrigas - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 26/01
Pergunte-se a um aliado de Marina Silva que tenha os pés plantados no chão e a cabeça firme no pescoço se há alguma chance de a ex-senadora vir a ser a candidata do PSB a presidente, trocando de lugar com o governador Eduardo Campos com base nas pesquisas de opinião - onde ela aparece sempre à frente dele - e o que se ouve é o seguinte: trata-se de um sonho de uma noite de verão.
"Mal dormida", acrescenta o deputado federal Alfredo Sirkis (PSB-RJ), para resumir a ópera. Fosse para ser candidata, Marina teria se filiado a algum dos partidos que lhe ofereceram a vaga quando a Justiça Eleitoral recusou o registro da Rede Sustentabilidade a tempo de disputar a eleição deste ano.
De onde, a realidade é que o partido não existe de direito. E, como de fato seu único ativo é a figura de Marina Silva, há muito mais espuma que consistência nessa onda toda em torno das exigências que a Rede estaria fazendo ao PSB em relação às alianças eleitorais nos Estados, inclusive ameaçando não ocupar o lugar de vice na chapa de Campos.
Há de tudo um pouco na Rede: ecologistas, esquerdistas, evangélicos, correntes para todos os gostos com cada qual querendo dar seu palpite. Falar alto e em tom impositivo para também não capitular à condição de mero coadjuvante de segunda linha do PSB sem direito a voz, voto e veto.
Um exemplo foi a recente manifestação do grupo de Minas Gerais, prontamente desautorizado pela direção nacional, exigindo que o PSB se afastasse do PSDB no Estado, onde ambos mantêm uma relação longeva e na qual se embute uma espécie de acordo de cavalheiros entre mineiros e pernambucanos.
O senador Aécio Neves sabe que Pernambuco é território de Eduardo Campos, que tampouco tem a pretensão de disputar Minas com o tucano.
De exigência real o que existe mesmo é uma candidatura própria ao governo de São Paulo, com o consequente rompimento da aliança com o PSDB de Geraldo Alckmin. A avaliação é a de que o "conservadorismo" de Alckmin não faria bem ao projeto da "nova política" e que para Campos seria essencial correr em faixa exclusiva no maior colégio eleitoral do País, ao menos no primeiro turno.
De divergência objetiva que provocou obstáculos concretos houve a manifestação de Marina contra o apoio de Ronaldo Caiado, feita para marcar posição para o público interno. Resultou em avarias sérias com o setor do agronegócio.
No restante do País, inclusive no terceiro colégio eleitoral (Rio de Janeiro), o debate sobre as alianças ainda está no início, sem escolha de nomes, mas sob a égide de uma evidência: o PSB é um partido e a Rede, por ora, um símbolo.
Efeito retardado. Alguns tucanos não gostaram de ouvir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dizer no fim da semana passada que prefere que Aécio Neves vá para o segundo turno com Dilma Rousseff, mas, se a vaga na etapa final for de Eduardo Campos, tudo bem também.
FH disse exatamente a mesma coisa no dia 8 de novembro do ano passado, a declaração virou manchete e não houve reação alguma. Esquisito.
Faca nos dentes. Em atenção ao DEM - aliado tradicional e que já concordou em não fazer grandes exigências - o PSDB oficialmente fala em apoiar Paulo Souto para o governo da Bahia.
Extraoficialmente, porém, os tucanos torcem para que Souto não seja candidato porque prefeririam se aliar ao ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima. Pelo perfil combativo, pelo fato de ser um dissidente do PMDB e pela gana dele em derrotar o PT.
Pergunte-se a um aliado de Marina Silva que tenha os pés plantados no chão e a cabeça firme no pescoço se há alguma chance de a ex-senadora vir a ser a candidata do PSB a presidente, trocando de lugar com o governador Eduardo Campos com base nas pesquisas de opinião - onde ela aparece sempre à frente dele - e o que se ouve é o seguinte: trata-se de um sonho de uma noite de verão.
"Mal dormida", acrescenta o deputado federal Alfredo Sirkis (PSB-RJ), para resumir a ópera. Fosse para ser candidata, Marina teria se filiado a algum dos partidos que lhe ofereceram a vaga quando a Justiça Eleitoral recusou o registro da Rede Sustentabilidade a tempo de disputar a eleição deste ano.
De onde, a realidade é que o partido não existe de direito. E, como de fato seu único ativo é a figura de Marina Silva, há muito mais espuma que consistência nessa onda toda em torno das exigências que a Rede estaria fazendo ao PSB em relação às alianças eleitorais nos Estados, inclusive ameaçando não ocupar o lugar de vice na chapa de Campos.
Há de tudo um pouco na Rede: ecologistas, esquerdistas, evangélicos, correntes para todos os gostos com cada qual querendo dar seu palpite. Falar alto e em tom impositivo para também não capitular à condição de mero coadjuvante de segunda linha do PSB sem direito a voz, voto e veto.
Um exemplo foi a recente manifestação do grupo de Minas Gerais, prontamente desautorizado pela direção nacional, exigindo que o PSB se afastasse do PSDB no Estado, onde ambos mantêm uma relação longeva e na qual se embute uma espécie de acordo de cavalheiros entre mineiros e pernambucanos.
O senador Aécio Neves sabe que Pernambuco é território de Eduardo Campos, que tampouco tem a pretensão de disputar Minas com o tucano.
De exigência real o que existe mesmo é uma candidatura própria ao governo de São Paulo, com o consequente rompimento da aliança com o PSDB de Geraldo Alckmin. A avaliação é a de que o "conservadorismo" de Alckmin não faria bem ao projeto da "nova política" e que para Campos seria essencial correr em faixa exclusiva no maior colégio eleitoral do País, ao menos no primeiro turno.
De divergência objetiva que provocou obstáculos concretos houve a manifestação de Marina contra o apoio de Ronaldo Caiado, feita para marcar posição para o público interno. Resultou em avarias sérias com o setor do agronegócio.
No restante do País, inclusive no terceiro colégio eleitoral (Rio de Janeiro), o debate sobre as alianças ainda está no início, sem escolha de nomes, mas sob a égide de uma evidência: o PSB é um partido e a Rede, por ora, um símbolo.
Efeito retardado. Alguns tucanos não gostaram de ouvir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dizer no fim da semana passada que prefere que Aécio Neves vá para o segundo turno com Dilma Rousseff, mas, se a vaga na etapa final for de Eduardo Campos, tudo bem também.
FH disse exatamente a mesma coisa no dia 8 de novembro do ano passado, a declaração virou manchete e não houve reação alguma. Esquisito.
Faca nos dentes. Em atenção ao DEM - aliado tradicional e que já concordou em não fazer grandes exigências - o PSDB oficialmente fala em apoiar Paulo Souto para o governo da Bahia.
Extraoficialmente, porém, os tucanos torcem para que Souto não seja candidato porque prefeririam se aliar ao ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima. Pelo perfil combativo, pelo fato de ser um dissidente do PMDB e pela gana dele em derrotar o PT.
Preguiças do verão - BELMIRO VALVERDE JOBIM CASTOR
GAZETA DO POVO - PR - 26/01
O verão é irmão da preguiça, e um verão quente como este que estamos tendo provoca preguiças inimagináveis, dignas de um Dorival Caymmi, o legítimo e indisputado patrono da indolência tropical.
Aproveitei o fim de ano para fazer algumas coisas preguiçosas e prazerosas na leitura e no cinema. Nesses assuntos, também ando com preguiça de inovar: na área técnica, dos livros de administração, por exemplo, há pouquíssima coisa realmente nova e a grande maioria deles confirma a afirmação de Lawrence J. Peter (aquele do Princípio de Peter) de que não são mais do que a transferência de ossos de uma tumba para outra.
Assim, preferi reler Terra Vermelha, o épico paranaense de Domingos Pellegrini, e alguns romances curtos de Evelyn Waugh. O épico de Pellegrini (pois a história moderna paranaense tem todos os ingredientes épicos que lamentavelmente a maioria dos paranaenses desconhece, apesar da luta incessante de Chlorys Casagrande Justen) provoca melancolia por oferecer um contraste entre a história e os personagens da conquista do Norte e a atual aridez de gente, de ideias e de ideais do nosso panorama paranaense. Os textos de Evelyn Waugh são uma delícia de estilo, bons para causar inveja em escribas toscos como este que vos fala.
Do cinema, vi pela enésima vez Pulp Fiction, de Quentin Tarantino; O Vento Será Sua Herança, com Spencer Tracy; Charada, com Cary Grant e Audrey Hepburn; e os italianos daquela época brilhante do pós-guerra: Os Anônimos Habituais (I Soliti Ignoti), de Mario Monicelli, que é uma sátira ao Rififi Chez les Hommes de Jules Dassin e tão brilhante quanto o satirizado; Os Dois Marechais, com Tottò e Vittorio de Sica , em que Tottò aplica uma – uma não, várias humilhantes pernacchias num tenente alemão, uma cena inesquecível; e O Vigilante Rodoviário (Il Vigile), também de Monicelli, com Alberto Sordi, um primor de humor e de crônica sociológica à política italiana. Como sobremesa, Roma, de Fellini.
Pura preguiça, mas com toques de ócio criativo de Domenico de Masi. Porque para experimentar um ataque de preguiça pura, sem ócio criativo, basta ler as manchetes atuais. “Fifa critica lentidão das obras da Copa”, seguida de “Governo contesta Blatter e garante a Copa das Copas”, de “Blatter recua e faz elogios ao Brasil” e de “Ultimato da Fifa a respeito da Arena da Baixada”. Ou então: “Governo cria comitê gestor para gerenciar a crise dos presídios do Maranhão”, “Morre mais um preso em Pedrinhas”, “Roseana atribui crise ao enriquecimento do estado”, enquanto Sarney Filho se congratula com a irmã pelos grandes avanços no PIB maranhense.
A Argentina não falha em contribuir, confirmando a amarga e verdadeira afirmação de um de seus mais brilhantes filhos, o economista Raul Prebisch, fundador da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal): “A Argentina é o único país do mundo subdesenvolvido por decisão própria”. Cristina Kirchner – que, se vivesse no tempo em que os reis tinham qualificativos ao nome como Filipe o Belo, Pedro o Grande ou Elizabeth, a Rainha Virgem, seria conhecida como Cristina a Patética – reapareceu vestida de branco, abandonando o figurino preto que ela usou desde a morte do marido e que lembrava o uniforme do Zorro, e esta foi a única novidade na tragédia portenha.
Ah, que preguiça...
O verão é irmão da preguiça, e um verão quente como este que estamos tendo provoca preguiças inimagináveis, dignas de um Dorival Caymmi, o legítimo e indisputado patrono da indolência tropical.
Aproveitei o fim de ano para fazer algumas coisas preguiçosas e prazerosas na leitura e no cinema. Nesses assuntos, também ando com preguiça de inovar: na área técnica, dos livros de administração, por exemplo, há pouquíssima coisa realmente nova e a grande maioria deles confirma a afirmação de Lawrence J. Peter (aquele do Princípio de Peter) de que não são mais do que a transferência de ossos de uma tumba para outra.
Assim, preferi reler Terra Vermelha, o épico paranaense de Domingos Pellegrini, e alguns romances curtos de Evelyn Waugh. O épico de Pellegrini (pois a história moderna paranaense tem todos os ingredientes épicos que lamentavelmente a maioria dos paranaenses desconhece, apesar da luta incessante de Chlorys Casagrande Justen) provoca melancolia por oferecer um contraste entre a história e os personagens da conquista do Norte e a atual aridez de gente, de ideias e de ideais do nosso panorama paranaense. Os textos de Evelyn Waugh são uma delícia de estilo, bons para causar inveja em escribas toscos como este que vos fala.
Do cinema, vi pela enésima vez Pulp Fiction, de Quentin Tarantino; O Vento Será Sua Herança, com Spencer Tracy; Charada, com Cary Grant e Audrey Hepburn; e os italianos daquela época brilhante do pós-guerra: Os Anônimos Habituais (I Soliti Ignoti), de Mario Monicelli, que é uma sátira ao Rififi Chez les Hommes de Jules Dassin e tão brilhante quanto o satirizado; Os Dois Marechais, com Tottò e Vittorio de Sica , em que Tottò aplica uma – uma não, várias humilhantes pernacchias num tenente alemão, uma cena inesquecível; e O Vigilante Rodoviário (Il Vigile), também de Monicelli, com Alberto Sordi, um primor de humor e de crônica sociológica à política italiana. Como sobremesa, Roma, de Fellini.
Pura preguiça, mas com toques de ócio criativo de Domenico de Masi. Porque para experimentar um ataque de preguiça pura, sem ócio criativo, basta ler as manchetes atuais. “Fifa critica lentidão das obras da Copa”, seguida de “Governo contesta Blatter e garante a Copa das Copas”, de “Blatter recua e faz elogios ao Brasil” e de “Ultimato da Fifa a respeito da Arena da Baixada”. Ou então: “Governo cria comitê gestor para gerenciar a crise dos presídios do Maranhão”, “Morre mais um preso em Pedrinhas”, “Roseana atribui crise ao enriquecimento do estado”, enquanto Sarney Filho se congratula com a irmã pelos grandes avanços no PIB maranhense.
A Argentina não falha em contribuir, confirmando a amarga e verdadeira afirmação de um de seus mais brilhantes filhos, o economista Raul Prebisch, fundador da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal): “A Argentina é o único país do mundo subdesenvolvido por decisão própria”. Cristina Kirchner – que, se vivesse no tempo em que os reis tinham qualificativos ao nome como Filipe o Belo, Pedro o Grande ou Elizabeth, a Rainha Virgem, seria conhecida como Cristina a Patética – reapareceu vestida de branco, abandonando o figurino preto que ela usou desde a morte do marido e que lembrava o uniforme do Zorro, e esta foi a única novidade na tragédia portenha.
Ah, que preguiça...
"Este ano não vai ser igual àquele que passou" - LUIZ WERNECK VIANNA
O ESTADO DE S. PAULO - 26/01
Este ano não vai ser/ igual àquele que passou, cantava a antiga marchinha de carnaval. Não vai, é certo, mas ainda estão ressoando em surdina no novo ano as toadas que tomaram as ruas nas jornadas de junho de 2013. E, como um encontro marcado, não há quem não espere o seu retorno, embora em diverso diapasão, com os jogos da Copa do Mundo e o processo de uma sucessão presidencial competitiva. Foram fundas as marcas deixadas pelo ano que passou: além de suspender o cotidiano com as ondas de protesto das manifestações populares, trouxe à luz novos personagens e um sentimento inédito de urgência quanto a demandas, desatendidas, da população nos serviços públicos.
As manifestações, é verdade, cessaram, mas estão aí presentes os mesmos motivos, o difuso mal-estar e os protagonistas de ontem. A política e os partidos, malgrado um tumultuado esforço despendido na produção legislativa a fim de responder ao clamor por mudanças, passado o susto pelo descontrole das ruas mantêm distância da sociedade, o que mais se agrava por ser este um ano a ser dominado pelo calendário eleitoral. Pior, já se reitera o vezo de um malfadado presidencialismo de coalizão que, na forma como o praticamos, reduz o papel dos partidos a máquinas eleitorais aplicadas à reprodução da classe política que aí está, em detrimento do que deveria ser a busca de rumos para uma complexa sociedade como a nossa.
Não se aprendeu nada, não se esqueceu nada. Não à toa esse dito clássico tem sido invocado por tantos - a política está entregue, como sempre, a próceres empenhados no escambo do horário eleitoral, especialmente no interesse das cúpulas partidárias, conforme um deles declarou sem rebuços dias atrás em entrevista a um importante jornal. Mas desta vez não haverá surpresa, como no ano que passou. A Copa do Mundo tem data, assim como a têm a eleição presidencial, a dos governadores e a parlamentar, para as quais não se deve prever céu de brigadeiro, tal como já se entrevê.
Depois dos idos de junho muita água correu debaixo da ponte: tanto o Estado como o governo se preveniram, em particular em política de segurança e na tentativa de minorar as carências da população em termos dos serviços públicos, embora não faltem à cena gatilhos novos, como, entre outros, a questão dos presídios e a dos indígenas. E a sociedade teve tempo para investir na reflexão sobre aqueles surpreendentes acontecimentos, como testemunha a produção editorial dedicada a eles. Sobretudo não se mostrou insensível ao significado de que eram portadores, qual seja, o de que estamos no limiar do esgotamento de um longo ciclo e já maturam as condições para sua superação.
