A face mais perversa da pandemia ficou evidente
A calamidade que estamos enfrentando evidenciou a face mais perversa de alguns políticos e empresários: a velhofobia.
Estamos assistindo horrorizados a discursos sórdidos, recheados de estigmas, preconceitos e violências contra os mais velhos:
"Vamos todos nos contaminar para criar imunidade e esta epidemia acabar logo. Só irão morrer alguns velhinhos doentes". "Deixem os jovens trabalharem. Não vamos parar a economia para salvar a vida de velhinhos". "Só velhinhos irão morrer, eles iriam morrer mesmo, mais cedo ou mais tarde".
Este tipo de discurso revela uma situação dramática que já existia antes da pandemia: os velhos são considerados inúteis, desnecessários e invisíveis. Homens e mulheres mais velhos, que já experimentam uma espécie de morte simbólica, ficam desesperados ao constatar que são considerados um peso para a sociedade.
No entanto, a forte reação contra esses sociopatas prova que os mais velhos são muito valiosos e importantes para os brasileiros. Faremos tudo o que for necessário para demonstrar que os nossos velhos não são um peso, muito pelo contrário. São eles que estão nos ajudando a encontrar força e coragem para sobreviver física e mentalmente. São eles que estão nos ensinando a ser pessoas mais amorosas e generosas. São eles que estão cuidando de nós, como fizeram durante toda a vida.
Muitos dos que disseminam o discurso de ódio e de extermínio dos mais velhos já passaram dos 60 anos. É urgente que eles aprendam uma lição importante:
A única categoria social que une todo mundo é ser velho. A criança e o jovem de hoje serão os velhos de amanhã. Os velhofóbicos estão construindo o seu próprio destino como velhos, e também o destino dos seus filhos e netos: os velhos de amanhã.
Será que estes genocidas serão tão amados e protegidos como são os nossos velhos ou serão tratados como "velhinhos descartáveis"?
Mirian Goldenberg
Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio, é autora de "A Bela Velhice".
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