O GLOBO - 13/07
Quando, no início do debate sobre a reforma da Previdência, o deputado Paulinho da Força, líder do Solidariedade, disse que os deputados aprovariam uma reforma que não ajudasse o presidente Bolsonaro a se reeleger, estava fazendo um sincericídio ao mesmo tempo revelador e incoerente.
Revelador da velha política de raiz, que só pensa nos seus interesses pessoais. Incoerente porque, se aprovar a reforma daria a Bolsonaro condições de se reeleger, é que ele a considerava boa para seus representados, os trabalhadores.
Líder sindical que disputa com a CUT o campo do trabalhismo, Paulinho da Força se caracteriza por uma atuação oportunista, e parece ter perdido o freio, não distingue mais o que só deve pensar, e não dizer.
No decorrer do processo de negociação da reforma da Previdência, descobriu-se que o pensamento de Paulinho refletia talvez o pensamento médio do plenário da Câmara, e se não fosse o trabalho de Rodrigo Maia, inclusive junto ao próprio Paulinho, a votação teria sido mais difícil.
Mas outro fator ajudou a desvanecer esse sentimento, o avanço da compreensão da população de que a reforma é urgente, diante do descalabro de nossas contas públicas. O que parecia apenas uma ameaça retórica, transformou-se em uma realidade próxima. A continuar assim, não haverá dinheiro para pagar as aposentadorias.
Já desde o final do governo Temer que a campanha oficial para explicar a necessidade da reforma havia acertado o tom. Uma reforma contra os privilégios pareceu aos cidadãos a favor da maioria. O governo Bolsonaro aprofundou essa mensagem, e o sentimento foi mudando, ajudando também a mudar a posição dos deputados.
Uma atitude temerária ao começo, agora já se mostrava aos deputados bandeira quase popular. Mas existe ainda, sob os escombros da oposição, quem pretenda levar junto o conjunto dos deputados. E o sincericídio de Paulinho da Força ainda tem seus adeptos.
Essa união de uma oposição sem proposta construtiva, só disposta a negar a realidade, e os espertalhões de sempre que não querem o sucesso do governo, produziu destaques que, se aprovados, levariam por água abaixo os esforços de redução dos custos do sistema previdenciário deficitário.
A idéia de desidratar a reforma com destaques foi alardeada por lideranças da oposição que, sem possibilidade de ganhos, não se envergonha da politica destrutiva. O próprio governo Bolsonaro deu um tiro no seu pé institucional, embora tenha preservado o outro, populista e eleitoreiro.
Ao ceder à pressão da chamada bancada da bala, núcleo duro dos extremistas que o apóiam, e criar uma regra de aposentadoria mais branda para policiais federais, previsivelmente abriu a porteira para outras bancadas: a dos professores, a evangélica, a feminina, e por aí vai.
Bolsonaro, que tentou governar com as bancadas, deixando os partidos de lado, acabou sucumbindo a elas. Concessões que devem desidratar a economia da reforma em cerca de R$ 50 bilhões em dez anos. Outras propostas, mais graves, vindas do PT, poderiam prejudicar ainda mais o resultado final.
Foram três derrotas seguidas por 340 votos, mesmo tratando-se de destaques que mexiam com o sentimentalismo dos deputados, supostamente defendendo interesses dos trabalhadores, das viúvas.
O adiamento da votação do segundo turno para agosto não tem consequências práticas, já que o Senado estará em recesso também. Mas deu a medida da reação ainda existente, embora a maioria de mais de 308 votos tenha sido mantida sem grandes dificuldades em todas as votações.
Mantendo regras atuais, o PT queria fazer da reforma uma reafirmação do sistema que faliu. Sem colocar nada no lugar. Exemplar de uma oposição que continua ligada ao passado, sem poder criar o futuro.
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