Nesta década, nosso PIB vai crescer cerca de 8,7% no acumulado. Exatamente a média anual dos anos 70
É preciso esforço para descolar o nariz das banalidades do cotidiano. Da mesma maneira que um nadador no mar, longe da costa, levanta a cabeça para assegurar sua direção, é preciso às vezes aferir para onde vamos. Um estudo recente publicado pela Goldman Sachs (Brazil: Two Lost Decades in Forty Years – Could it lose half a century?, A. Ramos, P. Mateus e G. Fritsch) oferece uma oportunidade para este exercício. Avaliar o progresso de uma nação é sempre um desafio. A convenção é tomar o PIB como métrica, o que está longe de ser simples para períodos mais longos, já que essa metodologia só se consolidou em meados do século passado.
Entre 1900 e 1940, o Brasil acumulou um crescimento do produto da ordem de 461%, com expansão acima de 50% em todas as décadas. Mesmo considerando o crescimento populacional acumulado de 136%, o aumento da renda per capita foi significativo, 2,2% ao ano. Ficou melhor ainda no período seguinte, entre 1940 e 1980, quando o PIB se expandiu nada menos que 1.436,8%, com média superior a 7% ao ano. Em termos per capita, isso significou 4,2% ao ano. Sim, já fomos uma China. O terceiro período de 40 anos está quase no seu final, mas seu destino está selado. Levando em conta o que o mercado projeta para 2019 e 2020, a expansão acumulada entre 1980 e 2020 vai ficar abaixo de 140%. Nesta fase, temos duas décadas perdidas. Nos anos 80, o PIB cresceu miseráveis 18,4%, com queda de 4,3% na renda per capita. Na década atual, o PIB vai crescer ainda menos, cerca de 8,7% no acumulado. Este porcentual é exatamente a média anual que crescemos nos anos 70. Dez anos em um. Se a renda per capita não cair, será pela única razão que o crescimento da população hoje é menos da metade do registrado nos anos 80.
Ao ritmo que vínhamos até 1980 o PIB dobrava a cada 13 anos. No passo dos 40 anos seguintes, o PIB dobra a cada 32 anos. Se pegarmos apenas a década de 2010, teremos de esperar 83 anos para que o produto se multiplique por dois. Este descaminho é nosso; o mundo continuou crescendo. Em 1980, o produto per capita brasileiro (em dólares constantes) era 58% maior que o do Chile e 71% menor que o dos EUA. Em 2017, ele foi 28% menor que o do Chile e 80% menor que o produto per capita americano.
Quando foi que nos perdemos? Na década de 80 podemos colocar a culpa no aumento dos juros internacionais, que quebrou países com alta dívida externa – ainda assim, será preciso questionar a incúria do próprio endividamento excessivo. Nos anos recentes, a crise é quase totalmente feita pela mão do homem, vale dizer, pela adoção de políticas equivocadas. O páreo é duro, mas a estultice que se destaca talvez seja a ideia de que os gastos públicos geram crescimento que provocará aumento da arrecadação em montante suficiente para fundear os gastos iniciais – um moto-contínuo. Também assistimos, mercê da debilidade das instituições, ao saqueamento sistemático do Estado por grupos organizados, na fúria incansável de extrair benefícios, privilégios e sinecuras. O resultado foi uma crise fiscal que ameaça quebrar o País.
Pensar que a aprovação da reforma da Previdência vai “destravar” o crescimento é doce ilusão. Não há nenhuma força que está sendo contida. O motor do crescimento está desligado. A reforma é fundamental para evitar um mal maior. Sem demanda, a capacidade ociosa e o desemprego continuarão altos. A reconstrução é tarefa de muitos anos. O IBGE nos informa que nasce um brasileiro a cada 19 segundos. Foram 6 durante a leitura deste artigo. O que eles encontrarão pela frente? Se a resposta for um país com menos educação e mais armas, perderemos mais uma década.
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