RIO DE JANEIRO - Acompanho há anos os menininhos que jogam pelada na praia do Leblon, perto do Posto 11, por onde passo toda manhã, a pé, a caminho do Arpoador. Eles têm seis ou sete anos e ainda não sabem, mas, um dia, talvez se lembrem desses momentos como os mais felizes de suas vidas.
Apesar de que, quando se é criança, é difícil jogar na areia. Para suas perninhas curtas, qualquer pequena elevação no terreno é uma duna intransponível. E há sempre uma mãe na torcida para fazer um garoto passar vergonha, mandando-o sair porque está na hora da sua aula de piano.
Até há pouco, o futebol dos meninos seguia a norma das peladas nessa idade: um cobrinha de cada lado; os dois piores ou mais gordos, nos gols; jogava-se com ou sem camisa, ninguém se confundia. E nada de tática: todos defendiam e atacavam e, onde estivesse a bola, iam todos —o que a dominasse partia com ela rumo ao gol, perseguido pelos demais, até ser desarmado por um adversário. Era este então que zarpava com a bola na direção contrária, também perseguido por todo mundo e também até ser desarmado. Tudo, claro, na maior algazarra.
Mas, como falei, isso foi até há pouco. Tenho observado uma mudança no padrão de jogo dos meninos. Cada time usa agora um colete de certa cor, colete este quase do tamanho deles. Há várias bolas atrás dos gols. Quem fornece esses coletes e bolas? E os meninos já não tentam sair driblando. Ao contrário, não se dá mais que um toque na bola. A ideia é entregá-la ao companheiro mais bem colocado e deslocar-se para receber de volta.
Pronto. É o fim da inocência. Esses garotos de sete anos já devem estar pensando em coisas como 4-4-2 ou 4-3-2-1, agentes, luvas, contratos. E aposto que, ao meu lado no calçadão, está um olheiro do Real Madrid. Talvez o mesmo que descobriu o Vinicius Jr., do Flamengo.
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