Vários sinais apontam para essa direção, o principal deles se faz indicar pela recusa em aceitar a reiteração do padrão de discricionariedade irrestrita na administração pública, de imemorial tradição entre nós, terreno em que o Ministério Público se vem mostrando à altura do papel constitucional que a Carta de 88 lhe destinou. O Poder Executivo, especialmente o municipal, em alguns casos significativos, vem acompanhando essa tendência, abrindo canais de participação para a população envolvida em temas do seu interesse. O julgamento no Supremo tribunal Federal (STF) da Ação Penal 470, com a condenação de importantes quadros do partido no governo, exerceu severa pedagogia quanto aos valores republicanos.
São mutações relevantes e em todas elas se registram ecos das manifestações espontâneas de junho que confirmaram, na tradução livre que imprimiram em suas faixas e seus galhardetes, o sentido visado por seus autores institucionais. De uma perspectiva mais larga, nem sempre perceptível a olho nu, essas são transformações que repercutem em cheio no modelo nacional-desenvolvimentista, latente na esquerda brasileira, desentranhado pelo governo do PT do baú da nossa História como resposta à crise financeira mundial de 2008, inclusive com elementos que recebeu da sua versão sob o governo Geisel, que depende visceralmente de um modelo político decisionista.
De passagem, registre-se que tal modelagem, na democracia da Carta de 88, vem sendo reproduzida pelas vias abertas pelo presidencialismo de coalizão à brasileira, ora ameaçado pela votação ainda em curso no STF de uma ação proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil com a finalidade de interditar o financiamento das competições eleitorais por parte de empresas. Sem a escora dessa peça, uma de suas vigas-mestras, o presidencialismo de coalizão somente poderia persistir em tomo de programas, o que supõe ampla deliberação e adoção de rumos compartilhados, minimamente consensuais. Aí, mais um indicador de exaustão do ciclo a que ainda estamos submetidos.
A sensibilidade a esse novo estado de coisas está em todos, até mesmo, se valem os sinais, na presidente Dilma Rousseff e em sua equipe econômica, de que é exemplo sua decisão de comparecer ao encontro de Da-vos. Os fortes abalos da crise de 2008, que ainda sentimos, se importaram em ruínas e perdas materiais, têm devolvido vigor, aqui e alhures, a muitas lições esquecidas, como as de Mareei Mauss, Karl Polanyi e Antonio Gramsci, tão diferentes entre si, mas convergentes nos seus propósitos de regular o mercado pelo direito, por padrões eticamente orientados e pela política democrática.
Mudanças no modo de interpretar o mundo são influentes e, no caso, um livro recente chama a atenção por sua energia e coragem intelectual. O Mistério e o Mundo - Paixão por Deus em Tempos de Descrença (Rio de Janeiro, Rocco, 2013), da teóloga católica Maria Clara Bingemer, é mais um desses sinais, pois, longe de um diagnóstico desalentado, o que ela apresenta aos seus leitores é um chamado, na estrita linguagem da sua confissão religiosa, para uma ação política transformadora. De verdade, 2014 é um ano novo.
As manifestações, é verdade, cessaram, mas estão aí presentes os mesmos motivos, o difuso mal-estar e os protagonistas de ontem. A política e os partidos, malgrado um tumultuado esforço despendido na produção legislativa a fim de responder ao clamor por mudanças, passado o susto pelo descontrole das ruas mantêm distância da sociedade, o que mais se agrava por ser este um ano a ser dominado pelo calendário eleitoral. Pior, já se reitera o vezo de um malfadado presidencialismo de coalizão que, na forma como o praticamos, reduz o papel dos partidos a máquinas eleitorais aplicadas à reprodução da classe política que aí está, em detrimento do que deveria ser a busca de rumos para uma complexa sociedade como a nossa.
Não se aprendeu nada, não se esqueceu nada. Não à toa esse dito clássico tem sido invocado por tantos - a política está entregue, como sempre, a próceres empenhados no escambo do horário eleitoral, especialmente no interesse das cúpulas partidárias, conforme um deles declarou sem rebuços dias atrás em entrevista a um importante jornal. Mas desta vez não haverá surpresa, como no ano que passou. A Copa do Mundo tem data, assim como a têm a eleição presidencial, a dos governadores e a parlamentar, para as quais não se deve prever céu de brigadeiro, tal como já se entrevê.
Depois dos idos de junho muita água correu debaixo da ponte: tanto o Estado como o governo se preveniram, em particular em política de segurança e na tentativa de minorar as carências da população em termos dos serviços públicos, embora não faltem à cena gatilhos novos, como, entre outros, a questão dos presídios e a dos indígenas. E a sociedade teve tempo para investir na reflexão sobre aqueles surpreendentes acontecimentos, como testemunha a produção editorial dedicada a eles. Sobretudo não se mostrou insensível ao significado de que eram portadores, qual seja, o de que estamos no limiar do esgotamento de um longo ciclo e já maturam as condições para sua superação.
Vários sinais apontam para essa direção, o principal deles se faz indicar pela recusa em aceitar a reiteração do padrão de discricionariedade irrestrita na administração pública, de imemorial tradição entre nós, terreno em que o Ministério Público se vem mostrando à altura do papel constitucional que a Carta de 88 lhe destinou. O Poder Executivo, especialmente o municipal, em alguns casos significativos, vem acompanhando essa tendência, abrindo canais de participação para a população envolvida em temas do seu interesse. O julgamento no Supremo tribunal Federal (STF) da Ação Penal 470, com a condenação de importantes quadros do partido no governo, exerceu severa pedagogia quanto aos valores republicanos.
São mutações relevantes e em todas elas se registram ecos das manifestações espontâneas de junho que confirmaram, na tradução livre que imprimiram em suas faixas e seus galhardetes, o sentido visado por seus autores institucionais. De uma perspectiva mais larga, nem sempre perceptível a olho nu, essas são transformações que repercutem em cheio no modelo nacional-desenvolvimentista, latente na esquerda brasileira, desentranhado pelo governo do PT do baú da nossa História como resposta à crise financeira mundial de 2008, inclusive com elementos que recebeu da sua versão sob o governo Geisel, que depende visceralmente de um modelo político decisionista.
De passagem, registre-se que tal modelagem, na democracia da Carta de 88, vem sendo reproduzida pelas vias abertas pelo presidencialismo de coalizão à brasileira, ora ameaçado pela votação ainda em curso no STF de uma ação proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil com a finalidade de interditar o financiamento das competições eleitorais por parte de empresas. Sem a escora dessa peça, uma de suas vigas-mestras, o presidencialismo de coalizão somente poderia persistir em tomo de programas, o que supõe ampla deliberação e adoção de rumos compartilhados, minimamente consensuais. Aí, mais um indicador de exaustão do ciclo a que ainda estamos submetidos.
A sensibilidade a esse novo estado de coisas está em todos, até mesmo, se valem os sinais, na presidente Dilma Rousseff e em sua equipe econômica, de que é exemplo sua decisão de comparecer ao encontro de Da-vos. Os fortes abalos da crise de 2008, que ainda sentimos, se importaram em ruínas e perdas materiais, têm devolvido vigor, aqui e alhures, a muitas lições esquecidas, como as de Mareei Mauss, Karl Polanyi e Antonio Gramsci, tão diferentes entre si, mas convergentes nos seus propósitos de regular o mercado pelo direito, por padrões eticamente orientados e pela política democrática.
Mudanças no modo de interpretar o mundo são influentes e, no caso, um livro recente chama a atenção por sua energia e coragem intelectual. O Mistério e o Mundo - Paixão por Deus em Tempos de Descrença (Rio de Janeiro, Rocco, 2013), da teóloga católica Maria Clara Bingemer, é mais um desses sinais, pois, longe de um diagnóstico desalentado, o que ela apresenta aos seus leitores é um chamado, na estrita linguagem da sua confissão religiosa, para uma ação política transformadora. De verdade, 2014 é um ano novo.
Bolsa Manhattan - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 26/01
BRASÍLIA - Do Brasil para a Suíça, da Suíça para Cuba e de Cuba de volta para casa, a presidente Dilma Rousseff tem um bom tempo de voo para discutir com o chanceler Luiz Figueiredo um assunto pouco diplomático e muito prático: os altíssimos custos de diplomatas e funcionários do Itamaraty no exterior.
Com as mortes e decapitações de presos no Maranhão, os escândalos políticos que se amontoam e a reforma ministerial, passou quase despercebida a informação da Folhade que o embaixador Guilherme Patriota aluga um apartamento em Nova York pelo correspondente a R$ 54 mil por mês.
Ele é irmão e segundo do embaixador na ONU, o ex-chanceler Antonio Patriota. E ambos moram na área mais nobre de Manhattan, um dos lugares mais luxuosos do mundo, ao lado de celebridades como Madonna, Al Pacino e Woody Allen.
Ok. Diplomatas têm de se apresentar bem e Nova York é cara. Mas embaixador brasileiro e até jovens secretários (deu no "NYT"!) precisam mesmo morar nos endereços mais exorbitantes? E é diferente na Europa? Na Ásia? E em pequenas embaixadas que não servem para nada?
A imprensa reclama de falta de transparência sobre custos --e luxos-- do Itamaraty. Mas a dificuldade não é só de jornalistas, é da Esplanada dos Ministérios também.
Se passou quase despercebida do grande público, a informação não passou tanto assim dentro do próprio governo. Até porque os exageros do Itamaraty e as perguntas acima estão no caderninho da equipe econômica desde o governo Lula.
Na época, o Planejamento fez um grande levantamento de salários e vantagens de funcionários das diferentes pastas, para efeitos de planos de carreira. Adivinha de onde veio a maior resistência? Do Itamaraty. O pretexto foi que os valores variam muito de um lugar para outro...
Explica, mas não justifica, pois os valores, somados, caem numa mesma conta: a minha, a sua, a nossa.
BRASÍLIA - Do Brasil para a Suíça, da Suíça para Cuba e de Cuba de volta para casa, a presidente Dilma Rousseff tem um bom tempo de voo para discutir com o chanceler Luiz Figueiredo um assunto pouco diplomático e muito prático: os altíssimos custos de diplomatas e funcionários do Itamaraty no exterior.
Com as mortes e decapitações de presos no Maranhão, os escândalos políticos que se amontoam e a reforma ministerial, passou quase despercebida a informação da Folhade que o embaixador Guilherme Patriota aluga um apartamento em Nova York pelo correspondente a R$ 54 mil por mês.
Ele é irmão e segundo do embaixador na ONU, o ex-chanceler Antonio Patriota. E ambos moram na área mais nobre de Manhattan, um dos lugares mais luxuosos do mundo, ao lado de celebridades como Madonna, Al Pacino e Woody Allen.
Ok. Diplomatas têm de se apresentar bem e Nova York é cara. Mas embaixador brasileiro e até jovens secretários (deu no "NYT"!) precisam mesmo morar nos endereços mais exorbitantes? E é diferente na Europa? Na Ásia? E em pequenas embaixadas que não servem para nada?
A imprensa reclama de falta de transparência sobre custos --e luxos-- do Itamaraty. Mas a dificuldade não é só de jornalistas, é da Esplanada dos Ministérios também.
Se passou quase despercebida do grande público, a informação não passou tanto assim dentro do próprio governo. Até porque os exageros do Itamaraty e as perguntas acima estão no caderninho da equipe econômica desde o governo Lula.
Na época, o Planejamento fez um grande levantamento de salários e vantagens de funcionários das diferentes pastas, para efeitos de planos de carreira. Adivinha de onde veio a maior resistência? Do Itamaraty. O pretexto foi que os valores variam muito de um lugar para outro...
Explica, mas não justifica, pois os valores, somados, caem numa mesma conta: a minha, a sua, a nossa.
O seguro judicial e os infringentes - SACHA CALMON
CORREIO BRAZILIENSE - 26/01
O novo Código de Processo Civil emendado está quase pronto. Resta votar destaques. Três deles merecem comentários. Primeiro, a suspensão dos prazos processuais no fim do ano e início do entrante, garantindo sossego e descanso aos advogados. Segundo, a equiparação da fiança securitária e do seguro de garantia judicial a dinheiro de contado. Essa medida, de largo alcance, sofistica o mercado de seguros, diminuindo os prêmios de risco e, além disso, livra o caixa das empresas da espoliação absurda que a penhora on-line vinha fazendo nos seus recursos financeiros nos processos de execução patrocinados pelos fiscos federais, estaduais e municipais.
O Convênio Bacen Jud proporciona aos juízes, a pedido da Fazenda Exequente, invadir contas bancárias particulares e confiscar os recursos depositados para deixá-los "penhorados", com o agravante de os governos passarem a mão imediatamente nos recursos, a custo zero (funding), enquanto os processos judiciais se delongam anos a fio. Com a fiança e o seguro valendo dinheiro vivo, o Código de Processo Civil dá por garantido o juízo, condição indispensável para os contribuintes embargarem a execução, oferecendo resistência às pretensões fazendárias, frequentemente ilegais e descabidas, sem sacrificar seu capital de giro ou recorrer a empréstimos para poder litigar com o príncipe (o Estado), dotado de todos os privilégios.
Vem em boa hora a decisão da Câmara dos Deputados. O Banco Central tem agora o HAL (sistema sofisticado de supercomputadores), que segue, em tempo real, milhões de transações bancárias, sem similar no mundo, exceto na Alemanha, numa supervisão total dos depósitos e do sistema de pagamentos brasileiro. Esses dados são repassados ao Judiciário e à Receita Federal. Feito um depósito ou transferência, em 20 minutos fica-se sabendo, para as providências cabíveis e incabíveis.
Finalmente, pretende-se substituir os embargos infringentes nas decisões dos tribunais "por maioria", por novo julgamento, com outros magistrados. Isso é um disparate. O nosso sistema recursal é bom, cumpre apenas evitar os abusos. Vamos lá. É garantia do cidadão que a decisão de um juiz seja revista (apelação) por três sobrejuízes, ao menos, num tribunal (2º grau) que reexaminará os fatos, as provas, o direito e as razões de decidir do juiz monocrático, confirmando ou reformando a sentença.
Afora as decisões interlocutórias a desafiarem agravo (a que não aceita seguro judicial, por exemplo, como sucedâneo do dinheiro vivo), há necessariamente embargos declaratórios de decisões de mérito, seja de juiz singular, seja de juízo colegiado (turma, câmara, seção ou plenário) para esclarecer, ou mesmo refazer (nesse caso, com efeitos infringentes do julgado) obscuridade, omissão, contradição ou ofensa ao direito (pré-questionamento). Trata-se de economia processual. Os juízes, menos na apelação, podem se retratar, evitando recursos.
Ao meu sentir - não sou processualista -, os infringentes, propriamente ditos, somente deviam ser cabíveis de um órgão tribunalício fracionário para o tribunal pleno ou composição quase-plena (câmaras cíveis reunidas, por exemplo). Noutras palavras, quando uma turma, câmara ou sessão decide de modo contrário de outra, ou contra a jurisprudência mansa e pacífica dos tribunais, caberiam embargos infringentes ou de uniformização da jurisprudência, a bem da segurança jurídica. Aqueles embargos arcaicos do regimento do Supremo são excrescentes, não se justificam. (Os mesmos juízes vencidos e vencedores votam de novo o que já votaram, sem falar no expediente da substituição, que é absurdo, pois não foram os substitutos os juízes naturais do processo).
Pois bem, é isso que se quer agora ampliar. É barafunda processual, especialmente no Superior Tribunal de Justiça, onde, todo semestre, ministros são mudados. Para o governo é uma "mão na roda" mudar a composição dos tribunais superiores, à deriva do bom direito, complicando em causa própria o sistema recursal. O mesmo se daria nos tribunais de justiça estaduais, relativamente aos governadores. Essa não! Seria retrocesso inadmissível. Basta investigar a origem do destaque. Encontraríamos a mão do príncipe.
A separação dos poderes implica independência política, formal e material dos juízes relativamente ao Executivo.
