Sempre que tentam inventar práticas mirabolantes e desprovidas de suporte teórico, os governos destroem suas próprias finanças e jogam a economia nacional em crise
A economia é uma ciência social que, por isso mesmo, comporta divergências quanto ao funcionamento de determinadas partes do sistema e quanto às medidas de política econômica adequadas para o enfrentamento de situações indesejáveis. Ainda que funcione com sua lógica espontânea, o sistema econômico nacional já foi descrito e compreendido em sua essência pelas teorias, e as explicações científicas básicas da economia estão à disposição da humanidade. Em seus aspectos físicos (como o desgaste dos materiais e dos objetos com eles produzidos) e em suas relações matemáticas (como a relação entre custos de produção, preços de oferta e tributos), a economia é uma ciência cuja administração exige conhecimento e comporta escolhas.
Pois foi por ignorar as teorias e os conceitos básicos mais elementares que o período de Dilma Rousseff na Presidência foi marcado por rotundo fracasso com seu experimentalismo na gestão econômica, culminando com a recessão agravada nos últimos quatro anos. A ex-presidente é tida como autoritária e pouca disposta a ouvir opiniões, e nunca foi reconhecida por deter conhecimentos profundos de teoria econômica. Esses dois traços de Dilma, somados à personalidade subserviente e de pouco brilho intelectual de seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, abriram espaço para que o governo se dedicasse a invencionices na economia com péssimos resultados.
Um governo pode contribuir com o ambiente jurídico, institucional e econômico se respeitar os limites econômicos e adotar uma política econômica com bom senso técnico. Sempre que tentam inventar práticas mirabolantes e desprovidas de suporte teórico, os governos destroem suas próprias finanças e jogam a economia nacional em crise. Como não há milagre capaz de dar ao povo um nível de bem-estar acima do permitido pela produção desse mesmo povo, a única forma de melhorar o padrão de vida médio é pelo sacrificante e demorado crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima do crescimento populacional.
O Brasil entra o ano de 2017 com o Banco Central (BC) prevendo crescimento do PIB em 1,7% sobre o ano anterior, cessando a sequência de queda da produção e o agravamento da recessão. Entretanto, mesmo que a previsão do BC venha a se realizar, a recessão não terá sido revertida ao fim de 2017, pois o PIB acumulará queda acima de 9% de 2014 a 2016. A considerar que ao término de 2017 o país terá 6,4 milhões de habitantes mais que no fim de 2013, o produto por habitante estará longe de retornar ao padrão de 2013. Assim, a remoção completa da recessão levará alguns anos mais, com o risco de, conforme preveem alguns especialistas, a renda por habitante em 2020 ser menor do que era em 2010. Enfim, uma década de empobrecimento.
Em todo esse panorama, é preciso que este e os próximos governos não cedam à tentação de inventar soluções fora dos manuais de economia e que sejam capazes de levar adiante a tarefa de remover os estragos feitos nos últimos anos, sobretudo os gigantescos déficits públicos e a explosão da dívida do setor público. A equipe econômica escolhida pelo presidente Michel Temer, afora qualquer consideração ideológica ou partidária, é composta por economistas de boa formação, dirigidos por um ministro da Fazenda respeitável e bem-sucedido nos cargos que ocupou. Resta saber se o presidente terá apoio no Congresso Nacional para fazer o que é preciso e resistir ao rosário de promessas demagógicas que sempre emanam da classe política.
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