O mercado financeiro ignorou o novo rebaixamento da nota do Brasil na avaliação de risco após governo desistir da Previdência; por quê?
Na semana que passou aconteceram certas anomalias, preponderantemente positivas, que têm de ser levadas em conta por quem acompanha a economia e precisa reavaliar suas aplicações financeiras.
A mais notável delas foi a reação do mercado financeiro a novo rebaixamento da nota do Brasil na avaliação de risco, desta vez pela agência Fitch, divulgado nesta sexta-feira, 23.
Para quem não acompanha de perto essas coisas, algumas noções. Essas agências de avaliação de risco existem para apontar aos credores até que ponto uma dívida é confiável, ou seja, até que ponto ela poderá deixar de ser honrada. Se o rating do título do Tesouro do Brasil foi rebaixado é porque o risco de calote aumentou, no caso em mais um degrau. A principal razão desse rebaixamento já é conhecida. É a piora do estado de saúde das contas públicas do Brasil, quando ficou claro que a reforma da Previdência Social foi outra vez pro saco, sabe-se lá até quando.
O rombo da Previdência foi de R$268,8 bilhões em 2017 e não deverá ser menor neste ano. Pior do que o aumento do rombo é a falta de perspectiva para reduzi-lo. É uma situação que aumenta a sangria do Tesouro que, assim, será obrigado a aumentar a dívida pública, que caminha rapidamente para os 80% do PIB e de lá, para o que for.
Mas, como ficou mencionado, o mercado financeiro, onde são negociados e renegociados os títulos de dívida do Brasil, praticamente ignorou o acontecido. Por exemplo, em vez de subir, o dólar caiu em reais (veja o gráfico) e em vez de cair, a Bolsa fechou para cima e bateu novo recorde, atingiu os 87.293 pontos. Outro indicador de risco, o Credit Default Swap de 5 anos, contrato no mercado de derivativos que funciona como seguro contra o calote da dívida, em vez de subir, continuou baixando.
Essa quase indiferença não se explica apenas porque o rebaixamento já era esperado, mas, principalmente, porque os mercados estão atolados em impressionantes sobras de recursos para as quais os investidores não têm opções suficientes de aplicação. Essa situação não encerra o assunto. Bastaria, por exemplo, que os grandes bancos centrais se pusessem a retirar em doses mais altas o volume de recursos que estão zanzando mundo afora para que essa tolerância para com o Brasil ameace se esfumaçar.
Outro fato marcante desta sexta-feira foi nova demonstração de fraqueza da inflação. O IPCA-15 – que mede a mesma inflação em 30 dias, com a diferença de que esse período é medido da metade de um mês à metade do outro – mostrou um avanço de apenas 0,38%, bem mais baixo do que há um ano, quando atingiu 0,54%. No período de 12 meses, a inflação acumulada ficou nos 2,86%.
Isso indica que o avanço do custo de vida em 2018 pode ficar abaixo dos 3,81% esperados. Em termos práticos, o Banco Central passou a ter forte razão adicional para continuar a baixar os juros básicos, hoje nos 6,75% ao ano.
Perspectiva de juros mais baixos é, por si só, novo empurrão para que os administradores de patrimônio aumentem suas posições em ativos de risco, principalmente ações. Esta é uma das razões para que continue a valorização da Bolsa.
A outra razão que sopra ar quente para dentro do balão da Bolsa é o desempenho da atividade econômica – que não é uma anomalia positiva, mas passou um ritmo mais forte do que o esperado. Trata-se da evolução do Índice de Atividade Econômica do Banco Central, o IBC-Br, um indicador que pretende antecipar a tomada de pulso da atividade econômica. O que saiu foi o avanço do IBC-Br em dezembro de 1,41%, que aponta para 2018 um crescimento do PIB superior aos 3% projetados por tanta gente.
Se, apesar dos pesares, esse desempenho melhor se confirmar, muita coisa tende a melhorar: mais emprego, mais poder aquisitivo, mais crescimento da indústria e mais arrecadação.
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