FOLHA DE SP - 15/08
Quanto mais um povo investe na expansão do parque produtivo e de serviços, quanto mais gasta na construção de casas, estradas, ferrovias e aeroportos, menor tende a ser o desemprego. Com menos trabalhadores disponíveis, espera-se que os salários subam e aticem a inflação e as taxas de juros.
O resultado se inverte quando a população e as empresas preferem poupar a investir. Esse comportamento deprime o mercado de trabalho, puxa os preços de bens e serviços para baixo e derruba os juros.
Deveria haver teoricamente uma linha de equilíbrio entre poupança e investimento, refletida numa certa taxa de juros, sobre a qual a economia pudesse crescer com desemprego e inflação nos mínimos possíveis.
Um problema aparece quando essa taxa de juros que equaliza o jogo cai tanto que não consegue mais ser alcançada pela ação reparadora do Banco Central. Ainda não se conhece um modo eficaz de fixar abaixo de zero os juros de curto prazo.
As pessoas tenderiam a estocar notas de dinheiro no colchão, pois ali o poder de compra seria protegido da desvalorização. Boa parte da intermediação bancária perderia sentido, o que empurraria instituições gigantescas para a beira do abismo.
Esse dilema acossa e desafia os países desenvolvidos. Sete anos após a crise global, uma aluvião de dinheiro barato evitou o colapso, mas não reanimou a propensão para investir. Inflação e juros ao rés do chão sugerem mais uma década à frente com ritmo frustrante de atividade.
A "estagnação secular", armadilha em que se enreda o Japão provavelmente desde os anos 1990, estaria atingindo as demais nações ricas. Se o diagnóstico está correto, livrar-se dessas tramas dependeria mais do gasto direto e indireto dos governos que das ações dos bancos centrais.
O debate vale para o mundo rico. A depressão brasileira tem contornos muito diversos e foi produzida pelo descomedimento do gasto público.
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