Contra a morosidade - mazela irritante -, é desnecessário violentar o sistema recursal, bastando aperfeiçoá-lo. Necessário, isto sim, é evitar que as Pessoas Jurídicas de Direito Público (União, estados, municípios, suas autarquias e fundações) recorram ao Judiciário por direitos que não têm ou deveres que descumprem, além de recorrerem mesmo contra a jurisprudência assente. O Executivo, no Brasil, legisla em lugar do parlamento e usa o Judiciário para não cumprir seus deveres. Um desastre institucional.
Efeito colateral - JOÃO BOSCO RABELLO
O Estado de S.Paulo - 26/01
Não é de todo ruim para o PSB o conflito interno com a Rede, que ganha visibilidade no estágio atual de construção das alianças regionais para as eleições deste ano.
Dissidente à esquerda, que troca a parceria com o PT pelo PSDB, Eduardo Campos se beneficia da crítica de Marina Silva aos tucanos, que sublinha o perfil socialista de sua candidatura, distinguindo-a da imagem neoliberal aplicada ao aliado natural do primeiro turno.
Não obstante a manipulação política que localiza o PSDB à direita, vitoriosa pela ausência de um partido conservador autêntico e atuante, ela se estabeleceu como verdade ideológica no imaginário do eleitor.
Nesse contexto, torna-se importante situar a aliança PSDB/PSB como uma união de forças oposicionistas empenhadas em convencer seus eleitorados de seu acerto estratégico.
Se limitados ao plano retórico, os excessos de Marina Silva, materializados nos vetos públicos a alianças estaduais, compensam os desgastes e se inserem no legítimo exercício político de preservar a individualidade de atores distintos unidos pelo objetivo comum de derrotar o mesmo adversário.
Marina, assim, vocaliza o que convém a Campos calar.
Papel comum também a correligionários de Aécio, quando este precisa reagir publicamente, permitindo vislumbrar na forma cavalheiresca, conveniente agora, os embates acirrados que os separariam na remotíssima hipótese de irem ao segundo turno. A solidez da parceria poderá ser avaliada na segunda quinzena de março quando o mapa das alianças de PSDB e PSB ganhará mais definição.
Essa leitura pode tornar precipitadas previsões sobre o desfecho de casos mais rumorosos como o suscitado pelo veto de Marina Silva à aliança com o PSDB em São Paulo.
Território caro a Marina pela expressividade na luta em defesa do meio ambiente, o Estado é, porém, mais estratégico eleitoralmente ao PSB, que administra o ímpeto da ex-senadora em favor da preservação de uma aliança já consolidada com os tucanos.
O partido informa dispor de uma pesquisa em que 46% dos eleitores de Marina, ou seja, 20% das intenções de voto no Estado, apoiam o governador Geraldo Alckmin, e outros 30% que defendem candidatura própria não a identificam em um candidato da Rede, mas do PSB.
São dados consistentes a desafiar o limite da concessão de Marina ao pragmatismo político, em favor do objetivo maior que motivou a aliança da Rede com o PSB. Desconsiderar a pesquisa, pode equivaler a avalizar o diagnóstico de tucanos, entre os quais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de que a Rede faz do PSB seu cavalo de Troia.
Não é de todo ruim para o PSB o conflito interno com a Rede, que ganha visibilidade no estágio atual de construção das alianças regionais para as eleições deste ano.
Dissidente à esquerda, que troca a parceria com o PT pelo PSDB, Eduardo Campos se beneficia da crítica de Marina Silva aos tucanos, que sublinha o perfil socialista de sua candidatura, distinguindo-a da imagem neoliberal aplicada ao aliado natural do primeiro turno.
Não obstante a manipulação política que localiza o PSDB à direita, vitoriosa pela ausência de um partido conservador autêntico e atuante, ela se estabeleceu como verdade ideológica no imaginário do eleitor.
Nesse contexto, torna-se importante situar a aliança PSDB/PSB como uma união de forças oposicionistas empenhadas em convencer seus eleitorados de seu acerto estratégico.
Se limitados ao plano retórico, os excessos de Marina Silva, materializados nos vetos públicos a alianças estaduais, compensam os desgastes e se inserem no legítimo exercício político de preservar a individualidade de atores distintos unidos pelo objetivo comum de derrotar o mesmo adversário.
Marina, assim, vocaliza o que convém a Campos calar.
Papel comum também a correligionários de Aécio, quando este precisa reagir publicamente, permitindo vislumbrar na forma cavalheiresca, conveniente agora, os embates acirrados que os separariam na remotíssima hipótese de irem ao segundo turno. A solidez da parceria poderá ser avaliada na segunda quinzena de março quando o mapa das alianças de PSDB e PSB ganhará mais definição.
Essa leitura pode tornar precipitadas previsões sobre o desfecho de casos mais rumorosos como o suscitado pelo veto de Marina Silva à aliança com o PSDB em São Paulo.
Território caro a Marina pela expressividade na luta em defesa do meio ambiente, o Estado é, porém, mais estratégico eleitoralmente ao PSB, que administra o ímpeto da ex-senadora em favor da preservação de uma aliança já consolidada com os tucanos.
O partido informa dispor de uma pesquisa em que 46% dos eleitores de Marina, ou seja, 20% das intenções de voto no Estado, apoiam o governador Geraldo Alckmin, e outros 30% que defendem candidatura própria não a identificam em um candidato da Rede, mas do PSB.
São dados consistentes a desafiar o limite da concessão de Marina ao pragmatismo político, em favor do objetivo maior que motivou a aliança da Rede com o PSB. Desconsiderar a pesquisa, pode equivaler a avalizar o diagnóstico de tucanos, entre os quais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de que a Rede faz do PSB seu cavalo de Troia.
As Dilmas - JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SP - 26/01
A que foi a Davos não é a que chegou à Presidência. Não é o oposto, mas é bastante diferente
Ir à Suíça para dizer como está o Brasil de hoje, isso não faz sentido. Dilma Rousseff choveu, não no molhado, mas em uma inundação digna de São Paulo. Os endinheirados a quem a presidente pediu investimentos ocupam-se de ganhar dinheiro pelo mundo afora, o que lhes exige, e aos seus assessores, estar bem informados para detectar oportunidades. No convescote dos cifrões, mal denominado Fórum Econômico Mundial, por certo muitos sabiam sobre o Brasil o que nem no Brasil se sabe.
A Dilma Rousseff que foi a Davos não é a Dilma Rousseff que chegou à Presidência. Não é o oposto, mas é bastante diferente. Se nos princípios ou nos fins, eis a questão. Fernando Henrique e Lula, mal ouviram falar em Davos e seu pessoal, começaram a preparar as malas. A ida de Dilma, só agora no ano final do mandato, reflete dupla concessão. Uma, na concepção de políticas governamentais que a levavam a desconsiderar Davos, convicta de um Brasil capaz de cuidar de si mesmo. Outra, no seu diagnóstico do momento vivido pelo país e, em particular, pelo governo.
O capital estrangeiro -os cifrões de Davos- não precisa ser buscado. Grandes indústrias automobilísticas não param de vir para cá, e as já instaladas não cessam novos investimentos para crescer. Indústria e comércio de alimentos, agronegócio, aquisições fundiárias, exploração e indústria petrolíferas, as concessões/privatizações, são muitos os setores que têm merecido a procura espontânea do capital estrangeiro. O problema é que grande parte desse investimento não se destina à criação de novas atividades econômicas, ou seja, ao crescimento econômico, mas a assumir o controle acionário ou a propriedade de empreendimentos já ativos. É a chamada desnacionalização.
O capital graúdo não é considerado, em geral, o grande disseminador do crescimento econômico. Este vem pela multiplicação dos empreendimentos, mesmo os pequenos, e pelo reinvestimento do lucro, para ampliação do negócio. O dinheiro para empreender, porém, é muito caro no Brasil, com a tradição crescentemente escorchante praticada pelo sistema bancário. Além das exigências de garantias, dos prazos insuficientes e outras dificuldades.
E o reinvestimento na indústria nacional já consolidada, ah, esse tem um adversário terrível: o próprio empresário. Como regra natural, lerdo, retardatário, incapaz de inovação, pedinte permanente de benesses do governo, esse empresário trata de investir o lucro é em si mesmo: moradia nova, carro de luxo, e todo o necessário ao exibicionismo de mais um novo rico. O empresário brasileiro é, em geral, um atrasado -como pessoa e como dirigente de empresa.
Mudar essa realidade interna era um objetivo implícito nas palavras e na ação da Dilma Rousseff que assumiu a Presidência. Bem, quanto à atual, ceder aos interesses de aumento dos juros já era estar no caminho para Davos.
A que foi a Davos não é a que chegou à Presidência. Não é o oposto, mas é bastante diferente
Ir à Suíça para dizer como está o Brasil de hoje, isso não faz sentido. Dilma Rousseff choveu, não no molhado, mas em uma inundação digna de São Paulo. Os endinheirados a quem a presidente pediu investimentos ocupam-se de ganhar dinheiro pelo mundo afora, o que lhes exige, e aos seus assessores, estar bem informados para detectar oportunidades. No convescote dos cifrões, mal denominado Fórum Econômico Mundial, por certo muitos sabiam sobre o Brasil o que nem no Brasil se sabe.
A Dilma Rousseff que foi a Davos não é a Dilma Rousseff que chegou à Presidência. Não é o oposto, mas é bastante diferente. Se nos princípios ou nos fins, eis a questão. Fernando Henrique e Lula, mal ouviram falar em Davos e seu pessoal, começaram a preparar as malas. A ida de Dilma, só agora no ano final do mandato, reflete dupla concessão. Uma, na concepção de políticas governamentais que a levavam a desconsiderar Davos, convicta de um Brasil capaz de cuidar de si mesmo. Outra, no seu diagnóstico do momento vivido pelo país e, em particular, pelo governo.
O capital estrangeiro -os cifrões de Davos- não precisa ser buscado. Grandes indústrias automobilísticas não param de vir para cá, e as já instaladas não cessam novos investimentos para crescer. Indústria e comércio de alimentos, agronegócio, aquisições fundiárias, exploração e indústria petrolíferas, as concessões/privatizações, são muitos os setores que têm merecido a procura espontânea do capital estrangeiro. O problema é que grande parte desse investimento não se destina à criação de novas atividades econômicas, ou seja, ao crescimento econômico, mas a assumir o controle acionário ou a propriedade de empreendimentos já ativos. É a chamada desnacionalização.
O capital graúdo não é considerado, em geral, o grande disseminador do crescimento econômico. Este vem pela multiplicação dos empreendimentos, mesmo os pequenos, e pelo reinvestimento do lucro, para ampliação do negócio. O dinheiro para empreender, porém, é muito caro no Brasil, com a tradição crescentemente escorchante praticada pelo sistema bancário. Além das exigências de garantias, dos prazos insuficientes e outras dificuldades.
E o reinvestimento na indústria nacional já consolidada, ah, esse tem um adversário terrível: o próprio empresário. Como regra natural, lerdo, retardatário, incapaz de inovação, pedinte permanente de benesses do governo, esse empresário trata de investir o lucro é em si mesmo: moradia nova, carro de luxo, e todo o necessário ao exibicionismo de mais um novo rico. O empresário brasileiro é, em geral, um atrasado -como pessoa e como dirigente de empresa.
Mudar essa realidade interna era um objetivo implícito nas palavras e na ação da Dilma Rousseff que assumiu a Presidência. Bem, quanto à atual, ceder aos interesses de aumento dos juros já era estar no caminho para Davos.
O Brasil fora do jogo comercial - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S. PAULO - 26/01
As regras do jogo para os novos acordos internacionais de comércio estão sendo criadas sem a participação do Brasil - e podem - ser contrárias às posições defendidas tradicionalmente pela diplomacia brasileira. Falando em Davos, no Fórum Econômico Mundial, o chefe dos negociadores americanos, Michael Fro-man, deixou clara a intenção de valorizar cláusulas sociais e ambientais nos acordos em discussão neste momento. Ele se referia aos projetos em negociação com a União Europeia, a Parceria Transatlântica, e com países do Pacífico, a Parceria Transpacífica. A ideia é estabelecer novos padrões, mais severos, para os futuros tratados de livre-comér-cio. "Vamos elevar a barra", disse Froman, usando uma imagem esportiva. A mensagem é inconfundível: a ideia é mudar as condições de competição e tornar o salto mais difícil.
O governo brasileiro se opôs à inclusão de cláusulas sociais e ambientais na Rodada Doha de negociações multilaterais, lançada no fim de 2001. Houve amplo apoio a essa posição e os governos do mundo rico, principais defensores daquelas cláusulas, tiveram de recuar. Mas a rodada empacou e nada importante ocorreu a partir de 2008, apesar das várias tentativas, lideradas pela OMC, de reativar as conversações.
Dezenas de governos continuaram, no entanto, construindo acordos bilaterais e inter-regionais, com isso fragmentando o sistema internacional de regras. Países grandes e pequenos participaram dessas discussões, mas o Brasil permaneceu à margem, por uma decisão política - de fato, ideológica - de dar prioridade à integração com os países do "Sul", uma entidade geopolítica imaginária, moldada segundo os padrões do terceiro-mundismo.
A diplomacia econômica brasileira funcionou basicamente com duas referências nos últimos dez anos. Um dos focos foi o multilateralismo, representado, na prática, pela Rodada Doha. O outro foi a decisão de buscar acordos parciais apenas com países em desenvolvimento e de aprofundar os laços com o "Sul" idealizado.
Esses acordos foram negociados em conjunto com o Mercosul, dominado pelo terceiro-mundismo brasileiro e pelo protecionismo argentino. Essa estratégia também refletiu, em parte, a fantasia do presidente Lula de liderar a região.
Essa liderança ficou na retórica. O sepultamento do projeto da Área de Livre-Comércio das Américas, promovido pelos governos brasileiro e argentino, criou um descompasso entre o Mercosul e os países com ambições mais amplas de integração internacional. Os poucos acordos concretizados pelo Mercosul foram negociados com mercados pouco importantes. Os sul-americanos mais empenhados na inserção internacional buscaram acordos com os EUA e outros países avançados.
Esses países conseguiram boas condições de acesso aos mercados mais desenvolvidos. Ao mesmo tempo, economias altamente competitivas, como China e Coreia, ampliavam sua participação nesses mercados. O Brasil foi um grande perdedor. De fato, perdeu também na América Latina, onde concorrentes de outras regiões conquistaram espaço nos últimos dez anos.
A Aliança do Pacífico, formada por Chile, Peru, Colômbia e México, tornou mais evidente o distanciamento entre as políticas comerciais do Brasil e das economias mais abertas da América Latina. Nesse acordo, o México faz uma ponte entre a América do Norte e a do Sul e assume, naturalmente, uma posição de liderança jamais conseguida pelo Brasil.
O novo governo mexicano mostra boa percepção dessas diferenças. A Aliança do Pacífico, disse o presidente mexicano, Enrique Pena Nieto, é a sua plataforma para acordos com países da América do Sul.
Fora das grandes negociações, o Brasil tem de assistir de longe, sem possibilidade de interferência, à formação de novos critérios para acordos comerciais. Quando a Rodada Doha novamente deslanchar - se deslanchar -, esses novos padrões poderão estar muito mais difundidos do que estiveram até hoje. O terceiro-mundismo requentado poderá ficar ainda mais custoso do que foi até agora.
O governo brasileiro se opôs à inclusão de cláusulas sociais e ambientais na Rodada Doha de negociações multilaterais, lançada no fim de 2001. Houve amplo apoio a essa posição e os governos do mundo rico, principais defensores daquelas cláusulas, tiveram de recuar. Mas a rodada empacou e nada importante ocorreu a partir de 2008, apesar das várias tentativas, lideradas pela OMC, de reativar as conversações.
Dezenas de governos continuaram, no entanto, construindo acordos bilaterais e inter-regionais, com isso fragmentando o sistema internacional de regras. Países grandes e pequenos participaram dessas discussões, mas o Brasil permaneceu à margem, por uma decisão política - de fato, ideológica - de dar prioridade à integração com os países do "Sul", uma entidade geopolítica imaginária, moldada segundo os padrões do terceiro-mundismo.
