Já não se pode descartar um cenário de piora mais aguda na economia
Com o acirramento das tensões entre Estados Unidos e China e queda continuada das projeções para o crescimento econômico mundial, já não se pode descartar um cenário de piora mais aguda.
Trata-se de mudança considerável em relação ao cenário vigente no início do ano, quando parecia viável uma retomada e um acordo entre as duas grandes potências.
Embora não se possa descartar mais uma reviravolta nos humores do presidente americano, Donald Trump, em favor de um entendimento, foi consolidada a percepção de um conflito de longo prazo.
Os dados mais recentes sugerem que o Produto Interno Bruto mundial deve crescer em torno de 3% neste ano, abaixo da tendência de longo prazo. Na China, o ritmo de alta da produção industrial e do investimento caiu em junho ao menor nível em 20 anos, enquanto a Europa se debate com uma persistente recessão industrial.
Nesse ambiente, as pressões inflacionárias, que já eram baixas, ficam ainda menores e abrem espaço para mais uma etapa de estímulos por parte das autoridades.
No caso do Federal Reserve, o banco central americano, seus membros já sugerem que os juros, hoje em torno de 2,5% anuais, podem cair nos próximos meses. A expectativa é que a reunião do comitê de política monetária, na quarta (19), defina os próximos passos.
Não deixa de ser surpreendente que tal panorama venha a se configurar a esta altura. Afinal, a economia americana está próxima do pleno emprego, com a menor taxa de desocupação (3,6%) em pelo menos quatro décadas e elevados índices de confiança.
Mesmo nesse contexto ainda exuberante, porém, a inflação permanece abaixo de 2%, a meta perseguida pelo Fed. Se isso ocorre mesmo no melhor momento do ciclo econômico, com juros tão baixos, o risco é que o banco central se veja sem instrumentos de reação se e quando chegar a próxima recessão.
O fenômeno não se resume aos Estados Unidos. Nas últimas semanas, um grande número de bancos centrais ao redor do mundo mudou sua orientação em favor de cortes no custo do dinheiro.
Novos estímulos são prováveis na Europa, na China e em outros emergentes. Não se descarta que também o BC brasileiro opte por essa estratégia na próxima semana.
A queda dos juros globais, especialmente se liderada pelo Fed, sugere um ambiente de cautela. Mas há um componente potencialmente favorável —a desvalorização do dólar, quase sempre bem-vinda em países em processo de ajuste de suas contas, como o Brasil.
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