Você sabe o que é um canalha honesto? Um canalha honesto é alguém que diz para você que as reuniões na casa dele para discutir filosofia é para pegar mulher. Ou que aprendeu a cozinhar para pegar mulher. Um canalha desonesto é um canalha que diz que de fato a filosofia é importante para ele ou que cozinhar o faz se sentir mais autônomo na vida.
A arte da desonestidade na canalhice pode ir longe ao ponto de você dizer que é de fato feminista, e não que ser feminista num homem pode ajudá-lo a pegar mulher –o que eu, pessoalmente, duvido que tenha sucesso de fato.
O personagem Palhares, do Nelson Rodrigues, era o canalha honesto. Era marxista para pegar mulher, depois se converteu à psicanálise, ao nudismo, à maconha, a Jesus. E Nelson dizia que um dia haveríamos de ter saudade do Palhares. Mais uma vez nosso sábio acertou em sua previsão. Segundo Nelson, nem a canalhice estaria a salvo da má-fé que se instalaria no seio da cultura ocidental.
Pois bem, e aí chegamos a uma conversa que tive há alguns dias sobre essa canalhice desonesta chamada poliamor. O primeiro traço de canalhice desonesta é quando o agente da ação diz que faz X porque ele evoluiu para tal. No caso do poliamor, para uma forma de amor coletivo e sem ciúmes. Toda pessoa que se diz segura é um canalha desonesto. Como se sabe, toda virtude verdadeira é silenciosa.
Em nossa conversa, o poliamor era apresentado como uma condição em que você pode dividir pessoas amorosamente e sexualmente com outras pessoas e tudo bem.
Veja bem: sempre existiu gente que gosta de sacanagem coletiva. Entendo que um canalha honesto tente convencer a namorada ou mulher a aceitar que uma colega da faculdade ou do trabalho venha passar um final de semana em Gonçalves com eles. E, que, em dado momento, tente fazer com que as duas se peguem. Um sonho clássico de consumo de canalhas honestos (ou, simplesmente, de homens honestos) é ver duas minas se pegando.
Entendo também que mulheres honestas fantasiem com dois caras comendo elas ao mesmo tempo. A canalhice honesta é uma arte moral acessível somente para almas sinceras.
Uma comparação comum que se faz com o poliamor é com a prática do harém. Ao ouvir essa comparação outro dia, subiu à minha alma uma grande indignação!
Eu disse de forma veemente: "Pare por aí! Num harém, as mulheres competiam e se matavam. Matavam os filhos homens umas das outras, com medo de que uma delas se tornasse muito poderosa por ter dado um filho varão para o Sultão. Era um inferno de traições". Inclusive se comiam umas as outras por desespero e solidão confessa (coisa hoje que muita gente não ousa confessar que seja o motor de muita mulher comendo umas as outras, em todas as idades).
Tomado por indignação e pela certeza de que, ao compararmos o poliamor com um harém, faltamos com respeito para com todas aquelas mulheres, muitas vezes infelizes (uma das maiores cretinices de nossa época é a falta de respeito para com a infelicidade), continuei de forma apaixonada: "Aquelas mulheres competiam e se matavam, por isso mesmo eram gente séria e digna! Merecem nosso respeito!".
Imagino que muita gente ao me ouvir dizer isso não me entenda plenamente. Como assim, gente que compete e se mata é gente digna e merece nosso respeito?
A vida digna é imersa em sangue, beleza e sofrimento. O maior engano contemporâneo com relação a qualquer forma verdadeira de ética e virtude é algo que os antigos (gente muito mais séria do que nós) sempre souberam, incluindo Aristóteles em sua filosofia das virtudes conhecida como "Ética a Nicômaco": a virtude só nasce num terreno que lhe é hostil. Qualquer outra afirmação sobre virtude é falsa.
A honestidade do canalha Palhares do Nelson nasceu no momento em que ele confessou que agarrou a cunhada mais jovem na saída do banheiro por puro desespero: a beleza dela era maior do que qualquer risco de ser pego no meio do crime.
A desonestidade do poliamor nasce da sua demanda de garantia de não sofrimento. Um harém era um lugar de agonia, e virtudes são filhas da agonia.