A diplomacia econômica brasileira funcionou basicamente com duas referências nos últimos dez anos. Um dos focos foi o multilateralismo, representado, na prática, pela Rodada Doha. O outro foi a decisão de buscar acordos parciais apenas com países em desenvolvimento e de aprofundar os laços com o "Sul" idealizado.
Esses acordos foram negociados em conjunto com o Mercosul, dominado pelo terceiro-mundismo brasileiro e pelo protecionismo argentino. Essa estratégia também refletiu, em parte, a fantasia do presidente Lula de liderar a região.
Essa liderança ficou na retórica. O sepultamento do projeto da Área de Livre-Comércio das Américas, promovido pelos governos brasileiro e argentino, criou um descompasso entre o Mercosul e os países com ambições mais amplas de integração internacional. Os poucos acordos concretizados pelo Mercosul foram negociados com mercados pouco importantes. Os sul-americanos mais empenhados na inserção internacional buscaram acordos com os EUA e outros países avançados.
Esses países conseguiram boas condições de acesso aos mercados mais desenvolvidos. Ao mesmo tempo, economias altamente competitivas, como China e Coreia, ampliavam sua participação nesses mercados. O Brasil foi um grande perdedor. De fato, perdeu também na América Latina, onde concorrentes de outras regiões conquistaram espaço nos últimos dez anos.
A Aliança do Pacífico, formada por Chile, Peru, Colômbia e México, tornou mais evidente o distanciamento entre as políticas comerciais do Brasil e das economias mais abertas da América Latina. Nesse acordo, o México faz uma ponte entre a América do Norte e a do Sul e assume, naturalmente, uma posição de liderança jamais conseguida pelo Brasil.
O novo governo mexicano mostra boa percepção dessas diferenças. A Aliança do Pacífico, disse o presidente mexicano, Enrique Pena Nieto, é a sua plataforma para acordos com países da América do Sul.
Fora das grandes negociações, o Brasil tem de assistir de longe, sem possibilidade de interferência, à formação de novos critérios para acordos comerciais. Quando a Rodada Doha novamente deslanchar - se deslanchar -, esses novos padrões poderão estar muito mais difundidos do que estiveram até hoje. O terceiro-mundismo requentado poderá ficar ainda mais custoso do que foi até agora.
Exemplo argentino - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 26/01
A presidente Dilma Rousseff ganhou dos hermanos argentinos mais um motivo para levar a sério tudo o que ela e a equipe econômica prometeram ao mundo nos últimos três dias durante as reuniões do Fórum Econômico Mundial em Davos. Tarefas como o controle severo do gasto público para manter o paradigma dos superavits primários, o combate prioritário e sistemático à inflação, a manutenção de política cambial flutuante e transparente, além, é claro, do respeito absoluto a contratos. A isso, a presidente realçou a recente mudança do governo em relação à iniciativa privada, que passou a ser vista como parceira fundamental para deslanchar o investimento, ainda que isso signifique tolerar o pecado - antes grave, agora, apenas venial - da obtenção do lucro.
Era tudo o que os investidores internacionais queriam ouvir antes que desistissem de vez daquela economia promissora, que estava deixando de encantar o mundo. Foi-lhes garantido que o Brasil não pretende mais se desviar dos paradigmas que, desde a implantação do Plano Real, a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal e a adoção de política econômica com menor grau de intervenção do Estado - exceto quanto à regulação do sistema financeiro -, levaram o país a inédito reconhecimento como destino confiável de capitais de risco.
Enquanto o Brasil aproveitava a oportunidade para resgatar o crédito e falava ao mundo do capital sob o frio intenso do inverno suíço, seu maior parceiro no Mercosul via sua moeda derreter sob o forte calor da desconfiança da própria população. Apenas na tarde de quinta-feira, o peso despencou 12% em relação ao dólar no câmbio oficial, no qual, aliás, ninguém na bela Calle Florida acredita mais. A perda de reservas cambiais, que baixaram de US$ 52 bilhões para apenas US$ 29 bilhões, entre 2011 e 2013, refletem a dramática fragilidade da economia argentina.
Se hoje a maioria dos brasileiros com menos de 20 anos nunca ouviu falar no Clube de Paris - entidade que congrega 19 países com títulos soberanos a receber e com o qual o Brasil negociou e honrou os compromissos nos anos 1990 -, os argentinos são humilhados com o carimbo de maus pagadores, com conta pendurada de US$ 10 bilhões. A intervenção estatal nos mercados, inclusive com anacrônicos tabelamentos de preços, o atropelamento de contratos, o controle artificial do câmbio e o erguimento de barreiras irregulares (tarifárias e burocráticas) para dificultar importações, em vez de encarar a perda de competitividade, compõem o roteiro que, desde o calote da dívida externa, vem conduzindo a Argentina ao desastre.
São maus exemplos a serem evitados pelo governo brasileiro, assim como houve o bom senso de não dar ouvidos a quem defendia o não pagamento da dívida, como se o calote fosse patriótico e não produzisse nenhuma consequência. Aos hermanos, diferentemente do que fazemos quanto ao futebol, resta-nos desejar que se livrem logo do populismo que os atrasa. A Argentina próspera e competitiva é o parceiro que nos interessa e pode nos ajudar nas negociações com os grandes blocos econômicos.
A incrível máquina de arrecadar impostos - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 26/01
Mesmo com a economia em marcha lenta e desonerações, a coleta de impostos bate recorde e cria um paradoxo. Mas só aparente, porque há explicações
O Brasil costuma produzir paradoxos em vários campos, a economia um deles. No ano passado, por exemplo, quando o PIB “andou de lado”, não tendo alcançado um resultado muito além de um crescimento acima dos 2%, a arrecadação federal bateu recordes, com um volume coletado de R$ 1,13 trilhão, um aumento real, descontada a inflação, de 4%, bem acima da evolução projetada da economia.
Em dezembro, a Receita colocou nos cofres do Tesouro R$ 118,3 bilhões, 8,2% a mais que em dezembro do ano anterior, o maior recolhimento de impostos federais da história, nesse mês. Para um analista cartesiano, um assombro. Para não dizer, incoerência. Adicione-se à aparente esquisitice que mesmo não se considerando algumas das receitas extraordinárias de que o governo se beneficiou para trombetear que atingira a meta do superávit primário de 2013 (R$ 75 bilhões), a arrecadação foi animadora para o Planalto e, pior, até mesmo a carga tributária, já nas alturas, subiu — o que parecia impossível.
O economista José Roberto Afonso, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, calcula que ela atingiu os píncaros de 37,5% do PIB. E isso com toda a batelada de desonerações que têm sido concedidas.
Mas, pelo menos em economia, as incongruências têm explicações. E, no caso da avidez pantagruélica com que o Estado brasileiro avança sobre as rendas da sociedade — é uma das maiores cargas de impostos do planeta —, há várias.
Uma delas, segundo José Roberto Afonso, é mesmo o grande e complexo aparato de legislação tributária que faz com que, por exemplo, mesmo quando há desoneração na venda de um produto, a arrecadação sobre ele aumente. Não é mágica. Há tantos impostos incidindo sobre impostos, e cobranças em cascata, que se torna impossível o ressarcimento total do que foi taxado em toda a cadeia produtiva. É o caso da cesta básica, isenta de impostos, mas só no papel. Por esta razão.
Além disso, o aumento de importações tem sido um fator positivo para o Erário. O imposto em portos, aeroportos, fronteiras é mais fácil de cobrar e fiscalizar. E a Receita taxa só uma vez, na entrada do produto, ao contrário de se ele for de origem interna, em que há toda uma cadeia produtiva a fiscalizar e gravar.
Dá-se um daqueles paradoxos conhecidos no Brasil: a economia vai mal, mas a arrecadação tributária vai muito bem. E como carga tributária é a proporção do total arrecadado em relação ao PIB, a carga tributária sobe, mesmo em tempos de economia desaquecida. O próprio crescimento lento do PIB, nas circunstâncias brasileiras, ajuda na elevação do índice da carga de impostos.
Mas o “milagre” não é eterno. Afinal, além do preço pecuniário que a sociedade paga devido ao peso dos impostos, paga-se, também, devido ao desincentivo aos investimentos produtivos e empreendedorismo.
Mesmo com a economia em marcha lenta e desonerações, a coleta de impostos bate recorde e cria um paradoxo. Mas só aparente, porque há explicações
O Brasil costuma produzir paradoxos em vários campos, a economia um deles. No ano passado, por exemplo, quando o PIB “andou de lado”, não tendo alcançado um resultado muito além de um crescimento acima dos 2%, a arrecadação federal bateu recordes, com um volume coletado de R$ 1,13 trilhão, um aumento real, descontada a inflação, de 4%, bem acima da evolução projetada da economia.
Em dezembro, a Receita colocou nos cofres do Tesouro R$ 118,3 bilhões, 8,2% a mais que em dezembro do ano anterior, o maior recolhimento de impostos federais da história, nesse mês. Para um analista cartesiano, um assombro. Para não dizer, incoerência. Adicione-se à aparente esquisitice que mesmo não se considerando algumas das receitas extraordinárias de que o governo se beneficiou para trombetear que atingira a meta do superávit primário de 2013 (R$ 75 bilhões), a arrecadação foi animadora para o Planalto e, pior, até mesmo a carga tributária, já nas alturas, subiu — o que parecia impossível.
O economista José Roberto Afonso, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, calcula que ela atingiu os píncaros de 37,5% do PIB. E isso com toda a batelada de desonerações que têm sido concedidas.
Mas, pelo menos em economia, as incongruências têm explicações. E, no caso da avidez pantagruélica com que o Estado brasileiro avança sobre as rendas da sociedade — é uma das maiores cargas de impostos do planeta —, há várias.
Uma delas, segundo José Roberto Afonso, é mesmo o grande e complexo aparato de legislação tributária que faz com que, por exemplo, mesmo quando há desoneração na venda de um produto, a arrecadação sobre ele aumente. Não é mágica. Há tantos impostos incidindo sobre impostos, e cobranças em cascata, que se torna impossível o ressarcimento total do que foi taxado em toda a cadeia produtiva. É o caso da cesta básica, isenta de impostos, mas só no papel. Por esta razão.
Além disso, o aumento de importações tem sido um fator positivo para o Erário. O imposto em portos, aeroportos, fronteiras é mais fácil de cobrar e fiscalizar. E a Receita taxa só uma vez, na entrada do produto, ao contrário de se ele for de origem interna, em que há toda uma cadeia produtiva a fiscalizar e gravar.
Dá-se um daqueles paradoxos conhecidos no Brasil: a economia vai mal, mas a arrecadação tributária vai muito bem. E como carga tributária é a proporção do total arrecadado em relação ao PIB, a carga tributária sobe, mesmo em tempos de economia desaquecida. O próprio crescimento lento do PIB, nas circunstâncias brasileiras, ajuda na elevação do índice da carga de impostos.
Mas o “milagre” não é eterno. Afinal, além do preço pecuniário que a sociedade paga devido ao peso dos impostos, paga-se, também, devido ao desincentivo aos investimentos produtivos e empreendedorismo.
Cidade pode ficar suja de novo - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S. PAULO - 26/01
O prefeito Fernando Haddad acaba de dar mais uma demonstração de que tem pouco apreço pela Lei Cidade Limpa, embora ela seja uma das melhores iniciativas dos últimos anos para melhorar a paisagem urbana da capital, porque a livrou da poluição visual provocada por anúncios de vários tipos e tamanhos que se multiplicaram sem controle. Dessa vez, são as escolas de samba que vão se beneficiar de brechas abertas na lei para permitir a colocação de anúncios no Sambódromo. O grave, além do fato em si, é o precedente que cria, ao abrir caminho para que outros setores reivindiquem vantagens semelhantes.
A Liga das Escolas de Samba poderá comercializar, durante o período de 27 dias - de 10 de fevereiro a 8 de março - a instalação de faixas e painéis iluminados em 20% de área externa do Sambódromo. Decisão tomada pela Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU) - que deveria levá-la a se perguntar se não é hora de mudar seu nome - permite que os anúncios sejam colocados tanto nas portas de entrada como no alto das arquibancadas, com vistas para a Marginal do Tietê e a Avenida Olavo Fontoura. O impacto visual dessa publicidade - melhor seria dizer a poluição que ela vai causar - pode ser avaliado pelo tamanho dos anúncios liberados. Ele irá de 1 metro quadrado a 32,8 metros quadrados.
O argumento usado pela Liga para driblar a lei foi o da necessidade de, com a venda dessa publicidade, angariar recursos para cobrir as despesas que as escolas têm com os desfiles. Argumento falacioso, porque, além de receber ajuda da Prefeitura -no ano passado foram R$ 800 mil para cada uma, o que não é pouca coisa -, as escolas ainda ganham bastante com a venda de fantasias e ingressos para ensaios, que chegam a custar RS 30 nas vésperas dos desfiles.
Por isso, a defesa da medida, feita pelo vereador Antônio Goulart (PSD), que ajudou a Liga nas negociações com a Prefeitura, impressiona pela facilidade com que coloca o interesse particular acima do público: "A publicidade pode ajudar muito as escolas de samba, que enfrentam dificuldades financeiras, e não vai prejudicar a Lei Cidade Limpa. Mas acho que só 20% do espaço é pouco, apesar de importante". A sede com que o sr. Goulart e seus amigos vão ao pote e a facilidade com que a Prefeitura abre a sua torneirinha mostram o tamanho do risco que corre a Cidade Limpa.
Antes de mais nada, já se viu que o que levou o prefeito Fernando Haddad a driblar a lei não foi a vontade de ajudar a preservar uma festa popular ameaçada por falta de recursos. Foi algo muito mais prosaico, rasteiro e pouco edificante - o desejo de cortejar as escolas de samba, o que os políticos estão sempre prontos a fazer em anos de eleição, ainda que à custa da Cidade Limpa.
Em segundo lugar, não convence também a alegação de que o drible à lei não a coloca em risco porque fica restrito a 20% da área externa do Sambódromo e por um período curto de tempo. De grão em grão a galinha enche o papo. E esse não é o primeiro grão. Logo no começo de seu governo, Haddad baixou dois decretos abrindo brechas na lei: um liberou os cartazes em cinemas e teatros, e outro autorizou ônibus e táxis a veicularem durante 30 dias uma campanha de incentivo ao uso de bicicleta.
Outro sinal inquietante é o afrouxamento da fiscalização da Lei Cidade Limpa. Foram aplicadas, de janeiro a agosto do ano passado, 226 multas por sua desobediência, um número muito, muito menor do que o de 2.265 referente a igual período de 2012. Alegar, como fez a Prefeitura, que isso se deve ao fato de as pessoas estarem demonstrando maior respeito à lei é fazer pouco da inteligência alheia. Principalmente porque é notório o inconformismo da maior parte dos afetados por ela.
Dentro desse quadro, de exceções que se multiplicam e baixa vigilância, é fácil de prever que vários outros setores também vão querer obter vantagens, e que a Prefeitura pode se mostrar "sensível" a essas demandas. Acrescente-se que há na Câmara Municipal nove projetos alterando para pior a Lei Cidade Limpa. O risco de São Paulo voltar a ser uma cidade suja, da qual ninguém tem saudade, a não ser quem ganhava com isso, é cada vez maior.
A Liga das Escolas de Samba poderá comercializar, durante o período de 27 dias - de 10 de fevereiro a 8 de março - a instalação de faixas e painéis iluminados em 20% de área externa do Sambódromo. Decisão tomada pela Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU) - que deveria levá-la a se perguntar se não é hora de mudar seu nome - permite que os anúncios sejam colocados tanto nas portas de entrada como no alto das arquibancadas, com vistas para a Marginal do Tietê e a Avenida Olavo Fontoura. O impacto visual dessa publicidade - melhor seria dizer a poluição que ela vai causar - pode ser avaliado pelo tamanho dos anúncios liberados. Ele irá de 1 metro quadrado a 32,8 metros quadrados.
O argumento usado pela Liga para driblar a lei foi o da necessidade de, com a venda dessa publicidade, angariar recursos para cobrir as despesas que as escolas têm com os desfiles. Argumento falacioso, porque, além de receber ajuda da Prefeitura -no ano passado foram R$ 800 mil para cada uma, o que não é pouca coisa -, as escolas ainda ganham bastante com a venda de fantasias e ingressos para ensaios, que chegam a custar RS 30 nas vésperas dos desfiles.
