A imagem de opositores nas ruas fez com que alguma coisa subisse à cabeça de Bolsonaro. O principal problema do país hoje é a pandemia. Bolsonaro diz que não pode agir contra o vírus. Alega que o Supremo proibiu. Para aproveitar o tempo livre, elege suas próprias priodidades. Avalia que o "grande problema do momento" é o fato de que seus adversários "estão começando a colocar as mangas de fora." Refere-se às manifestações do último domingo. Tomado pelas palavras, Bolsonaro oscila entre a mentira e a autoritarismo.
Bolsonaro mente quando diz que o Supremo o impediu de agir na pandemia. O que o plenário da Suprema Corte fez foi reconhecer que as três esferas da federação —municípios, estados e também a União— têm poderes para adotar medidas relacionadas à saúde. O presidente sabe disso. No mês passado, quando ele atravessou a Praça dos Três Poderes com uma caravana de empresários para despejar a crise no colo do Supremo, o ministro Dias Tofolli o estimulou a coordenar o gerenciamento da crise sanitária a partir de Brasília.
Bolsonaro flerta com o autoritarismo quando se queixa das mangas de fora dos adversários depois de prestigiar por sete semanas seguidas manifestações de rua dos seus devotos. O presidente revela uma visão peculiar de democracia. Para Bolsonaro, democracia começa quando a rua o chama de "mito" e termina quando o asfalto o critica.
A democracia funcionou plenamente no domingo, assegurando aos opositores de Bolsonaro o mesmo direito dos apoiadores do presidente de exercitar a irresponsabilidade sanitária. Ficou entendido que Bolsonaro não é o dono da rua. Se continuar terceirizando responsabilidades em vez de enfrentar os problemas, o presidente logo perceberá que a democracia é um regime em que as pessoas têm ampla e irrestrita liberdade para exercitar a sua capacidade de fazer besteiras por conta própria. Em 2022, a maioria do eleitorado talvez prefira cometer uma besteira diferente.
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