quinta-feira, abril 09, 2020

Brasil é pressionado pela Opep a reduzir produção de petróleo - MANOEL VENTURA

O GLOBO - 09/04

Países exportadores tentam costurar acordo de corte de até 10 milhões de barris por dia, o que viabilizaria a recuperação de preço do produto


BRASÍLIA - O governo brasileiro está sendo pressionado a participar de um acordo costurado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para cortar a produção global de petróleo, de maneira a fazer subir o preço do produto em todo o mundo. As conversas se intensificaram nos últimos dias, mas ainda não há decisão tomada por parte do Brasil, segundo fontes que acompanham as negociações.

O ministro de Minas e Energia do Brasil, Bento Albuquerque, teve uma longa reunião na terça-feira com o secretário de Energia dos Estados Unidos, Dan Brouillette, para discutir o assunto. O aumento dos preços também pode interessar aos EUA por causa da forma como o petróleo é extraído naquele país.

Um patamar muito baixo, segundo especialistas, dificulta a produção do petróleo de xisto. Fraturas e perfurações hidráulicas em campos de xisto converteram os Estados Unidos em um poderoso exportador da commodity.

Os países membros da Opep se reúnem hoje para discutir um corte coletivo na produção, que pode chegar a dez milhões de barris por dia — o maior da história — como forma de combater os efeitos do coronavírus, que tem prejudicado muito a demanda. Com menos petróleo disponível, o preço sobe.

Contribuição esperada
Uma outra reunião está marcada para sexta-feira, dessa vez no âmbito do G-20, também para discutir o choque dos preços. O ministro de Minas e Energia confirmou sua presença na reunião com representantes dos países do G-20 e tem mantido contato com autoridades da Arábia Saudita e dos Estados Unidos.

Dessa reunião pode sair o anúncio de um esforço coordenado entre as potências petrolíferas para, de forma pontual, enxugar a sobreoferta global.

Integrantes do cartel internacional do petróleo fizeram chegar às autoridades brasileiras que qualquer acordo final sobre quanto a Opep e seus aliados (um grupo chamado de Opep+) cortará vai depender substancialmente do quanto Brasil, Estados Unidos e Canadá estão dispostos a contribuir.

O ministro brasileiro conversou no domingo com o seu homólogo da Arábia Saudita, príncipe Abdulaziz bin Salman Al Saud. Segundo o ministério informou, o príncipe perguntou se o Brasil “se inclinaria a integrar o esforço de coordenação internacional na busca de mecanismos que contribuam para a estabilização do mercado internacional de petróleo”.

Impacto para estados
A tendência é que uma decisão final só seja tomada na reunião de sexta-feira, do G-20. O objetivo no corte de produção é aumentar o preço do barril de petróleo, que está em níveis historicamente baixos por conta da falta de demanda causada pelo coronavírus, na casa dos US$ 30.

O Brasil se tornou um player importante nas negociações porque hoje o país é um dos dez maiores exportadores de petróleo do mundo. Um corte na produção, porém, pode impactar diretamente as contas de estados e municípios produtores, além do próprio governo federal.

Há dúvidas, porém, de como o Brasil poderia cortar sua produção, caso seja essa a decisão. A Petrobras, estatal, é a principal empresa do setor, mas o país tem um ambiente de negócios marcado por pluralidade de companhias privadas.

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