A arte da desonestidade na canalhice pode ir longe ao ponto de você dizer que é de fato feminista, e não que ser feminista num homem pode ajudá-lo a pegar mulher –o que eu, pessoalmente, duvido que tenha sucesso de fato.
O personagem Palhares, do Nelson Rodrigues, era o canalha honesto. Era marxista para pegar mulher, depois se converteu à psicanálise, ao nudismo, à maconha, a Jesus. E Nelson dizia que um dia haveríamos de ter saudade do Palhares. Mais uma vez nosso sábio acertou em sua previsão. Segundo Nelson, nem a canalhice estaria a salvo da má-fé que se instalaria no seio da cultura ocidental.
Pois bem, e aí chegamos a uma conversa que tive há alguns dias sobre essa canalhice desonesta chamada poliamor. O primeiro traço de canalhice desonesta é quando o agente da ação diz que faz X porque ele evoluiu para tal. No caso do poliamor, para uma forma de amor coletivo e sem ciúmes. Toda pessoa que se diz segura é um canalha desonesto. Como se sabe, toda virtude verdadeira é silenciosa.
Em nossa conversa, o poliamor era apresentado como uma condição em que você pode dividir pessoas amorosamente e sexualmente com outras pessoas e tudo bem.
Veja bem: sempre existiu gente que gosta de sacanagem coletiva. Entendo que um canalha honesto tente convencer a namorada ou mulher a aceitar que uma colega da faculdade ou do trabalho venha passar um final de semana em Gonçalves com eles. E, que, em dado momento, tente fazer com que as duas se peguem. Um sonho clássico de consumo de canalhas honestos (ou, simplesmente, de homens honestos) é ver duas minas se pegando.
Entendo também que mulheres honestas fantasiem com dois caras comendo elas ao mesmo tempo. A canalhice honesta é uma arte moral acessível somente para almas sinceras.
Uma comparação comum que se faz com o poliamor é com a prática do harém. Ao ouvir essa comparação outro dia, subiu à minha alma uma grande indignação!
Eu disse de forma veemente: "Pare por aí! Num harém, as mulheres competiam e se matavam. Matavam os filhos homens umas das outras, com medo de que uma delas se tornasse muito poderosa por ter dado um filho varão para o Sultão. Era um inferno de traições". Inclusive se comiam umas as outras por desespero e solidão confessa (coisa hoje que muita gente não ousa confessar que seja o motor de muita mulher comendo umas as outras, em todas as idades).
Tomado por indignação e pela certeza de que, ao compararmos o poliamor com um harém, faltamos com respeito para com todas aquelas mulheres, muitas vezes infelizes (uma das maiores cretinices de nossa época é a falta de respeito para com a infelicidade), continuei de forma apaixonada: "Aquelas mulheres competiam e se matavam, por isso mesmo eram gente séria e digna! Merecem nosso respeito!".
Imagino que muita gente ao me ouvir dizer isso não me entenda plenamente. Como assim, gente que compete e se mata é gente digna e merece nosso respeito?
A vida digna é imersa em sangue, beleza e sofrimento. O maior engano contemporâneo com relação a qualquer forma verdadeira de ética e virtude é algo que os antigos (gente muito mais séria do que nós) sempre souberam, incluindo Aristóteles em sua filosofia das virtudes conhecida como "Ética a Nicômaco": a virtude só nasce num terreno que lhe é hostil. Qualquer outra afirmação sobre virtude é falsa.
A honestidade do canalha Palhares do Nelson nasceu no momento em que ele confessou que agarrou a cunhada mais jovem na saída do banheiro por puro desespero: a beleza dela era maior do que qualquer risco de ser pego no meio do crime.
A desonestidade do poliamor nasce da sua demanda de garantia de não sofrimento. Um harém era um lugar de agonia, e virtudes são filhas da agonia.
Um comentário:
A vida perdeu a graça? Ou ficou chata por tanta moralidade… Ser honesto chega taxado, de canalha? Quiçá se perceba o charme de rir e ter leveza para ser gente boa.
Postar um comentário