VALOR ECONÔMICO - 04/10
Qualquer especialista que não seja dono de instituto de pesquisa dirá que qualquer pesquisa eleitoral feita hoje, tendo o objetivo de projetar 2018, apresenta um resultado sem registro de significado. Não são quantitativas, nem qualitativas, as pesquisas hoje são ilustrativas. Porém, são também uma atração fatal, tabuleiros lúdicos, onde não faltam os dados com os nomes de sempre a serem chacoalhados e jogados ao centro da mesa.
Como são inócuas, vale tudo, todos querem saber quem está melhor situado no ranking se fosse candidato, mesmo que candidato não seja. Não há regras eleitorais aprovadas, os partidos estão mudando de nome e de sigla, não sabem se estarão vivos ou mortos, os freios de arrumação não foram acionados. Nem para manipular eleições, como as pesquisas já foram acusadas várias vezes, servem neste momento, a uma distância de um ano do evento a ser forjado.
Quem sabe numa dessas rodadas de brincadeira não aparece uma indicação de rumo, não desponta um candidato em estágio avançado de gestação, em quem se possa votar e que não sejam os nomes sempre testados, em especial os que ganham traço na preferência do eleitorado. Na base do jogo, é possível colocar qualquer um na lista, até Deus, que deverá receber mais de 80%, embora não seja candidato. Quem se importa?
Se Alckmin e Doria se unirem, o PSDB lidera a disputa
Aí está a natureza das enquetes atuais: perguntas aleatórias, em quantidade irrespondível, ou dirigidas com objetivo certo, num momento de desestrutura da política, dos partidos, das leis, para uma eleição que ainda não se sabe como será financiada ou se vai acontecer sob quais regras. Sem falar na dramática relação entre os responsáveis por conduzi-las, Poderes Legislativo e Judiciário, em cuja função se instalou uma disputa de morte em torno de todas as atribuições, um do outro, inclusive na área da regulamentação eleitoral.
Diz-se que o eleitor brasileiro, centrista (29%) ainda não tem um candidato a presidente. Vai aparecer o dono desses votos, mas nas pesquisas de hoje eles estão em lugar incerto e não sabido. O eleitor, quando responde a uma pergunta, não fica pensando se o nome que vai apontar é de esquerda, do centro ou de direita, se não pertencer realmente a um desses espectros ou à sua militância. O PSDB é de esquerda, de centro ou de direita? Só não se diz que o PSDB é de direita porque Fernando Henrique Cardoso reclamaria e lamento de tucano dura muitas conferências. O PMDB, aliado de primeira hora do PT, está situado onde? E o PT, junto com PP, PL, PSD, PR, em 13 anos de governo, será o quê? E o Rede que, em aliança com o PSB, passou por todos os vícios tradicionais de campanhas políticas? Não se manchou, foi mágico.
Essa pergunta ideológica é inútil, como também é inútil insistir na enquete só para demonstrar que Lula está em primeiro lugar. Estará sempre. O PT acredita nisso, enquanto o ex-presidente sai por aí, literalmente viajando, com um discurso igual ao de sempre que, por inadequado ao momento, inclusive da sua carreira política, soa como cantoria sem letra nem música. Mas quem vai parar o circo ainda que os dados da realidade apontem, com todas as evidências, que Lula não será candidato?
Tem 54% de brasileiros, ouvidos pelo Datafolha, que acham que Lula devia ser preso; 35% que o elegeriam em qualquer cenário; mas 87% não querem um nome com ligação à corrupção. De qual Lula estamos tratando nessa liderança da eleição?
A não ligação com a corrupção é um dos traços que se buscam no candidato. Outros são: não precisa ser novo na política (39%), tenha experiência empresarial (59%), passado político conhecido (65%), experiência administrativa (79%), nunca se envolveu com corrupção (87%). Na lista que apresentam ao eleitorado não há candidatos possíveis. Se a maioria quer Lula preso, certamente não deseja ter um presidente atrás das grades. Como casar a subjetividade da vaga simpatia e intenção de voto com o dado concreto e objetivo da economia?
Como Lula só é candidato até não ser, é claro que a maioria dos seus votos de hoje iria para o candidato do PT, ou da vizinha Marina. Fernando Haddad, ex-prefeito do partido, no entanto, tem só 2%, mesmo apoio que consegue Henrique Meirelles (PSD). Os 2% de Meirelles são tão intrigantes quanto os 35% de Lula em todos os cenários.
Essa última pesquisa mostra que cresceu o apoio à permanência de Michel Temer no governo até o fim de seu mandato: de 30 para 37%; caiu o percentual dos que achavam que Temer sair do governo é melhor do que ficar: de 65 para 59%. Isso não combina com os 5% de popularidade e o crescimento dos que acham que o Brasil está melhorando.
O próximo pleito, a depender do desenrolar das votações sobre reforma política esta semana, na Câmara e no Senado, pode ficar exatamente como está hoje: eleição barata, sem propaganda, com dinheiro do fundo partidário de R$ 1,7 bi, pulverizado para 10 candidatos a presidente, dezenas a governador, inclusive dos nanicos que vão dar um jeito de pegar uma pontinha. O STF, seguindo no programa de usurpação de atribuições, deverá votar hoje mudanças nas regras eleitorais. De que eleições estamos falando nas pesquisas?
Os partidos dão os primeiros passos para conseguir candidatos que possam apresentar na sala. O governador Paulo Hartung é disputado por várias legendas, mas deve mesmo ir para o DEM, que será Centro? O ex-ministro Joaquim Barbosa, convidado por PSB e Rede, não quer o primeiro, mas submete-se a ser vice no segundo? O prefeito João Doria sairá ou não do PSDB? Pelo partido o candidato é Geraldo Alckmin. São equações tão distantes das pesquisas quanto as definições do processo eleitoral.
Para não dizer que deu perda total, existe uma ou outra constatação de pesquisa que pode mexer, hoje, na articulação eleitoral dos partidos. Um exemplo é o cenário 5 da última pesquisa Datafolha sobre a sucessão presidencial. Apresentou-se ao eleitorado uma lista de candidatos em que aparecem Geraldo Alckmin e João Doria, ao mesmo tempo. Nos cenários anteriores, ora aparecia um, ora outro, e seus índices de apoio não variaram. Quando apontaram os dois na mesma relação, deu-se o seguinte resultado: Marina Silva lidera, com 20%, seguida de Bolsonaro, com 17%; em seguida aparecem os dois paulistas, Alckmin com 9% e Doria com 7%. Donde é possível concluir: se ficarem unidos no mesmo partido eles têm 16%, empatando na margem de erro com o primeiro lugar. É o recado da última enquete ao PSDB.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília
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