O governo não tem se cansado da arte de fazer inimigos, prejudicar seus negócios e confundir até pessoas de boa vontade com o novo presidente. Tanto que, no final da semana útil, o Planalto resolveu outra vez arrumar a casa, no dizer de um ministro.
Ministros são chamados às falas para falar menos, "cabresto curto". Acerta-se o calendário de votação do teto e da mudança na Previdência. A "reforma ministerial" fica para o ano que vem; seria feita na medida do apoio dos partidos a essas emendas constitucionais. A trabalhista, fica "para depois".
A motivação imediata dessa conversa foi a mais recente saraivada de tiros do governo no próprio pé, o anúncio de uma razia nas leis do trabalho deste país de 11,6% de desemprego. O problema, obviamente, não é apenas de relações públicas, embora o governo pareça incapaz mesmo de fazer demagogia verbal eficiente, que é de graça.
Além de colocar um freio na conversa trabalhista, no Planalto se diz que "foi encaminhado" com as cúpulas da Câmara e do Senado o calendário da votação do teto de gastos do governo e da reforma da Previdência. O teto seria votado neste ano. A mudança da Previdência passaria na Câmara e ficaria para 2017 no Senado. Nada anda, porém, até a eleição.
No entanto, a grande impopularidade do governo não terá melhorado com essa história de reforma trabalhista, mais um capítulo de Maquiavel às avessas: anunciar aos poucos a intenção de fazer o mal.
Na sexta (9), a Força Sindical, parte da coalizão que depôs Dilma Rousseff, soltou nota em que chamou as propostas de reformas de Temer, na Previdência e na CLT, de "delirantes". Até o fim do mês, fará protesto nacional contra as medidas. Outros sindicatos e centrais preparam manifestações ainda em setembro.
O congelamento dos gastos federais já reunira uma frente de oposição, esta transversal, de médicos e empresas do setor a sindicatos e outros movimentos sociais, que não quer mexidas na saúde. Outro desgaste vitaminado pelo governo, os reajustes do funcionalismo, um problema em si, pega de resto muito mal entre um povo que padece sob os índices de sofrimento socioeconômico mais altos em décadas.
Afora o desemprego em alta e a renda em baixa, considere-se a inflação. A carestia dos alimentos voltou aos picos que causam raiva social. Nos últimos 12 meses, preços de comida e bebida subiram em média 14%, ao mesmo nível que detonou o começo do grande mal-estar de 2013.
Comenta-se a falência de Estados e, em breve, de prefeituras, mas não se atenta de fato para o efeito concreto disso na vida do povo miúdo (mas não só), em especial na saúde, o que mais aflige as gentes. O colapso final de vários Estados está próximo. Notícias sobre prefeituras exauridas começarão a pipocar. A arrecadação ainda cai cada vez mais rápido.
Nesse ambiente de medo e sofrimento crescentes, o governo propõe uma reforma trabalhista mal pensada, mal estudada e mal discutida, se não apenas rapina. Mesmo em termos econômicos, um pacotão de reformas liberalizantes simultâneas costuma dar problema ou em nada. Em termos políticos, é uma tolice que pode custar a aprovação do essencial e urgente, um plano fiscal para conter a ruína econômica.
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