Por isso, a defesa da medida, feita pelo vereador Antônio Goulart (PSD), que ajudou a Liga nas negociações com a Prefeitura, impressiona pela facilidade com que coloca o interesse particular acima do público: "A publicidade pode ajudar muito as escolas de samba, que enfrentam dificuldades financeiras, e não vai prejudicar a Lei Cidade Limpa. Mas acho que só 20% do espaço é pouco, apesar de importante". A sede com que o sr. Goulart e seus amigos vão ao pote e a facilidade com que a Prefeitura abre a sua torneirinha mostram o tamanho do risco que corre a Cidade Limpa.
Antes de mais nada, já se viu que o que levou o prefeito Fernando Haddad a driblar a lei não foi a vontade de ajudar a preservar uma festa popular ameaçada por falta de recursos. Foi algo muito mais prosaico, rasteiro e pouco edificante - o desejo de cortejar as escolas de samba, o que os políticos estão sempre prontos a fazer em anos de eleição, ainda que à custa da Cidade Limpa.
Em segundo lugar, não convence também a alegação de que o drible à lei não a coloca em risco porque fica restrito a 20% da área externa do Sambódromo e por um período curto de tempo. De grão em grão a galinha enche o papo. E esse não é o primeiro grão. Logo no começo de seu governo, Haddad baixou dois decretos abrindo brechas na lei: um liberou os cartazes em cinemas e teatros, e outro autorizou ônibus e táxis a veicularem durante 30 dias uma campanha de incentivo ao uso de bicicleta.
Outro sinal inquietante é o afrouxamento da fiscalização da Lei Cidade Limpa. Foram aplicadas, de janeiro a agosto do ano passado, 226 multas por sua desobediência, um número muito, muito menor do que o de 2.265 referente a igual período de 2012. Alegar, como fez a Prefeitura, que isso se deve ao fato de as pessoas estarem demonstrando maior respeito à lei é fazer pouco da inteligência alheia. Principalmente porque é notório o inconformismo da maior parte dos afetados por ela.
Dentro desse quadro, de exceções que se multiplicam e baixa vigilância, é fácil de prever que vários outros setores também vão querer obter vantagens, e que a Prefeitura pode se mostrar "sensível" a essas demandas. Acrescente-se que há na Câmara Municipal nove projetos alterando para pior a Lei Cidade Limpa. O risco de São Paulo voltar a ser uma cidade suja, da qual ninguém tem saudade, a não ser quem ganhava com isso, é cada vez maior.
A praça é do povo - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 26/01
Adoção de logradouros públicos mostra que o cidadão pode ir além da mera cobrança e assumir papel de protagonista na conservação e cuidado com o espaço de todos
Viver numa cidade limpa, com monumentos, praças e parques bem cuidados é o desejo dos moradores de qualquer lugar. Tal querer pode ser visto na própria Gazeta do Povo, através das frequentes cartas e depoimentos de leitores reclamando das condições de logradouros e áreas públicas, do vandalismo, das pichações que diariamente materializam a falta de consideração que algumas pessoas têm pelo espaço urbano. Uma área degradada realmente machuca, ofende qualquer cidadão minimamente interessado no bem comum, e por isso a indignação é natural: trata-se do primeiro passo necessário em busca da solução. Mas é o segundo passo, o da ação, o mais importante: o que fazer para reverter essa e outras situações que tanto incomodam?
A resposta mais comum ainda é apenas reclamar e cobrar dos outros – leia-se do poder público – uma solução. Feito isso, o cidadão tem a nítida impressão de que fez tudo o que estava ao seu alcance, de que se esgotaram as suas formas de ação e que só lhe resta esperar que o outro – o poder público – aja e resolva o problema. Um exemplo dessa mentalidade é a frase de Carolina Ricardo, coordenadora de Sistemas de Justiça e Segurança Pública do Instituto Sou da Paz, na Gazeta do Povo do dia 19. “Espaços públicos abandonados geram sensação de insegurança. O poder público precisa retomar esses espaços e desenvolver programas de ocupação com atividades nas ruas”, afirmou. É um pensamento que, depois de décadas de paternalismo estatal, vem à mente dos brasileiros de forma quase automática. Mas, na verdade, é o reflexo de um conceito pobre de cidadania, em que para ser cidadão bastaria exercer o direito de voto e cobrar do poder público.
Sem dúvida, o voto é um dos momentos mais marcantes da cidadania; papel igualmente inestimável tem todo cidadão que fiscaliza continuamente o poder público e cada político, cuidando para que as verbas sejam bem aplicadas, evitando desperdícios ou desvios. Mas não é o poder público o principal protagonista do desenvolvimento de um local: são os indivíduos, isoladamente ou organizados. Há inúmeros casos em que as pessoas podem se juntar e promover saídas para problemas comuns. Exemplo concreto dessa cidadania ativa foi mostrado pela Gazeta do Povo dias atrás. No bairro Hugo Lange, em Curitiba, a Praça Alcides Munhoz Neto, marcada pelo vandalismo frequente, foi adotada por professores, pais e alunos de um colégio particular. O grupo retirou o lixo, limpou pichações, plantou uma horta. Também fez um trabalho com os moradores para divulgar o projeto. Aos poucos, os vizinhos começam a participar do cuidado com a pracinha antes esquecida.
Pode parecer pouco, mas a iniciativa mostra que é possível mudar a realidade a partir de coisas simples, desde que se tenha vontade de agir. Além da adoção de logradouros públicos, que nem precisaria passar por qualquer tipo de formalidade ou burocracia, há diversas maneiras de os cidadãos se empenharem para mudar os rumos da comunidade. Não se trata de “assumir uma função do Estado”, expressão que frequentemente ouvimos em tais casos. Trata-se de assumir seu real papel, o de protagonista. Ao poder público cabe não colocar obstáculos a essa ação e agir de forma subsidiária, auxiliando os cidadãos quando eles precisarem de ajuda, e assumindo a tarefa apenas quando ninguém demonstrar interesse ou capacidade de realizá-la. Mas que triste seria viver em uma comunidade na qual ninguém se interessa pelo cuidado com os espaços públicos!
Uma das formas de se explicar a proliferação de atos de desrespeito com o patrimônio e áreas públicas é a existência de uma visão distorcida do significado de “público”, que passa a ser confundido como se fosse uma coisa “de ninguém”. Quem entende tudo o que é público como se não pertencesse a ninguém, ou apenas ao Estado, dificilmente irá respeitar esse espaço ou trabalhar por sua conservação. Mas quem adota e assume o espaço público como seu – o que de fato é – se importa, preserva, cuida. “Eu não vou simplesmente ligar para o telefone 156 pra plantarem uma árvore na frente da minha casa. Eu mesmo vou fazer. É para que a gente tenha o sentido de pertencimento à cidade”, disse o ativista Jorge Brand à Gazeta do Povo em junho de 2012, quando o jornal contou a história de curitibanos que estavam plantando árvores nas ruas de Curitiba por iniciativa própria. É esse sentimento de responsabilidade pela cidade que pode fazer a diferença, principalmente quando materializado em ações. O comportamento protagonista em relação aos espaços públicos pode ser um primeiro passo em direção a uma sociedade madura, em que cada cidadão, na medida de suas capacidades, possa contribuir para a solução dos problemas comuns, libertando-se da ideia ilusória de que esperar é a única saída.
Adoção de logradouros públicos mostra que o cidadão pode ir além da mera cobrança e assumir papel de protagonista na conservação e cuidado com o espaço de todos
Viver numa cidade limpa, com monumentos, praças e parques bem cuidados é o desejo dos moradores de qualquer lugar. Tal querer pode ser visto na própria Gazeta do Povo, através das frequentes cartas e depoimentos de leitores reclamando das condições de logradouros e áreas públicas, do vandalismo, das pichações que diariamente materializam a falta de consideração que algumas pessoas têm pelo espaço urbano. Uma área degradada realmente machuca, ofende qualquer cidadão minimamente interessado no bem comum, e por isso a indignação é natural: trata-se do primeiro passo necessário em busca da solução. Mas é o segundo passo, o da ação, o mais importante: o que fazer para reverter essa e outras situações que tanto incomodam?
A resposta mais comum ainda é apenas reclamar e cobrar dos outros – leia-se do poder público – uma solução. Feito isso, o cidadão tem a nítida impressão de que fez tudo o que estava ao seu alcance, de que se esgotaram as suas formas de ação e que só lhe resta esperar que o outro – o poder público – aja e resolva o problema. Um exemplo dessa mentalidade é a frase de Carolina Ricardo, coordenadora de Sistemas de Justiça e Segurança Pública do Instituto Sou da Paz, na Gazeta do Povo do dia 19. “Espaços públicos abandonados geram sensação de insegurança. O poder público precisa retomar esses espaços e desenvolver programas de ocupação com atividades nas ruas”, afirmou. É um pensamento que, depois de décadas de paternalismo estatal, vem à mente dos brasileiros de forma quase automática. Mas, na verdade, é o reflexo de um conceito pobre de cidadania, em que para ser cidadão bastaria exercer o direito de voto e cobrar do poder público.
Sem dúvida, o voto é um dos momentos mais marcantes da cidadania; papel igualmente inestimável tem todo cidadão que fiscaliza continuamente o poder público e cada político, cuidando para que as verbas sejam bem aplicadas, evitando desperdícios ou desvios. Mas não é o poder público o principal protagonista do desenvolvimento de um local: são os indivíduos, isoladamente ou organizados. Há inúmeros casos em que as pessoas podem se juntar e promover saídas para problemas comuns. Exemplo concreto dessa cidadania ativa foi mostrado pela Gazeta do Povo dias atrás. No bairro Hugo Lange, em Curitiba, a Praça Alcides Munhoz Neto, marcada pelo vandalismo frequente, foi adotada por professores, pais e alunos de um colégio particular. O grupo retirou o lixo, limpou pichações, plantou uma horta. Também fez um trabalho com os moradores para divulgar o projeto. Aos poucos, os vizinhos começam a participar do cuidado com a pracinha antes esquecida.
Pode parecer pouco, mas a iniciativa mostra que é possível mudar a realidade a partir de coisas simples, desde que se tenha vontade de agir. Além da adoção de logradouros públicos, que nem precisaria passar por qualquer tipo de formalidade ou burocracia, há diversas maneiras de os cidadãos se empenharem para mudar os rumos da comunidade. Não se trata de “assumir uma função do Estado”, expressão que frequentemente ouvimos em tais casos. Trata-se de assumir seu real papel, o de protagonista. Ao poder público cabe não colocar obstáculos a essa ação e agir de forma subsidiária, auxiliando os cidadãos quando eles precisarem de ajuda, e assumindo a tarefa apenas quando ninguém demonstrar interesse ou capacidade de realizá-la. Mas que triste seria viver em uma comunidade na qual ninguém se interessa pelo cuidado com os espaços públicos!
Uma das formas de se explicar a proliferação de atos de desrespeito com o patrimônio e áreas públicas é a existência de uma visão distorcida do significado de “público”, que passa a ser confundido como se fosse uma coisa “de ninguém”. Quem entende tudo o que é público como se não pertencesse a ninguém, ou apenas ao Estado, dificilmente irá respeitar esse espaço ou trabalhar por sua conservação. Mas quem adota e assume o espaço público como seu – o que de fato é – se importa, preserva, cuida. “Eu não vou simplesmente ligar para o telefone 156 pra plantarem uma árvore na frente da minha casa. Eu mesmo vou fazer. É para que a gente tenha o sentido de pertencimento à cidade”, disse o ativista Jorge Brand à Gazeta do Povo em junho de 2012, quando o jornal contou a história de curitibanos que estavam plantando árvores nas ruas de Curitiba por iniciativa própria. É esse sentimento de responsabilidade pela cidade que pode fazer a diferença, principalmente quando materializado em ações. O comportamento protagonista em relação aos espaços públicos pode ser um primeiro passo em direção a uma sociedade madura, em que cada cidadão, na medida de suas capacidades, possa contribuir para a solução dos problemas comuns, libertando-se da ideia ilusória de que esperar é a única saída.
Mundo desigual - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 26/01
A desigualdade está entre os principais fatores de risco que preocupam a elite mundial, a julgar pela atenção dada ao tema no fórum econômico de Davos.
Por outro lado, estudo recente do Banco Mundial mostra que, pela primeira vez desde a Revolução Industrial, caiu a diferença de renda entre os países na fronteira do desenvolvimento e os emergentes.
As afirmações são contraditórias somente na aparência. Com o fim da cortina de ferro e a abertura econômica da China e da Índia, centenas de milhões de pessoas passaram de um estado de subsistência precária à condição de nova classe média global.
Se diminuiu entre os países, a desigualdade aumentou, como regra, em cada contexto nacional. O fenômeno é particularmente claro no mundo desenvolvido.
Nos EUA, por exemplo, a renda real (corrigida pela inflação) do estrato intermediário não cresce desde meados dos anos 1970. Fatia esmagadora --e crescente-- da renda gerada fica com os mais ricos. Fato inédito, pesquisas de opinião revelam a expectativa de que a qualidade de vida dos mais jovens será inferior à da geração atual. O mesmo padrão ocorre em nações de tradição social-democrata.
As razões apontadas são a tecnologia, que poupa mão de obra menos educada, e a globalização, que amplia a concorrência com países de salários mais baixos. O desafio, portanto, é manter a integração de populações antes excluídas sem perder o controle sobre dinâmicas concentradoras de renda.
Quanto ao primeiro termo dessa equação, existe o risco de pressões protecionistas por parte das sociedades desenvolvidas, a fim de defender postos de trabalho. A abertura ao comércio tem sido uma das principais alavancas para o desenvolvimento dos emergentes.
O segundo aspecto é ainda mais complexo. É preciso que os países não só reforcem políticas compensatórias para reduzir a exclusão, mas também atuem para promover a igualdade de oportunidades.
A educação, como sempre, é o instrumento decisivo para garantir que a sorte de um indivíduo não seja determinada por sua origem social ou geográfica.
A desigualdade está entre os principais fatores de risco que preocupam a elite mundial, a julgar pela atenção dada ao tema no fórum econômico de Davos.
Por outro lado, estudo recente do Banco Mundial mostra que, pela primeira vez desde a Revolução Industrial, caiu a diferença de renda entre os países na fronteira do desenvolvimento e os emergentes.
As afirmações são contraditórias somente na aparência. Com o fim da cortina de ferro e a abertura econômica da China e da Índia, centenas de milhões de pessoas passaram de um estado de subsistência precária à condição de nova classe média global.
Se diminuiu entre os países, a desigualdade aumentou, como regra, em cada contexto nacional. O fenômeno é particularmente claro no mundo desenvolvido.
Nos EUA, por exemplo, a renda real (corrigida pela inflação) do estrato intermediário não cresce desde meados dos anos 1970. Fatia esmagadora --e crescente-- da renda gerada fica com os mais ricos. Fato inédito, pesquisas de opinião revelam a expectativa de que a qualidade de vida dos mais jovens será inferior à da geração atual. O mesmo padrão ocorre em nações de tradição social-democrata.
As razões apontadas são a tecnologia, que poupa mão de obra menos educada, e a globalização, que amplia a concorrência com países de salários mais baixos. O desafio, portanto, é manter a integração de populações antes excluídas sem perder o controle sobre dinâmicas concentradoras de renda.
Quanto ao primeiro termo dessa equação, existe o risco de pressões protecionistas por parte das sociedades desenvolvidas, a fim de defender postos de trabalho. A abertura ao comércio tem sido uma das principais alavancas para o desenvolvimento dos emergentes.
O segundo aspecto é ainda mais complexo. É preciso que os países não só reforcem políticas compensatórias para reduzir a exclusão, mas também atuem para promover a igualdade de oportunidades.
