Os principais índices do mercado acionário dos Estados Unidos fecharam todos em recorde histórico de alta na segunda-feira, primeira sessão de negócios do quarto trimestre, refletindo o otimismo de que os cortes de impostos propostos pelo presidente Donald Trump vão injetar um novo gás na economia americana e, por tabela, no lucro das empresas com ações negociadas em bolsas de valores.
Se para os índices de ações nos Estados Unidos a expectativa de aprovação da reforma tributária que o governo Trump quer passar no Congresso pode ser o principal gatilho para novos recordes de alta no futuro próximo, para os ativos de mercados emergentes, como as ações negociadas na Bolsa brasileira, os cortes de impostos americanos podem representar um fator negativo pesando sobre os preços.
De um lado, uma aceleração da economia americana, impulsionada por maiores gastos de consumidores com mais renda disponível após os cortes de impostos, levaria a um aumento da inflação. O resultado disso seria juros mais elevados pelo Federal Reserve (Fed) para evitar que a inflação saia da sua meta. De outro, cortes de impostos poderiam causar um aumento no déficit fiscal dos Estados Unidos no curto prazo, forçando, no fim das contas, o Fed a elevar os juros num ritmo mais acelerado.
Alta da inflação e, por tabela, dos juros básicos pelo Fed é o combustível para valorizar o dólar frente às principais moedas internacionais, em particular a de países emergentes, como o real brasileiro.
Um dólar forte torna as aplicações denominadas na moeda americana mais atrativas e diminui a rentabilidade em dólar dos ativos denominados em moedas locais nos mercados emergentes. Resultado: o dinheiro dos investidores internacionais aplicado em países emergentes migra de volta para os Estados Unidos.
Não à toa que, enquanto o Ibovespa registrou queda de 2,16% desde o dia 20 de setembro, quando a Bolsa brasileira atingiu seu fechamento recorde de alta, a 76.004,15 pontos, até o pregão da segunda-feira (encerrando a 74.359,82 pontos), o S&P 500, um dos principais índices acionários dos Estados Unidos, atingiu o patamar histórico de 2.529,12 pontos na segunda-feira, acumulando uma valorização de 0,83% no mesmo período.
Passará o mercado acionário americano a ter um comportamento descolado das bolsas emergentes, como a do Brasil?
O estrategista de ações para mercados emergentes do banco suíço UBS, Geoff Dennis, diz que isso dependerá das razões para a alta das bolsas americanas. Na visão dele, se a alta dos índices acionários americanos fizer parte de uma tendência mais ampla de valorização das bolsas mundiais, refletindo o ambiente benigno para ativos de risco em meio a uma solidez da economia global e maior liquidez nos mercados internacionais, então esse descolamento não deve ocorrer.
Mas se o motivo for um maior impulso da economia americana, levando para cima a inflação, as taxas pagas pelos títulos do Tesouro americano e a cotação do dólar, como resultado, entre outros fatores, dos cortes de impostos propostos por Trump, daí as bolsas nos Estados Unidos devem ainda apresentar um bom desempenho, enquanto seus pares nos mercados emergentes podem ficar para trás.
Para Dennis, a correção na Bolsa brasileira até segunda-feira foi um movimento temporário. “Não vejo uma grande aceleração da economia dos Estados Unidos, levando a uma alta da taxa paga pelos títulos do Tesouro americano, o que tornaria um ambiente menos benigno para os mercados emergentes”, diz Dennis. “A perspectiva de uma reforma tributária nos EUA é muito pequena.”
Os analistas do Bank of America Merrill Lynch disseram, em nota a clientes, que é improvável o Congresso americano aprovar uma mudança significativa na legislação tributária até o ano que vem, uma vez que as negociações sobre a matéria deverão ser complexas e se arrastar. Nos cálculos desses analistas, o plano tributário proposto na semana passada pelos republicanos deve custar entre US$ 2 trilhões a US$ 3 trilhões em dez anos. Se adotado, só deve acrescentar alguns décimos à projeção deles de crescimento da economia americana em 2018, de 2,3%.
Nesse cenário, o provável é o ambiente global continuar benigno para ativos de risco e as bolsas americanas seguirem os fundamentos que alimentam o desempenho dos seus pares nos mercados emergentes mais do que se valorizarem por razões puramente da economia e política dos Estados Unidos.
Não foi à toa que o Ibovespa fechou ontem na nova pontuação histórica de 76.762,92, alta de 3,23%.
Nenhum comentário:
Postar um comentário