A REPULSA a Michel Temer e hipocrisias fizeram muito comentarista econômico bater no resultado do PIB do primeiro trimestre, que foi bastante bom enquanto durou, no entanto. Dada a imundície política, não sabemos mais o que virá.
Alguns outros, como se tivessem desembarcado ontem no Brasil, vindos de Andrômeda ou do Planeta Mongo, diziam que é "preciso cautela", ou outro clichê, pois a economia cresceu "apenas" com o impulso de agricultura e exportações (e estoques, aliás).
Poderia ter crescido com base no impulso da venda de pão de queijo para a Mongólia ou da construção de pirâmides, tanto faz. Certamente o impulso não viria agora de consumo privado, gasto do governo ou investimento privado. Era óbvio.
Esta nossa situação é o resultado do desastre Dilma Rousseff combinado à política econômica de Michel Temer e seus amigos de Patópolis, os empresários do Pato Amarelo, inimigos de um plano que contasse com aumento de impostos, por exemplo.
Isto posto, o resultado do primeiro trimestre foi bom, no âmbito do que seria possível esperar com realismo para este 2017.
Ou seja, um crescimento no máximo equivalente ao do aumento da população, 0,8%: estagnação do PIB per capita. Com resultados melhorzinhos ao longo do ano, seria possível esperar uma aceleração em 2018, quem sabe para 3%.
Esta seria uma recuperação baseada apenas na redução da taxa de juros e das dívidas de famílias, empresas e governo (sem imposto, a contenção de deficit e dívida fica mais lerda).
Levaria tempo, pois. A maioria dos economistas, que aceitou o plano, não poderia esperar outra coisa, afora milagres.
"Seria", "levaria": futuro do passado. O tumulto político pode estancar o único impulso macroeconômico maior, taxas de juros em baixa rápida.
Além do mais, um choque de confiança pode reforçar a retranca de consumidores, empresas e bancos –até julho, pouco vamos saber disso.
Enfim, ainda bem que a agricultura é capaz. Sim, fazendo estritamente menos de 6% do PIB, não pode carregar a economia nas costas. Mas o aumento da renda agropecuária se disseminava por fabricação de insumos, mesmo máquinas; auxiliou o setor de serviços, como transportes.
A safra ajudou a derrubar a inflação, com o que a massa de rendimentos do trabalho e o consumo das famílias pelo menos pararam de cair, na prática, apesar do desemprego brutal.
A partir daqui, o piparote nos gastos com o dinheirinho do FGTS e a queda de juros poderia manter a economia à tona, embora com água pelo nariz.
O sucesso do plano de estabilização econômica e outros reparos permitiria alguma retomada de consumo e investimento no fim do ano.
Goste-se ou não do plano (há muita crítica razoável), fazia sentido e, até agora, funcionava, em seus limites óbvios. Quais?
O investimento do governo "em obras" vai à míngua, efeito combinado de pindaíba do governo e aversão a imposto novo.
O investimento privado não vem porque há capacidade ociosa e receio; porque o programa de concessões de obras e infraestrutura pública à iniciativa privada não anda.
O desemprego e o medo de demissão contêm o consumo e ajudam a manter bancos na retranca.
Tudo isso era vento contra o crescimento. Caso o choque político perdure, pode virar ventania.
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