A educação, como sempre, é o instrumento decisivo para garantir que a sorte de um indivíduo não seja determinada por sua origem social ou geográfica.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“É uma prova eloquente de deficit civilizatório”
Ministro Joaquim Barbosa (STF) sobre o “rolezinho em Paris” citado por advogado
ATÉ A CGU APONTA IRREGULARIDADES NA CONAB
Auditoria sigilosa da Controladoria-Geral da União, em geral muito boazinha com órgãos do governo federal, apontou dezenas de irregularidades no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) que motivaram operação da Polícia Federal na qual foram presos ou conduzidos coercitivamente altos funcionários da Cia Nacional de Abastecimento. A CGU avaliou repasses de R$ 1,3 bilhão dos ministérios da Agricultara e do Desenvolvimento Social só em 2013.
IMPUNIDADE
Apesar das divergências nos dados da prestação de contas da Conab, a CGU lamenta: “Não foi observada a aplicação de penalidades”.
MAU EXEMPLO
Em uma das compras da Conab em Pernambuco, em 2011, apenas 8% dos R$ 575 mil em alimentos foram entregues a associações.
MEMÓRIA
Acusações de desvios na Conab resultaram na demissão de diretores como Sílvio Porto, apadrinhado político do ministro Gilberto Carvalho.
ABASTECIMENTO FARTO
Os gastos da Conab com o PAA, fonte dos escândalos, representam 68,33% do total de 2009 a 2012. A informação é da própria CGU.
ITAMARATY OUVIRÁ DIPLOMATA QUE LIBERTOU SENADOR
O diplomata Eduardo Saboia, que ajudou o senador Roger Molina a fugir da Bolívia, deve prestar depoimento no Itamaraty nas próximas semanas. Após travar o processo por quase seis meses, o Palácio do Planalto autorizou seu andamento. Se ele for ouvido em fevereiro, a comissão terá dez dias para decidir se vai punir o diplomata que teve a coragem de salvar o senador perseguido pelo regime de Evo Morales.
PREJUÍZO
Saboia está sendo submetido a perdas expressivas (salarial, moral e profissional) ao ser jogado no calabouço dos serviços burocráticos.
BANZO
Em Brasília, Roger Molina aguarda ansioso pelas eleições na Bolívia, em outubro, para talvez viabilizar seu retorno à Bolívia.
RENOVAÇÃO
A autorização de permanência de Roger Molina no Brasil vence em 24 de fevereiro, mas poderá ser renovado.
VISÃO QUADRADA
O futuro ministro da Saúde, Arthur Chioro, enfrenta resistência na bancada do PT e, sobretudo, entre parlamentares ligados à saúde, que o acusam de ser “sectário” demais: “só favorece aos seus”. Clientes?
PATRIOTA COM CAMPOS
Circula no Itamaraty que o ex-chanceler Antonio Patriota opera como conselheiro informal do presidenciável Eduardo Campos (PSB), em política externa. Trata-se de uma grave ameaça: em caso de vitória do pernambucano, ele poderia voltar a ser ministro. Mangalô, três vezes.
SÓ UNS TROCADOS
Nem mesmo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), consegue liberar emendas: em 2013, ele só conseguiu R$ 4,6 milhões dos R$ 15 milhões que destinou para Alagoas, todo o ano de 2013.
TAPAS E BEIJOS
Presidente do DEM, José Agripino (RN) vai cobrar do presidenciável Aécio Neves (PSDB) “mais diálogo” em dois estados onde os partidos divergem seriamente: Otávio Leite (PSDB) x César Maia (DEM) no Rio de Janeiro e Marconi Perillo (PSDB) x Ronaldo Caiado (DEM) em Goiás.
KASSAB SEM SAÍDA
José Serra acredita que Kassab, que foi adversário político do PT durante seu mandato na Prefeitura de São Paulo, ficará “liquidado eleitoralmente” se apoiar o petista Alexandre Padilha ao governo.
NÃO É A PRAIA DA PRF
Há pelo menos dois anos uma quadrilha assalta regularmente ônibus que deixam Brasília pela rodovia BR 040, diante de uma Polícia Rodoviária Federal abobalhada, que demonstra, na prática, não ser qualificada para posar de polícia judiciária, como tem feito Brasil afora.
GENIAL GUIA DOS POVOS
Lula tinha razão: “nunca antes na história deste país”, o Brasil teve o maior deficit em conta-corrente, a menor criação de empregos em uma década, e a confiança do consumidor mais baixa desde junho de 2009.
MESMA DIREÇÃO
Na disputa pela liderança do PDT, Marcos Rogério (RO) garante que tanto ele quanto concorrentes Vieira da Cunha (RS) e Félix Mendonça (BA) seguem perfil de independência em relação ao governo Dilma.
PENSANDO BEM...
...como diria Dilma, quando você olha um Fórum Econômico Mundial sempre vê um grande capitalista por trás.
PODER SEM PUDOR
ILUSTRES DESCONHECIDOS
O Correio Aéreo Nacional, que antecedeu os Correios, já era ruim de encomenda: em carta ao diretor-geral, o então presidente Jânio Quadros recomendou "maior interesse no serviço".
É que cartas para ele e para Oscar Niemeyer, que projetou Brasília, foram devolvidas pelos agentes com o carimbo "endereço desconhecido".
Ministro Joaquim Barbosa (STF) sobre o “rolezinho em Paris” citado por advogado
ATÉ A CGU APONTA IRREGULARIDADES NA CONAB
Auditoria sigilosa da Controladoria-Geral da União, em geral muito boazinha com órgãos do governo federal, apontou dezenas de irregularidades no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) que motivaram operação da Polícia Federal na qual foram presos ou conduzidos coercitivamente altos funcionários da Cia Nacional de Abastecimento. A CGU avaliou repasses de R$ 1,3 bilhão dos ministérios da Agricultara e do Desenvolvimento Social só em 2013.
IMPUNIDADE
Apesar das divergências nos dados da prestação de contas da Conab, a CGU lamenta: “Não foi observada a aplicação de penalidades”.
MAU EXEMPLO
Em uma das compras da Conab em Pernambuco, em 2011, apenas 8% dos R$ 575 mil em alimentos foram entregues a associações.
MEMÓRIA
Acusações de desvios na Conab resultaram na demissão de diretores como Sílvio Porto, apadrinhado político do ministro Gilberto Carvalho.
ABASTECIMENTO FARTO
Os gastos da Conab com o PAA, fonte dos escândalos, representam 68,33% do total de 2009 a 2012. A informação é da própria CGU.
ITAMARATY OUVIRÁ DIPLOMATA QUE LIBERTOU SENADOR
O diplomata Eduardo Saboia, que ajudou o senador Roger Molina a fugir da Bolívia, deve prestar depoimento no Itamaraty nas próximas semanas. Após travar o processo por quase seis meses, o Palácio do Planalto autorizou seu andamento. Se ele for ouvido em fevereiro, a comissão terá dez dias para decidir se vai punir o diplomata que teve a coragem de salvar o senador perseguido pelo regime de Evo Morales.
PREJUÍZO
Saboia está sendo submetido a perdas expressivas (salarial, moral e profissional) ao ser jogado no calabouço dos serviços burocráticos.
BANZO
Em Brasília, Roger Molina aguarda ansioso pelas eleições na Bolívia, em outubro, para talvez viabilizar seu retorno à Bolívia.
RENOVAÇÃO
A autorização de permanência de Roger Molina no Brasil vence em 24 de fevereiro, mas poderá ser renovado.
VISÃO QUADRADA
O futuro ministro da Saúde, Arthur Chioro, enfrenta resistência na bancada do PT e, sobretudo, entre parlamentares ligados à saúde, que o acusam de ser “sectário” demais: “só favorece aos seus”. Clientes?
PATRIOTA COM CAMPOS
Circula no Itamaraty que o ex-chanceler Antonio Patriota opera como conselheiro informal do presidenciável Eduardo Campos (PSB), em política externa. Trata-se de uma grave ameaça: em caso de vitória do pernambucano, ele poderia voltar a ser ministro. Mangalô, três vezes.
SÓ UNS TROCADOS
Nem mesmo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), consegue liberar emendas: em 2013, ele só conseguiu R$ 4,6 milhões dos R$ 15 milhões que destinou para Alagoas, todo o ano de 2013.
TAPAS E BEIJOS
Presidente do DEM, José Agripino (RN) vai cobrar do presidenciável Aécio Neves (PSDB) “mais diálogo” em dois estados onde os partidos divergem seriamente: Otávio Leite (PSDB) x César Maia (DEM) no Rio de Janeiro e Marconi Perillo (PSDB) x Ronaldo Caiado (DEM) em Goiás.
KASSAB SEM SAÍDA
José Serra acredita que Kassab, que foi adversário político do PT durante seu mandato na Prefeitura de São Paulo, ficará “liquidado eleitoralmente” se apoiar o petista Alexandre Padilha ao governo.
NÃO É A PRAIA DA PRF
Há pelo menos dois anos uma quadrilha assalta regularmente ônibus que deixam Brasília pela rodovia BR 040, diante de uma Polícia Rodoviária Federal abobalhada, que demonstra, na prática, não ser qualificada para posar de polícia judiciária, como tem feito Brasil afora.
GENIAL GUIA DOS POVOS
Lula tinha razão: “nunca antes na história deste país”, o Brasil teve o maior deficit em conta-corrente, a menor criação de empregos em uma década, e a confiança do consumidor mais baixa desde junho de 2009.
MESMA DIREÇÃO
Na disputa pela liderança do PDT, Marcos Rogério (RO) garante que tanto ele quanto concorrentes Vieira da Cunha (RS) e Félix Mendonça (BA) seguem perfil de independência em relação ao governo Dilma.
PENSANDO BEM...
...como diria Dilma, quando você olha um Fórum Econômico Mundial sempre vê um grande capitalista por trás.
PODER SEM PUDOR
ILUSTRES DESCONHECIDOS
O Correio Aéreo Nacional, que antecedeu os Correios, já era ruim de encomenda: em carta ao diretor-geral, o então presidente Jânio Quadros recomendou "maior interesse no serviço".
É que cartas para ele e para Oscar Niemeyer, que projetou Brasília, foram devolvidas pelos agentes com o carimbo "endereço desconhecido".
DIMINGO NOS JORNAIS
- Globo: Só 5 escolas de samba têm quadras seguras
- Folha: Ato em SP contra a Copa termina em vandalismo
- Estadão: Manifestação contra a Copa acaba em vandalismo em SP
- Correio: Todas as faces dos rolezinhos
- Estado de Minas: Desperdício compulsório
- Zero Hora: Kiss, um ano
sábado, janeiro 25, 2014
sexta-feira, janeiro 24, 2014
O 'bando de negros e morenos' - REINALDO AZEVEDO
FOLHA DE SP - 24/01
No campo, na cidade, na universidade ou no shopping, o PT não resiste à tentação de insuflar os 'oprimidos'
O pânico voltou a bater às portas do Palácio do Planalto, que dá como inevitáveis novos protestos durante a Copa. O PT já convocou o seu braço junto às massas, uma tal Central de Movimentos Populares (CMP), para monitorar o povaréu.
Os pelegos do CMP integram a Ancop, ou "Comitês Populares da Copa". Estão lá para amansar a brasileirada. As designações têm um ranço entre o jacobinismo e o sovietismo: "central", "comitês", "coletivos"... O "comissariado" fica na Secretaria-Geral da Presidência, do camarada Gilberto Carvalho. Uma nova onda de protestos poderia pôr em risco a reeleição de Dilma. Uma estrepitosa vaia durante o discurso da presidente na abertura daria o tom do resto do torneio. O Planalto, o que é uma tolice, viu nos "rolezinhos" o sinal de advertência. O PT começa a ser também vítima, não apenas beneficiário, de sua natureza. Explico.
Um pouco de memória. Em junho, os petistas apostaram que a baderna ficaria restrita a São Paulo. Em meu blog, demonstrei, inclusive com reportagens desta Folha(is.gd/X4xFOl), como operaram os feiticeiros do Planalto --com José Eduardo Cardozo chefiando o caldeirão-- para jogar os distúrbios no colo da "polícia de Alckmin". Duas semanas depois, havia pessoas com tochas na mão sapateando no teto do Congresso, e o Palácio Itamaraty estava em chamas. E Cardozo mudo, perplexo, pálido de espanto.
Já sabemos o que eram os "rolezinhos" e no que tentam transformá-los as esquerdas, inclusive os petistas. De novo, confessam, a aposta era que se limitassem a São Paulo. Carvalho mandou ver no pensamento tarja-preta: "Da mesma forma que os aeroportos lotados incomodam a classe média. Da mesma forma que, para eles, é estranho certos ambientes serem frequentados agora por essa gentalha' (...). O que não dá para entender muito é a carga do preconceito que veio forte. (...) As pessoas veem aquele bando de meninos negros e morenos e ficam meio assustadas. É o nosso preconceito".
"Nosso preconceito" uma ova! Esse é o preconceito de Carvalho, que chama "negros" e "morenos" de "bando". Então só a classe média reage à incompetência do governo na gestão aeroportuária? Pobre gosta de humilhação? Nota: a pesquisa Datafolha sobre os "rolezinhos", especialmente a opinião de "negros e morenos", desmoraliza Carvalho, seu partido, as esquerdas, a vigarice sociológica, a tolice jornalística e o colunismo fácil.
O mundo real pôs o PT sob controle, mas não mudou a sua natureza. No campo, na cidade, na universidade ou no shopping, o partido não resiste à tentação de insuflar os "oprimidos". Os "opressores" identificados pela legenda não são os premiados com Bolsa BNDES ou Bolsa Juros, mas a classe média, que a Marilena Chaui odeia e que Carvalho julga ser racista.
Enquanto a fala indecorosa do ministro circulava, uma turba fechou algumas ruas na Penha, em São Paulo, para um baile funk. A polícia, chamada pela vizinhança, acabou com a festa. Um grupo de funkeiros decidiu, então, assaltar um posto de gasolina, espancar os funcionários, depredar um hipermercado contíguo e roubar mercadorias. Na saída, um deles derramou combustível no chão e tentou riscar um fósforo. Tivesse conseguido... O "Jornal Nacional" relacionou o episódio à falta de lazer na periferia. Pobre, quando não se diverte, explode posto de gasolina, mas é essencialmente bom; a falta de um clube para o funk é que o torna um facínora. Sei. É a luta entre o Rousseau do Batidão e o Hobbes da Tropa de Choque.
Os maiores adversários do PT em 2014 não são as oposições, mas a natureza do partido e os valores que tornou influentes com seu marxismo de meia-pataca e seu coitadismo criminoso. A receita pode, sim, desandar.
Falácias lógicas - MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE
O Estado de S.Paulo - 24/01
"Ou um mais um é igual a cinco ou então um mais um é igual a onze", diz um menino para o amigo. "Mas um mais um não é igual a cinco", responde o amigo. "Então um mais um é igual a onze", retruca o outro. "Ou distribuímos renda e privilegiamos a inclusão social ou então usamos políticas ortodoxas (neoliberais?) para promover o crescimento", diz alguém do governo. "Mas políticas 'neoliberais' não promovem o crescimento", responde outro alguém do governo. "Então distribuímos renda", afirma o interlocutor ou interlocutora.
Acima, dois exemplos de uma falácia lógica, o falso dilema, aquele que vê tudo preto ou tudo branco, sem nuance alguma. O falso dilema permeia o debate brasileiro, dos rolezinhos aos juros, das motivações dos movimentos sociais ao estado da economia. O falso dilema é bíblico. Diz Mateus (12:30): "Aquele que não está comigo é contra mim e aquele que não se une a mim desagrega". O falso dilema é universal. Diz o New York Times: "O governo brasileiro não perde muito tempo pensando no crescimento como um valor em si, mas, sim, relacionando-o à distribuição de renda e, portanto, dificultando a demissão de trabalhadores de baixa produtividade e controlando o preço da gasolina para que dirigir um automóvel seja mais acessível à população" (Does Brazil have the answer?, de Joe Nocera, publicado em 20/1/2014).
Distribuir ou crescer? Crescer ou distribuir? Distribuir primeiro ou crescer primeiro? Essas questões com cheiro de mofo, mofo de quase meio século, continuam a nortear as escolhas do governo. Deixa-se de lado que para distribuir e crescer é preciso, antes, garantir a estabilidade macroeconômica.
Nos últimos três anos, vivemos de dividendos. Como uma viúva satisfeita, colhemos, ano após ano, os rendimentos de todo o esforço feito e continuado para manter a inflação em xeque. Como uma viúva perdulária, gastamos o provento. O resultado é que a inflação crepita, estala. Mexe e remexe. Solta-se aos poucos das amarras.
