Reações institucionais a seus destinos precisam lhe provocar dor
É possível definir inteligência como a capacidade de aprender. Num sentido muito básico, todos os seres humanos e um bom número de bichos conseguem extrair lições das regularidades da natureza.
A assimilação é fácil quando o intervalo entre a causa e o efeito é instantâneo ou muito breve. Não precisamos de mais do que uma ou duas experiências negativas para aprender que não devemos pôr a mão no fogo. Nos animais um pouco mais complexos, dor e prazer são as moedas de troca que intermedeiam e dão valência a nosso aprendizado do mundo.
O que diferencia homens de outros bichos é que desenvolvemos ferramentas que nos permitem aprender mesmo quando o intervalo entre causa e efeito é longo e não é intermediado por nenhum processo homeostático.
Essa ferramenta é o método científico. Com ele, conseguimos concluir que até coisas prazerosas, como fumar, podem gerar danos, como câncer ou enfisema, com três ou quatro décadas de atraso. Como a ciência abusa de raciocínios abstratos e exige alguma sofisticação estatística, nem todos os humanos conseguem acompanhá-la, nem mesmo em sua versão para divulgação.
Fiz essa longa digressão para falar de Jair Bolsonaro. O presidente já deu repetidas mostras de que pertence ao grupo dos que desprezam a ciência e só aprendem quando a experiência é dolorosa e se segue imediatamente ao estímulo.
O corolário dessa constatação é que, se insistirmos em ignorar os desmandos presidenciais, Bolsonaro continuará a perpetrá-los. Esse ciclo só será interrompido se conseguirmos fazer com que aos desatinos do mandatário se sucedam reações institucionais que lhe provoquem dor.
O STF finalmente começou a traçar limites. Falta agora o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, deixar de lado a pusilanimidade e destravar algum pedido de impeachment. É só essa a linguagem que Bolsonaro, como um pombo de Skinner, parece ser capaz de assimilar.
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