Seria muito mais fácil apostar na continuação do crescimento econômico, neste ano e no próximo, se houvesse alguma segurança quanto ao ritmo de redução dos juros
O Brasil pode ter saído da recessão no primeiro trimestre, puxado pelo excelente desempenho da agropecuária e pela incipiente reanimação da indústria, mas isso foi antes do recrudescimento da crise política. A recuperação pode ter continuado no trimestre seguinte, mas neste momento é inútil consultar as bolas de cristal sobre o futuro próximo: estão embaçadas como nunca estiveram nos últimos 12 meses. A diferença entre o antes e o depois da visita do empresário Joesley Batista ao presidente Michel Temer foi dramaticamente realçada num intervalo de menos de 24 horas. Na manhã de ontem apareceu a boa notícia sobre a economia pré-crise. O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre foi 1% maior que o dos três meses finais de 2016. Foi o primeiro resultado positivo, depois de oito trimestres de recuo. Na quarta-feira, ao anoitecer, o Banco Central (BC) havia divulgado a redução dos juros básicos de 11,25% para 10,25%. A palavra incerteza foi usada cinco vezes no comunicado. Polidamente, o redator da nota deixou de explicitar a relação entre a nova insegurança e o assédio ao presidente. Nem precisaria ser mais explícito.
Seria muito mais fácil apostar na continuação do crescimento econômico, neste ano e no próximo, se houvesse alguma segurança quanto ao ritmo de redução dos juros. Dinheiro mais barato faz diferença tanto para a expansão do crédito – para o consumo e para o capital de giro das empresas – quanto para o investimento em máquinas, equipamentos e construções. Essa segurança inexiste, neste momento.
Se as incertezas persistirem, o próximo corte de juros, dentro de um mês e meio, poderá ser inferior a um ponto porcentual, padrão seguido ainda nesta quarta-feira pelo Copom, o Comitê de Política Monetária do BC. A advertência está no final da nota distribuída pouco depois da reunião. O novo quadro de insegurança, segundo o comunicado, pode afetar tanto a evolução dos preços como as possibilidades de avanço no ajuste das contas públicas e no programa de reformas.
O “aumento da incerteza sobre a velocidade do processo de reformas e ajustes na economia” é apontado como “fator de risco principal”. O risco é obviamente vinculado ao quadro político. Ministros e parlamentares ligados ao governo têm prometido a manutenção do programa de arrumação fiscal e de reformas, especialmente da Previdência, mas nem os membros do Copom, nem os empresários de qualquer setor, nem os operadores de mercados podem basear suas decisões em discursos como esses.
A insegurança realçada pelo Copom em seu comunicado também afeta, naturalmente, decisões muito importantes para a continuidade da recuperação econômica. A reação observada nos primeiros meses pode ter continuado até o surgimento da crise, mas seria obviamente irrealista, mesmo assim, dar como assegurada uma nova etapa de crescimento. O potencial de expansão da economia brasileira já estava em declínio antes da crise. O potencial de crescimento sem desajustes foi reduzido, segundo estimativa do governo, a uns 2,5% ao ano. Até essa estimativa pode ser otimista.
Para reforçar a musculatura e a agilidade da economia brasileira será preciso investir muito, por vários anos, em equipamentos, máquinas e obras, além de implantar, é claro, padrões muito melhores de educação fundamental e de formação de mão de obra. O primeiro passo será recompor o padrão de investimento – já muito baixo – perdido nos últimos anos. No primeiro trimestre foi investido em recursos físicos, como bens de produção empresariais e obras públicas, o equivalente a míseros 15,6% do PIB. Um ano antes, a proporção era de 16,8%. Uma política razoável deverá visar inicialmente a uns 25%. Isso dependerá da reativação da economia e de uma cooperação eficiente entre governo e setor privado para fortalecimento da infraestrutura.
Nada disso se fará sem racionalidade, criatividade, respeito à aritmética e às limitações de recursos e, é claro, compromisso com a estabilidade monetária e fiscal. Treze anos de populismo devastaram a economia. Mas nem todos aprenderam com os fatos e o risco de retorno à orgia de incompetência, mentira e corrupção está longe de ser desprezível.
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