Presidente se esqueceu de si próprio e de seus ministros
Jair Bolsonaro foi ligeiro ao atender empresários e autorizar cortes salariais de até 100% na iniciativa privada. Tragédia posta para o trabalhador cuja renda despencará, mas pior seria a demissão.
Ao repartir entre os brasileiros o pão que o diabo amassou na crise sanitária, o presidente se esqueceu de si próprio e de seus ministros.
Por ora, nenhum deles se propôs, ao menos publicamente, a abrir mão de um mísero naco dos rendimentos obtidos da Viúva.
Continuam pingando em suas contas os mesmos R$ 30,9 mil mensais dos tempos de normalidade, fora penduricalhos obscenos como o auxílio-moradia.
O pacote de sacrifícios de Bolsonaro preserva a própria casta e toda a cúpula do funcionalismo, habituadas a receber primeiro as graças do Estado e a delas nunca desapegar.
A redução salarial nos andares de cima teria impacto fiscal diminuto, mas significativa simbologia quando o grosso da população está em apuro financeiro e o rombo nas contas públicas se amplifica.
Em outros países, o senso de autopreservação ficou de lado. No Uruguai, por exemplo, Lacalle Pou anunciou redução de 20% do que ganham ele próprio e seus pares.
Aqui, o corte é um desafio não só pela inércia política, mas porque a Constituição prevê a irredutibilidade dos salários do funcionalismo.
Essa proteção se aplica a esses ganhos em especial, mas não necessariamente vale para ajudas de custo, adicionais, gratificações, honorários e outros balangandãs que servem para aumentar os zeros nos contracheques e fazem do teto salarial uma fábula.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, aventou projeto para morder um quinto dos salários de quem ganha mais nos Três Poderes, mas recuou ao buscar a adesão do Judiciário e receber um Supremo não.
Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, permanecem silentes a respeito, enquanto imolam direitos"¦ dos outros.
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