Distribuir ou crescer? Pouco importa. Com uma inflação ascendente e pouco previsível, não se consegue nem uma coisa nem outra. A inflação corrói a renda dos trabalhadores e daqueles que têm menos capacidade de se proteger de seus efeitos nefastos, as pessoas que ganham os salários mais baixos. A inflação prejudica o planejamento das empresas e torna tudo mais obscuro e impenetrável. Fica difícil investir sem poder imaginar para onde vão os custos, fica difícil contratar sem saber como será o faturamento. A inflação, se não for contida por políticas que se ajudem mutuamente - a restrição monetária, de um lado, e a contenção fiscal, de outro -, desfaz ganhos importantes alcançados pela população brasileira, como o aumento da mobilidade social observado nos últimos anos e tão alardeado pelo artigo do New York Times. A inflação, afinal, não é um problema nos EUA, não é ela que está na raiz da piora da desigualdade de renda entre os americanos. Por lá, a inflação ficou abaixo de 2% em 2012 e em 2013 - 2% é a meta de inflação do Fed, o banco central dos EUA.
Recentemente, o governo brasileiro parece ter se dado conta da importância do obstáculo inflacionário para os seus objetivos - da reeleição ao legado distributivo, da manutenção do poder à continuação da inclusão social. Ao Banco Central (BC) foi dado o aval para que os juros subam, uma atitude correta, bem-vinda. Contudo, falta o fiscal. Falta enquadrar a política fiscal. O BC não tem como fazer, sozinho, todo o esforço para restringir a inflação. O BC não pode ter uma parte do que faz com os juros desfeita pela leniência do governo com as contas públicas. A deterioração das contas públicas que o governo pensa ser invisível.
Imaginem uma criança precoce, com gosto pela lógica. Ela pensa: "Os átomos são invisíveis e tudo é feito de átomos, inclusive o meu corpo. Logo, meu corpo é invisível". Essa criança, infelizmente, jamais conseguirá vencer um jogo de esconde-esconde. A pobre sofre de uma ardilosa falha lógica, a falácia de composição. Tal qual o governo brasileiro com a política fiscal.
"Ou um mais um é igual a cinco ou então um mais um é igual a onze", diz um menino para o amigo. "Mas um mais um não é igual a cinco", responde o amigo. "Então um mais um é igual a onze", retruca o outro. "Ou distribuímos renda e privilegiamos a inclusão social ou então usamos políticas ortodoxas (neoliberais?) para promover o crescimento", diz alguém do governo. "Mas políticas 'neoliberais' não promovem o crescimento", responde outro alguém do governo. "Então distribuímos renda", afirma o interlocutor ou interlocutora.
Acima, dois exemplos de uma falácia lógica, o falso dilema, aquele que vê tudo preto ou tudo branco, sem nuance alguma. O falso dilema permeia o debate brasileiro, dos rolezinhos aos juros, das motivações dos movimentos sociais ao estado da economia. O falso dilema é bíblico. Diz Mateus (12:30): "Aquele que não está comigo é contra mim e aquele que não se une a mim desagrega". O falso dilema é universal. Diz o New York Times: "O governo brasileiro não perde muito tempo pensando no crescimento como um valor em si, mas, sim, relacionando-o à distribuição de renda e, portanto, dificultando a demissão de trabalhadores de baixa produtividade e controlando o preço da gasolina para que dirigir um automóvel seja mais acessível à população" (Does Brazil have the answer?, de Joe Nocera, publicado em 20/1/2014).
Distribuir ou crescer? Crescer ou distribuir? Distribuir primeiro ou crescer primeiro? Essas questões com cheiro de mofo, mofo de quase meio século, continuam a nortear as escolhas do governo. Deixa-se de lado que para distribuir e crescer é preciso, antes, garantir a estabilidade macroeconômica.
Nos últimos três anos, vivemos de dividendos. Como uma viúva satisfeita, colhemos, ano após ano, os rendimentos de todo o esforço feito e continuado para manter a inflação em xeque. Como uma viúva perdulária, gastamos o provento. O resultado é que a inflação crepita, estala. Mexe e remexe. Solta-se aos poucos das amarras.
Distribuir ou crescer? Pouco importa. Com uma inflação ascendente e pouco previsível, não se consegue nem uma coisa nem outra. A inflação corrói a renda dos trabalhadores e daqueles que têm menos capacidade de se proteger de seus efeitos nefastos, as pessoas que ganham os salários mais baixos. A inflação prejudica o planejamento das empresas e torna tudo mais obscuro e impenetrável. Fica difícil investir sem poder imaginar para onde vão os custos, fica difícil contratar sem saber como será o faturamento. A inflação, se não for contida por políticas que se ajudem mutuamente - a restrição monetária, de um lado, e a contenção fiscal, de outro -, desfaz ganhos importantes alcançados pela população brasileira, como o aumento da mobilidade social observado nos últimos anos e tão alardeado pelo artigo do New York Times. A inflação, afinal, não é um problema nos EUA, não é ela que está na raiz da piora da desigualdade de renda entre os americanos. Por lá, a inflação ficou abaixo de 2% em 2012 e em 2013 - 2% é a meta de inflação do Fed, o banco central dos EUA.
Recentemente, o governo brasileiro parece ter se dado conta da importância do obstáculo inflacionário para os seus objetivos - da reeleição ao legado distributivo, da manutenção do poder à continuação da inclusão social. Ao Banco Central (BC) foi dado o aval para que os juros subam, uma atitude correta, bem-vinda. Contudo, falta o fiscal. Falta enquadrar a política fiscal. O BC não tem como fazer, sozinho, todo o esforço para restringir a inflação. O BC não pode ter uma parte do que faz com os juros desfeita pela leniência do governo com as contas públicas. A deterioração das contas públicas que o governo pensa ser invisível.
Imaginem uma criança precoce, com gosto pela lógica. Ela pensa: "Os átomos são invisíveis e tudo é feito de átomos, inclusive o meu corpo. Logo, meu corpo é invisível". Essa criança, infelizmente, jamais conseguirá vencer um jogo de esconde-esconde. A pobre sofre de uma ardilosa falha lógica, a falácia de composição. Tal qual o governo brasileiro com a política fiscal.
O primeiro 'conundrum' de 2014 - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
FOLHA DE SP - 24/01
A Turquia faz emissão a juros baixos enquanto se fala em crise de emergentes; alguém está errado nessa história
Este mês nos trouxe o primeiro "conundrum" do ano no mercado financeiro. Essa expressão, resgatada há algum tempo por um ex-presidente do Fed, procura identificar os acontecimentos que vão contra o senso comum dos mercados.
Quando um "conundrum" aparece, duas leituras opostas podem ocorrer: a primeira é que algo estranho, novo, inusitado pode estar realmente ocorrendo e será preciso algum esforço para entendê-lo. A outra possibilidade é que o senso comum esteja errado e o "conundrum" ocorra em razão de uma realidade mal compreendida pelos agentes econômicos.
Um exemplo clássico dessa segunda leitura é a histeria que tomou conta de alguns analistas quando o banco central americano iniciou sua experiência conhecida hoje como QE.
O apocalipse da inflação na maior economia do mundo foi pintado a tinta e a cores por vetustos senhores da comunidade de Wall Street e jovens gênios da economia encastelados nas universidades. O pobre Ben Bernanke foi estigmatizado no Congresso como traidor da pátria, e um ambicioso político republicano propôs uma lei draconiana para amarrar o Fed ao padrão-ouro.
Hoje, com a inflação americana correndo abaixo da meta de 2% ao ano e a economia crescendo mais de 3,5% em 2014, os críticos da política monetária estão calados e amargurando um vexame destruidor de qualquer reputação. E a imagem de um "conundrum" desapareceu das declarações dos mais radicais, pois evoluímos para um entendimento melhor dos canais monetários nas economias neste século 21.
Mas voltemos --até para explicar melhor-- ao primeiro "conundrum" de 2014. Enquanto escrevo esta coluna, a Turquia --apesar de toda a crise política que a cerca e a queda livre nos mercados de câmbio de sua moeda-- recebeu um total de US$ 12 bilhões de oferta para comprar títulos de crédito de dez anos de prazo em uma nova emissão que veio ao mercado. E os juros, no final do processo de precificação, devem ficar abaixo dos 6% ao ano.
Qual a imagem de "conundrum" associada a esse incrível sucesso na captação de recursos pelo Estado turco? A resposta vem da reação de surpresa verbalizada por um banqueiro associado a essa emissão, tanto em razão do volume da oferta de recursos pelos investidores como pela taxa de juros associada a ela.
A pergunta que certamente se fez o banqueiro acima citado foi esta: como esse sucesso ocorreu se a opinião generalizada, que domina a imprensa e os mercados, é que o mundo emergente caminha a passos largos para uma crise de liquidez? E a Turquia é certamente um dos elos mais frágeis dessa corrente prestes a arrebentar.
O senso comum dos analistas da economia mundial entende que a redução dos estímulos monetários, iniciado no mês de dezembro pelo Fed, deve ter continuidade na próxima reunião, no fim deste mês. Com isso, os juros americanos devem manter sua tendência de alta, o que deve arrastar, para a maior economia do mundo, um volume expressivo de recursos que se encontram hoje nos emergentes. A imprensa comprou com entusiasmo essa análise e somos bombardeados todos os dias com previsões apocalípticas. Inclusive a presidenta do FMI adotou esse discurso em suas primeiras intervenções em Davos, na Suíça.
Agora o leitor da Folha deve ter compreendido por que usei a expressão "conundrum" no caso da emissão turca. Como explicar essa verdadeira corrida aos títulos de um país à beira de uma crise de confiança? E essa inconsistência fica ainda mais clara quando essa mesma corrida vem ocorrendo com outras emissões de títulos de países emergentes.
Nas palavras do espantado banqueiro que acompanha a emissão da Turquia, o início de 2014 é o mais ativo no que diz respeito a volume de novas colocações de papéis de emergentes. Nesse sentido a Turquia é só o exemplo mais gritante desse "conundrum" --não para mim-- e que não foi explorado pela imprensa e pelos chats de mercado. E alguém está muito errado nessa história.
Na minha última coluna do ano passado, chamei 2013 de "o ano que ainda não terminou". Procurava passar ao leitor o pensamento de que vamos viver --pelo menos no início de 2014-- acontecimentos que serão apenas uma extensão do que se passou no ano velho.
Um deles é o fato de que, por mais algum tempo, os mercados vão refletir intensamente as opiniões pessoais de jornalistas econômicos e as divagações de professores universitários, deixando de lado os profissionais da análise econômica. E a crise de liquidez nos mercados emergentes é um desses eventos.
A Turquia faz emissão a juros baixos enquanto se fala em crise de emergentes; alguém está errado nessa história
Este mês nos trouxe o primeiro "conundrum" do ano no mercado financeiro. Essa expressão, resgatada há algum tempo por um ex-presidente do Fed, procura identificar os acontecimentos que vão contra o senso comum dos mercados.
Quando um "conundrum" aparece, duas leituras opostas podem ocorrer: a primeira é que algo estranho, novo, inusitado pode estar realmente ocorrendo e será preciso algum esforço para entendê-lo. A outra possibilidade é que o senso comum esteja errado e o "conundrum" ocorra em razão de uma realidade mal compreendida pelos agentes econômicos.
Um exemplo clássico dessa segunda leitura é a histeria que tomou conta de alguns analistas quando o banco central americano iniciou sua experiência conhecida hoje como QE.
O apocalipse da inflação na maior economia do mundo foi pintado a tinta e a cores por vetustos senhores da comunidade de Wall Street e jovens gênios da economia encastelados nas universidades. O pobre Ben Bernanke foi estigmatizado no Congresso como traidor da pátria, e um ambicioso político republicano propôs uma lei draconiana para amarrar o Fed ao padrão-ouro.
Hoje, com a inflação americana correndo abaixo da meta de 2% ao ano e a economia crescendo mais de 3,5% em 2014, os críticos da política monetária estão calados e amargurando um vexame destruidor de qualquer reputação. E a imagem de um "conundrum" desapareceu das declarações dos mais radicais, pois evoluímos para um entendimento melhor dos canais monetários nas economias neste século 21.
Mas voltemos --até para explicar melhor-- ao primeiro "conundrum" de 2014. Enquanto escrevo esta coluna, a Turquia --apesar de toda a crise política que a cerca e a queda livre nos mercados de câmbio de sua moeda-- recebeu um total de US$ 12 bilhões de oferta para comprar títulos de crédito de dez anos de prazo em uma nova emissão que veio ao mercado. E os juros, no final do processo de precificação, devem ficar abaixo dos 6% ao ano.
Qual a imagem de "conundrum" associada a esse incrível sucesso na captação de recursos pelo Estado turco? A resposta vem da reação de surpresa verbalizada por um banqueiro associado a essa emissão, tanto em razão do volume da oferta de recursos pelos investidores como pela taxa de juros associada a ela.
A pergunta que certamente se fez o banqueiro acima citado foi esta: como esse sucesso ocorreu se a opinião generalizada, que domina a imprensa e os mercados, é que o mundo emergente caminha a passos largos para uma crise de liquidez? E a Turquia é certamente um dos elos mais frágeis dessa corrente prestes a arrebentar.
O senso comum dos analistas da economia mundial entende que a redução dos estímulos monetários, iniciado no mês de dezembro pelo Fed, deve ter continuidade na próxima reunião, no fim deste mês. Com isso, os juros americanos devem manter sua tendência de alta, o que deve arrastar, para a maior economia do mundo, um volume expressivo de recursos que se encontram hoje nos emergentes. A imprensa comprou com entusiasmo essa análise e somos bombardeados todos os dias com previsões apocalípticas. Inclusive a presidenta do FMI adotou esse discurso em suas primeiras intervenções em Davos, na Suíça.
Agora o leitor da Folha deve ter compreendido por que usei a expressão "conundrum" no caso da emissão turca. Como explicar essa verdadeira corrida aos títulos de um país à beira de uma crise de confiança? E essa inconsistência fica ainda mais clara quando essa mesma corrida vem ocorrendo com outras emissões de títulos de países emergentes.
Nas palavras do espantado banqueiro que acompanha a emissão da Turquia, o início de 2014 é o mais ativo no que diz respeito a volume de novas colocações de papéis de emergentes. Nesse sentido a Turquia é só o exemplo mais gritante desse "conundrum" --não para mim-- e que não foi explorado pela imprensa e pelos chats de mercado. E alguém está muito errado nessa história.
Na minha última coluna do ano passado, chamei 2013 de "o ano que ainda não terminou". Procurava passar ao leitor o pensamento de que vamos viver --pelo menos no início de 2014-- acontecimentos que serão apenas uma extensão do que se passou no ano velho.
Um deles é o fato de que, por mais algum tempo, os mercados vão refletir intensamente as opiniões pessoais de jornalistas econômicos e as divagações de professores universitários, deixando de lado os profissionais da análise econômica. E a crise de liquidez nos mercados emergentes é um desses eventos.
Davos real - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 24/01
“Agora, os dias começaram a fluir e todavia cada um deles era alongado pelas expectativas renovadas e inchadas com silêncio, experiências privadas. Sim, o tempo é enigmático, há alguma coisa sobre ele que é difícil explicar.” As reflexões de Thomas Mann na “Montanha Mágica" sempre parecem apropriadas quando o mundo econômico se reúne no mesmo local que inspirou a obra-prima.
Apropriadas pelo oposto. Uma espécie de reverso que nos faz perguntar: o que eles fazem em Davos com toda essa inquietação do mundo financeiro? Não há nada no livro que lembre o imediatismo das medidas com as quais os representantes dos bancos, organizações multilaterais e empresas medem o mundo, a vida, os valores.
Davos é uma estação de esqui, explicam os óbvios. É o centro do capitalismo, comemoram os que vão participar do conclave de grandes empresários, financistas, economistas, autoridades monetárias e alguns chefes de estado. A montanha sempre será, na literatura, o local que serviu de cenário para o grande escritor alemão refletir sobre o relativo do tempo.
