Divulgado nesta semana, o indicador de atividade do Banco Central (IBC-Br), considerado (com algumas ressalvas) como variável que antecipa o PIB, mostrou um bom desempenho no primeiro trimestre deste ano, crescendo 1,1% na comparação com o último trimestre de 2016, já ajustado ao padrão sazonal, apesar de a leitura de março não ter sido particularmente animadora.
É o primeiro registro positivo nessa série desde o último trimestre de 2014 (quando a atividade cresceu anêmico 0,1%) e o mais forte desde o segundo trimestre de 2013.
Por qualquer ângulo, trata-se do melhor resultado da atividade em muito tempo. Muito embora isso possa ser suficiente para caracterizar a passagem pelo fundo do poço e talvez até o fim oficial da recessão (um veredito a ser dado pelo competente trabalho do Codace, Comitê de Datação de Ciclos Econômicos ), há ainda um longo caminho a percorrer.
Colocando os números em perspectiva, começo notando que entre o quarto trimestre de 2013 (o máximo da série) e o quarto trimestre de 2016 o indicador encolheu exatos 10%. Assim, mesmo com o crescimento agora registrado, nos encontramos ainda quase 9% abaixo do pico.
Afora isso, não parece provável que observemos no segundo trimestre o mesmo comportamento do primeiro. Isso não quer dizer que a economia deva escorregar em nova rodada recessiva; apenas que a retomada será bastante gradual, o que é esperado à luz da intensidade da crise.
Os efeitos da queda dos juros só deverão se materializar com mais força na segunda metade do ano, em particular sobre a demanda interna, esta sim o fator de maior influência para determinar a recuperação cíclica da economia. Assim, se não houver nenhuma revisão significativa dos dados, estaremos nos encaminhando para a retomada do crescimento ao longo de 2017, com efeitos sobre emprego apenas no fim do ano.
Feitas as ressalvas acima, é sempre interessante contrastar o que ocorreu com certas previsões feitas há pouco. Em particular, os caras de pau têm sido bastante explícitos em suas afirmações acerca da impossibilidade de a economia crescer sob o atual arranjo de política econômica, considerada por eles como "austericídio".
Não se trata, é bom deixar claro, de algo na linha "cresceremos, mas poderíamos mais, não fosse esse conjunto de políticas". Como regra, o que se lê e ouve desse pessoal são declarações estabelecendo que o crescimento não poderia, de forma alguma, ocorrer. A realidade, como se vê, discorda...
Disso é possível tirar algumas conclusões, além, é claro, de que os caras de pau não perderam a mão para errar previsões.
Em primeiro lugar, que o diagnóstico da crise como resultado da suposta austeridade fiscal não se sustenta com base em nenhuma evidência empírica que se queira. Se restava alguma dúvida, os números do primeiro trimestre estão aí para dirimi-la.
Por outro lado, a explicação da crise como resultado do desarranjo fiscal ganha força. Medidas como o teto para a despesa federal e avanços na reforma previdenciária deveriam, nesse caso, favorecer a recuperação por meio da queda do risco-país e do juro real, como observado.
Não creio, é óbvio, que nenhum cara de pau corra o menor risco de aprender com seus fracassos; mas que é divertido expô-los, isso eu não posso negar.
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