O Rio de Janeiro sonhou com a pacificação de áreas de conflito, mas havia acordado diante da realidade de que os bandidos estão onde sempre estiveram. O que foi que deu errado? Não era tão simples quanto se achava quando foi apresentado, a crise fiscal abateu esta e outras políticas, e para dar certo a política de segurança tem que ser seguida pelas demais formas de presença do Estado.
Um ciclo se fecha agora oficialmente com a saída de José Mariano Beltrame da Secretaria de Segurança, mas já faz tempo que os moradores da chamada cidade maravilhosa sabem que o Rio está em pleno retrocesso na questão em que havia avançado muito em anos recentes. As cenas de guerra que explodiram na segunda-feira no coração da Zona Sul atemorizaram, assustaram, mas não surpreenderam. O Rio sabia que estava perdendo a guerra.
Quando a polícia entrava, com as Forças Armadas ou sem elas, em alguma área de risco, a imprensa, a cidade, as autoridades comemoravam usando a significativa palavra “libertação”. Tudo era tratado como se a partir daquele momento tudo estava resolvido. Por algum tempo foi possível viver a livre circulação de pessoas, o florescimento de novos negócios em favelas, e o aumento dos contatos entre cidadãos moradores de áreas diferentes da cidade. Parecia que os muros haviam sido derrubados.
Evidentemente, haveria uma reação do crime. Não bastava entrar com carros e tropas, abrir uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e ir comemorar o fim da cidade partida. O crime se reorganizou, se fortaleceu e preparou o contra-ataque. Aproveitou cada erro da polícia, e eles foram muitos, como o caso Amarildo, para enfraquecer a política de segurança, mas agora o ataque do crime acontece de maneira mais explícita contra um governo enfraquecido pela crise fiscal.
Antes do período das polícias pacificadoras, o setor de segurança estava sucateado: os carros não rodavam por falta de peça de reposição, dinheiro para o conserto e até de combustível. Quem respeita uma polícia arruinada economicamente? Houve mais investimentos em segurança e isso teve resultados.
Mas só mais dinheiro não basta. O secretário Beltrame desembarcou na Secretaria de Segurança com um plano e uma estratégia. O primeiro ponto era não aceitar que o Estado não pudesse entrar em algumas áreas. Ele afirmava ser inadmissível que o Estado brasileiro aceitasse o veto de um poder paralelo dentro do território nacional. Por isso, a entrada física em área antes evitada pela polícia era o primeiro passo. O segundo era permanecer nas comunidades. Em incursões policiais anteriores às UPPs, as forças de segurança entravam, confrontavam os criminosos e depois iam embora. Para permanecer, era preciso desenvolver novos valores na corporação e aumentar a relação de confiança entre moradores e policiais. Para isso, foram contratados novos policiais e eles foram treinados e preparados para passar a trabalhar em cada nova UPP instalada.
Beltrame seguiu essa estratégia e mapeou a cidade para entrar e ficar em todas as áreas que eram territorialmente dominadas pelo tráfico de drogas. A partir daí, ele pediu reforços. Queria a entrada de políticas sociais para atender os moradores em várias outras necessidades. Houve algum avanço. Na Rocinha, por exemplo, uma rua que batia o recorde de tuberculose foi alargada e saneada para derrotar a doença, da qual se sabe a cura desde meados do século passado. Mesmo com algumas vitórias, a presença das outras políticas foi fraca e insuficiente.
O governo do Rio usou o período de boom econômico e de arrecadação para ampliar alguns gastos que precisavam ser elevados. Mas as despesas cresceram em diversas outras áreas ao mesmo tempo, como se o período de afluência fosse ser eterno. Ao não se preparar para o tempo da escassez, o governo do Rio ameaçou a sobrevivência de políticas que conduziu com êxito, na Segurança e na Educação, para falar de duas.
Outro ponto insistentemente criticado por Beltrame nos últimos anos foram as leis que permitem coisas como libertação de criminosos para datas festivas. O traficante que comandou o ataque às UPPs, na segunda-feira, estava livre desde maio, graças a uma licença para o Dia das Mães. Uma política de segurança nada pode fazer se age sozinha, como o Rio aprendeu dolorosamente.
Um comentário:
Myriam,
Salve o subjuntivo !!!
Ao invés de
"Tudo era tratado como se a partir daquele momento tudo estava resolvido"
Por favor coloque:
"Tudo era tratado como se a partir daquele momento tudo ESTIVESSE resolvido"
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