O mundo vive agora expectativas renovadas. O pior da crise passou. Anos atrás, parecia que estavam todos condenados como os que iam se tratar da doença temida e, então, quase sempre fatal. O mal da última crise atingiu principalmente os pulmões da Europa, que pareceu sufocar nos últimos anos em dívidas, déficits, desemprego. A mesma Europa que juntava seus destroços ao fim da Primeira Guerra, ao tempo em que o autor alemão criou seus mágicos personagens.
Antes da crise de 2008, o mundo ia a Davos comemorar a febre da escalada dos investimentos, dos valores dos ativos, da euforia em relação aos emergentes. Médico — ou economista — que diagnosticasse o caráter mórbido daquele aquecimento seria tratado como um pessimista. Após a explosão da crise de 2008, os encontros de Davos lembravam o ambiente de um sanatório com todos fazendo vaticínios fatídicos para alguns dos países. Eles sobreviveram e alguns passam bem.
Quem vê, ainda que de longe, a repetição dos debates, diagnósticos, declarações, alertas, números e indicadores apresentados em Davos não consegue esquecer da repetição monótona dos dias, diagnósticos, alertas, números das temperatura do corpo dos pacientes da “Montanha Mágica". O tempo é enigmático. Ele sempre parece lento demais em Davos.
Parece que nada muda a cada ano em que de lá são enviadas ao mundo as sentenças categóricas sobre os países. Os economistas que vão a Davos são sempre os mesmos, seguem as mesmas rotinas e se reúnem para dizer as mesmas palavras. Mais inteligentes e enigmáticos eram os personagens que povoavam o Sanatório de Berghof, onde Hans Castorp, personagem central do livro de Thomas Mann, vai por descuido, apenas para uma visita, convencido de que está saudável. É apenas a solidariedade a outro enfermo, até que a trama o aprisiona e se prova que ele é outro dos que ficarão pela Montanha à espera da cura. Expectativas privadas.
Na Davos real, de hoje, a presidente Dilma Rousseff desembarca convencida de que a economia que comanda está saudável. Seus interlocutores não tem o mesmo diagnóstico. A economia cresce cronicamente pouco, abre-se um rombo em suas contas externas, o termômetro mostra sempre a inflação perto do máximo permitido. Mas o ponto em que há maior tensão é na mágica com a qual sua equipe tentou encobrir e recobrir os índices fiscais. De nada servirá a afirmação categórica, que certamente ela fará, de que seu governo tem conduzido bem a economia, que respeita tripés, metas e contratos. Melhor seria concentrar seu discurso nas virtudes, oportunidades e expectativas do país que governa. A confiança na conjuntura do Brasil oscila, mas há mais certeza nas possibilidades de médio e longo prazos.
Na Davos imaginária, o tempo é alongado. Passava mais rápido na eloquência irreverente do italiano Lodovico Settembrini. Para ele, “a crítica representa a origem do progresso e do esclarecimento". Se a presidente vai a Davos, deveria ouvir as críticas, veladas ou silenciosas. Apurar bem os ouvidos e não se deixar convencer de que as gentilezas de praxe provam que está tudo bem. As críticas serão mais úteis. Podem ajudá-la a corrigir equívocos que tiraram o brilho do seu mandato. Na eventualidade de um segundo mandato, ela terá tempo de repensar e corrigi-los.
Apropriadas pelo oposto. Uma espécie de reverso que nos faz perguntar: o que eles fazem em Davos com toda essa inquietação do mundo financeiro? Não há nada no livro que lembre o imediatismo das medidas com as quais os representantes dos bancos, organizações multilaterais e empresas medem o mundo, a vida, os valores.
Davos é uma estação de esqui, explicam os óbvios. É o centro do capitalismo, comemoram os que vão participar do conclave de grandes empresários, financistas, economistas, autoridades monetárias e alguns chefes de estado. A montanha sempre será, na literatura, o local que serviu de cenário para o grande escritor alemão refletir sobre o relativo do tempo.
O mundo vive agora expectativas renovadas. O pior da crise passou. Anos atrás, parecia que estavam todos condenados como os que iam se tratar da doença temida e, então, quase sempre fatal. O mal da última crise atingiu principalmente os pulmões da Europa, que pareceu sufocar nos últimos anos em dívidas, déficits, desemprego. A mesma Europa que juntava seus destroços ao fim da Primeira Guerra, ao tempo em que o autor alemão criou seus mágicos personagens.
Antes da crise de 2008, o mundo ia a Davos comemorar a febre da escalada dos investimentos, dos valores dos ativos, da euforia em relação aos emergentes. Médico — ou economista — que diagnosticasse o caráter mórbido daquele aquecimento seria tratado como um pessimista. Após a explosão da crise de 2008, os encontros de Davos lembravam o ambiente de um sanatório com todos fazendo vaticínios fatídicos para alguns dos países. Eles sobreviveram e alguns passam bem.
Quem vê, ainda que de longe, a repetição dos debates, diagnósticos, declarações, alertas, números e indicadores apresentados em Davos não consegue esquecer da repetição monótona dos dias, diagnósticos, alertas, números das temperatura do corpo dos pacientes da “Montanha Mágica". O tempo é enigmático. Ele sempre parece lento demais em Davos.
Parece que nada muda a cada ano em que de lá são enviadas ao mundo as sentenças categóricas sobre os países. Os economistas que vão a Davos são sempre os mesmos, seguem as mesmas rotinas e se reúnem para dizer as mesmas palavras. Mais inteligentes e enigmáticos eram os personagens que povoavam o Sanatório de Berghof, onde Hans Castorp, personagem central do livro de Thomas Mann, vai por descuido, apenas para uma visita, convencido de que está saudável. É apenas a solidariedade a outro enfermo, até que a trama o aprisiona e se prova que ele é outro dos que ficarão pela Montanha à espera da cura. Expectativas privadas.
Na Davos real, de hoje, a presidente Dilma Rousseff desembarca convencida de que a economia que comanda está saudável. Seus interlocutores não tem o mesmo diagnóstico. A economia cresce cronicamente pouco, abre-se um rombo em suas contas externas, o termômetro mostra sempre a inflação perto do máximo permitido. Mas o ponto em que há maior tensão é na mágica com a qual sua equipe tentou encobrir e recobrir os índices fiscais. De nada servirá a afirmação categórica, que certamente ela fará, de que seu governo tem conduzido bem a economia, que respeita tripés, metas e contratos. Melhor seria concentrar seu discurso nas virtudes, oportunidades e expectativas do país que governa. A confiança na conjuntura do Brasil oscila, mas há mais certeza nas possibilidades de médio e longo prazos.
Na Davos imaginária, o tempo é alongado. Passava mais rápido na eloquência irreverente do italiano Lodovico Settembrini. Para ele, “a crítica representa a origem do progresso e do esclarecimento". Se a presidente vai a Davos, deveria ouvir as críticas, veladas ou silenciosas. Apurar bem os ouvidos e não se deixar convencer de que as gentilezas de praxe provam que está tudo bem. As críticas serão mais úteis. Podem ajudá-la a corrigir equívocos que tiraram o brilho do seu mandato. Na eventualidade de um segundo mandato, ela terá tempo de repensar e corrigi-los.
O Brasil reinventou a roda? - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 24/01
Começa a se difundir a ideia de que o crescimento econômico não é lá muito relevante para o 'povo'
DESDE A METADE do ano passado, mais ou menos, tem se difundido a ideia entre alguns "formadores de opinião" de que o crescimento da economia não é um indicador relevante para avaliar o sucesso socioeconômico e das políticas do governo.
Articulistas relevantes na imprensa e até economistas, além de, claro, o governo em especial, de certo modo menosprezam o crescimento. Mais relevantes seriam o desemprego baixo, o aumento da renda do trabalho e do consumo e a redistribuição de renda por meio de benefícios sociais crescentes.
Até um articulista do "New York Times" levou água para esse moinho. Na segunda-feira, o colunista Joe Nocera publicou no jornal americano um artigo intitulado "O Brasil tem a resposta?", que inadvertidamente referenda a tese de que "a economia vai mal, o povo vai bem", texto que teve certa repercussão aqui no Brasil.
Nocera na verdade usa o Brasil como "escada" para fazer uma crítica ao seu país. Os EUA voltam a crescer, mas não há empregos, a desigualdade de renda cresce, a classe média desaparece, prega-se a redução de benefícios sociais. Do que valeria então crescer?
No Brasil, é diferente. O governo esquerdista "não perde grande tempo se preocupando com o crescimento em si mesmo, mas o relaciona à redução da pobreza e ao crescimento da classe média". Para tanto, diz Nocera, o país tem um salário mínimo alto, dificulta muito as demissões, controla o preço da gasolina e tem o Bolsa Família.
Antes de mais nada, diga-se que é mesmo revoltante que um país riquíssimo como os EUA tenha, relativamente, tanta pobreza.
Isto posto, e para mencionar de modo sumário a primeira de algumas ingenuidades de Nocera, note-se que a renda per capita dos americanos equivale a 4,5 vezes à dos brasileiros. Crescer não é mesmo o maior dos problemas dos EUA. Nós somos ainda pobres, lá pelo 75° lugar no ranking mundial de renda per capita. Mesmo se fosse possível redistribuir "tudo", de pronto (e não é), nossa paisagem seria cinzenta.
Segundo, sem crescimento, como deveria parecer óbvio, as possibilidades de redistribuição de renda tendem a ficar cada vez mais limitadas. Redistribuir renda, de resto, não é uma tarefa que se pode realizar à la Robin Hood, sem maiores complicações.
Mesmo que o aumento da tributação necessário para redistribuir seja feito do modo mais racional possível (nunca é), impostos maiores podem causar ineficiências econômicas, mudam os incentivos para investir e trabalhar, refazem a estrutura econômica de um modo que não pode ser o mais eficaz (quando não causam colapso no crescimento) e, obviamente, a partir de um certo limite causam conflito político agudo e muita vez contraproducente.
Isso não é uma recomendação de conservadorismo, mas uma observação rápida sobre como o caminho mais rápido para a redução da desigualdade e, em particular, da pobreza, pode não passar pela redistribuição acelerada. Mas o assunto pede pelo menos um outro artigo.
Para terminar, cabe lembrar que, pelo menos no caso do governismo, essa conversa de que o povo vai bem apesar do Pibinho só apareceu mesmo quando foram para o brejo os delírios de crescimento de 6% ou 4%.
Começa a se difundir a ideia de que o crescimento econômico não é lá muito relevante para o 'povo'
DESDE A METADE do ano passado, mais ou menos, tem se difundido a ideia entre alguns "formadores de opinião" de que o crescimento da economia não é um indicador relevante para avaliar o sucesso socioeconômico e das políticas do governo.
Articulistas relevantes na imprensa e até economistas, além de, claro, o governo em especial, de certo modo menosprezam o crescimento. Mais relevantes seriam o desemprego baixo, o aumento da renda do trabalho e do consumo e a redistribuição de renda por meio de benefícios sociais crescentes.
Até um articulista do "New York Times" levou água para esse moinho. Na segunda-feira, o colunista Joe Nocera publicou no jornal americano um artigo intitulado "O Brasil tem a resposta?", que inadvertidamente referenda a tese de que "a economia vai mal, o povo vai bem", texto que teve certa repercussão aqui no Brasil.
Nocera na verdade usa o Brasil como "escada" para fazer uma crítica ao seu país. Os EUA voltam a crescer, mas não há empregos, a desigualdade de renda cresce, a classe média desaparece, prega-se a redução de benefícios sociais. Do que valeria então crescer?
No Brasil, é diferente. O governo esquerdista "não perde grande tempo se preocupando com o crescimento em si mesmo, mas o relaciona à redução da pobreza e ao crescimento da classe média". Para tanto, diz Nocera, o país tem um salário mínimo alto, dificulta muito as demissões, controla o preço da gasolina e tem o Bolsa Família.
Antes de mais nada, diga-se que é mesmo revoltante que um país riquíssimo como os EUA tenha, relativamente, tanta pobreza.
Isto posto, e para mencionar de modo sumário a primeira de algumas ingenuidades de Nocera, note-se que a renda per capita dos americanos equivale a 4,5 vezes à dos brasileiros. Crescer não é mesmo o maior dos problemas dos EUA. Nós somos ainda pobres, lá pelo 75° lugar no ranking mundial de renda per capita. Mesmo se fosse possível redistribuir "tudo", de pronto (e não é), nossa paisagem seria cinzenta.
Segundo, sem crescimento, como deveria parecer óbvio, as possibilidades de redistribuição de renda tendem a ficar cada vez mais limitadas. Redistribuir renda, de resto, não é uma tarefa que se pode realizar à la Robin Hood, sem maiores complicações.
Mesmo que o aumento da tributação necessário para redistribuir seja feito do modo mais racional possível (nunca é), impostos maiores podem causar ineficiências econômicas, mudam os incentivos para investir e trabalhar, refazem a estrutura econômica de um modo que não pode ser o mais eficaz (quando não causam colapso no crescimento) e, obviamente, a partir de um certo limite causam conflito político agudo e muita vez contraproducente.
Isso não é uma recomendação de conservadorismo, mas uma observação rápida sobre como o caminho mais rápido para a redução da desigualdade e, em particular, da pobreza, pode não passar pela redistribuição acelerada. Mas o assunto pede pelo menos um outro artigo.
Para terminar, cabe lembrar que, pelo menos no caso do governismo, essa conversa de que o povo vai bem apesar do Pibinho só apareceu mesmo quando foram para o brejo os delírios de crescimento de 6% ou 4%.
Marina leva São Paulo - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 24/01
São todos ‘mui amigos’!
O candidato do DEM ao governo do Rio, Cesar Maia, que está no altar à espera do candidato tucano ao Planalto, senador Aécio Neves (PSDB-MG), publicou ontem uma entrevista com um tal “deputado A”, do PSB. Nela, esse socialista afirma que, se o partido mantiver sua aliança com o PSDB em São Paulo e Minas Gerais, contra a vontade de Marina Silva, esta não só deixará de aceitar a vice na chapa de Eduardo Campos como não entrará de cabeça na campanha. Por isso, o “deputado A” diz que a insistência de Aécio em defender o apoio ao PSDB nos estados é porque ele “sabe que Marina, como vice de Eduardo, é imprescindível para nossa competitividade”.
“Os ‘rolés sociais’, que ocorrem nos shoppings, são protestos de jovens das periferias, repudiando a discriminação contra pobres, negros e favelados nesses ‘santuários do consumo’”
Júlio Miragaya,
Conselheiro do Conselho Federal de Economia
O alvo
A van que transportava o presidente da Câmara, Henrique Alves, e os ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e Garibaldi Alves (Previdência), anteontem, em Natal, foi cercada, apedrejada e teve um vidro quebrado.
Arisco
O futuro ministro Arthur Chioro (Saúde) não quer colocar o carro na frente dos bois. Aos que o tratam como ministro, corrige: “Secretário!”. Aos que perguntam de seus planos, explica: “Qualquer declaração seria precipitada, e eu tenho juízo”. Aos que querem saber a data da posse, desconversa: “Não fui nem convidado ainda”.
Gol contra
Às vésperas da realização da Copa no Brasil, a Infraero resolveu anunciar uma reestruturação. A instabilidade é ampla, geral e irrestrita. Os funcionários relatam que ela envolve cortes que podem reduzir em até 50% os vencimentos.
Os limites do orçamento impositivo
O pagamento obrigatório das emendas individuais dos parlamentares não é totalmente garantido. O governo pode alegar “impedimentos de ordem técnica” para não liberar os recursos no final do ano. Os órgãos têm até abril para informar os problemas. Líderes dos partidos sentenciam: abril será a hora da verdade.
Perdidos no espaço
Um eleitor de Ipanema recebeu ontem mensagem no celular, enviada pelo telemarketing da campanha a governador do deputado Anthony Garotinho (PR), perguntando: “O que falta para a Baixada Fluminense melhorar?”.
O famoso ‘Quem?’
O governador do Ceará, Cid Gomes, é solenemente ignorado por seu novo partido, o PROS. Na página do partido na internet, o único governador da nova legenda não é sequer notícia.
A GOVERNADORA Rosalba Ciarlini (DEM-RN) tentou, sem sucesso, na inauguração da Arena das Dunas, tabelar com a presidente Dilma.
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