O BNDES anunciou prejuízo no primeiro semestre deste ano, algo que não acontecia desde 2003. Começam a ser trazidos à luz os problemas acumulados na gestão anterior, que não foram poucos.
Houve nesses seis meses perda de R$ 2,2 bilhões, contra lucro de R$ 3,5 bilhões no mesmo período de 2015. Uma avaliação mais conservadora da carteira de crédito e de participações societárias do banco redundou em provisões no total de R$ 9,6 bilhões.
Um otimista talvez destacasse que, mesmo com as provisões de crédito, a inadimplência continua baixa, 1,38% da carteira total. O BNDES, como provedor de capital para as maiores empresas do país (o que em si deveria suscitar mais controvérsia), normalmente é o último a sofrer abalos. Nenhum empresário quer ver as portas se fecharem ali.
É fato também que o corpo técnico do banco tem alto padrão de qualidade e diligência, a atuar como um dique contra a gestação de problemas ainda maiores. Nada disso obscurece, porém, que o BNDES foi usado de forma aventureira nos últimos anos.
A transferência de R$ 512,3 bilhões (9,5% do PIB) em empréstimos do Tesouro, desde 2008, promoveu um milagre de multiplicação dos financiamentos subsidiados. Considerando a dimensão dos aportes, os resultados obtidos são fracos, para dizer o mínimo.
A taxa de investimento na economia continua letárgica. Mas ela sofreu retardo adicional a partir de 2014, em razão dos desequilíbrios acumulados nas contas públicas.
Uma nova orientação começa a ser gestada, verdade. No lugar do gigantismo, desenha-se um estilo de intervenção mais pontual e inteligente, voltado a preencher falhas do mercado, não a substituí-lo.
Não é função do BNDES entrar com a maior parte do capital ou dos empréstimos para viabilizar grandes projetos. O mercado de capitais tem condições de assumir maior protagonismo, desde que haja mais confiança na qualidade da política econômica e na estabilidade das regras.
O papel primordial do banco é induzir investimentos privados, aperfeiçoando o desenho de projetos e leilões de infraestrutura. O conhecimento acumulado no BNDES também deve ser utilizado por Estados e municípios para levantar recursos no setor privado.
Outro foco recai sobre as relações com empresas nas quais tem participação. Nomear conselheiros independentes e dar mais transparência aos critérios para aporte de recursos, por exemplo, levariam boas novas ao mercado.
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