Coronavírus derruba economias em escala recorde; emergentes devem sofrer mais
Já não há dúvida de que a pandemia do novo coronavírus provocará a maior retração da atividade econômica mundial desde a Grande Depressão, iniciada em 1929.
A queda da produção e da renda, abrupta e generalizada em todas as regiões, traz desafios inéditos para os governos e riscos sociais ainda não plenamente compreendidos.
Nos Estados Unidos, a queda do Produto Interno Bruto no primeiro trimestre foi de 4,8%, em valores anualizados, ante o trimestre anterior. Trata-se, contudo, apenas do impacto inicial, já que as restrições para conter a disseminação da epidemia passaram a ser adotadas ao longo de março.
Para o período abril-junho espera-se uma contração dramática, de até 30% na mesma base de comparação. Mesmo nos cenários mais positivos, com distensão paulatina do isolamento social e uma retomada na segunda metade do ano, o PIB americano deve terminar 2020 com baixa de 5%.
O mesmo padrão se dá na Europa, com projeções de encolhimento de 5% a 12% na zona do euro. No Brasil, as estimativas rondam os 3% por ora, mas o tombo esperado aumenta a toda semana. Para o mundo, de forma agregada, o Fundo Monetário Internacional prevê retração de 3% neste ano, ante alta de 2,9% antes da crise.
O cálculo pressupõe uma recuperação sem nova interrupção por eventual ressurgimento do contágio. Os cenários alternativos são mais negativos, seja por uma segunda onda de infecção ou por lentidão na saída das quarentenas.
Mesmo assim, não se pode descartar surpresas positivas, caso a epidemia seja controlada. Um fator para isso é a reação dos governos, que tentam minorar a recessão e evitar perdas permanentes de renda e empregos por meio de transferências orçamentárias.
O custo até aqui em geral passa de 5% do PIB e não raro chega ao dobro disso nos países ricos.
Mas, se a pandemia é democrática em sua chegada, atingindo a todos, o mesmo não se dá nas consequências. Há enorme diferença em meios para uma resposta do Estado na intensidade necessária.
Países cujas moedas são aceitas como reserva de valor —caso do dólar e do euro— têm maior facilidade em elevar seu endividamento. Já as nações emergentes enfrentam mais restrições, com riscos de fuga de capitais e interrupção de acesso a financiamento.
O mundo todo sairá desta crise mais endividado e, tudo indica, mais desigual. A crise, por outro lado, aponta com clareza onde estão as carências e, dependendo de boas decisões políticas, poderá abrir espaço para novas prioridades nas políticas governamentais.
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