Exigir a volta ao equilíbrio cambial sem que os fundamentos da economia estejam equilibrados pode produzir resultados pouco sustentáveis
Diante de uma aflição, certas pessoas puxam os cabelos, brigam com os filhos ou maltratam o cão. Produzem com isso algum alívio momentâneo, mas não atacam a causa da aflição.
No século 5º antes de Cristo, conta o historiador Heródoto, o rei Xerxes, da Pérsia, mandou chicotear o mar quando uma tempestade destruiu a ponte que seus exércitos construíram sobre o Estreito de Dardanelos.
Assim, também, a forte valorização do real (baixa do dólar), de 19,5% neste ano (até esta segunda-feira, 15 – veja o gráfico) vem provocando reações emocionais e inconsequentes de autoridades e empresários.
Na última sexta-feira, 12, por exemplo, o presidente em exercício Michel Temer disse banalidades a respeito do tema. Disse que o governo procura um equilíbrio: “Não pode ter o dólar num patamar elevado, nem um dólar derretido”. O que é esse equilíbrio ninguém sabe e, quando alguém diz que sabe, em geral não leva em conta o tal equilíbrio, mas seu próprio jogo.
Oito entre dez empresários, por exemplo, acham que os juros altíssimos vigentes no mercado interno derrubam a cotação do dólar, mas acham pelo motivo errado, quase sempre porque produzem forte entrada de capital especulativo.
Neste ano, até o momento, não há aterrissagem significativa de capital especulativo destinado a ganhar dinheiro no mole com os juros internos. Tanto não há que o afluxo de dólares direcionado a aplicações em renda fixa está negativo. Os juros altos puxam, sim, pela valorização do real. No momento, puxam mais pelos dólares que não saem do País do que pelos que entram. Isso acontece, por exemplo, quando uma empresa estrangeira com caixa para um projeto prefere trazer capital para investimento (e não para especulação) e usa suas disponibilidades de caixa para aplicação em renda fixa, porque a diferença entre juros internos e externos compensa a operação.
Em entrevista publicada pelo Estadão deste domingo, o empresário Abilio Diniz, defendeu a cobrança de um Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre a entrada de capital especulativo. É outro jeito impulsivo de resolver um problema. Não há, por exemplo, como impor um IOF pelo capital que deixa de sair. E se for para adotar um IOF para reduzir a valorização do real, seria preciso mexer também na outra ponta. Por exemplo, seria preciso eliminar o IOF na saída de dólares para viagens internacionais e nas despesas com cartão de crédito em moeda estrangeira.
Não há uma única causa da forte valorização do real. Ela se deve hoje ao impressionante volume de cursos à procura de aplicação que zanzam pelos mercados; aos juros altos demais, como ficou dito; e à perspectiva de refluxo da crise da economia brasileira, a mesma que leva os bancos a manterem uma posição vendida de moeda estrangeira de mais de US$ 20 bilhões.
Exigir a volta ao equilíbrio cambial – seja lá o que isso signifique – sem que os fundamentos da economia estejam reequilibrados leva o risco de produzir resultados pouco sustentáveis.
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O impacto na hotelaria
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Perdas recordes
Em 2015, a Receita por Apartamento Disponível (RevPAR) dos hotéis brasileiros caiu 15% em relação a 2014. A média de ocupação mergulhou para abaixo dos 60%, a mais baixa desde 2006. O setor espera nova queda de 15% em 2016, como consequência do novo tombo do PIB e aumento da concorrência, mas aposta em que o desempenho se recuperará no segundo semestre, porém sem melhora significativa do nível de ocupação.
A novidade castiga
Os hotéis não enfrentam apenas a queda do PIB. Enfrentam acirrada concorrência produzida pelos aplicativos pelos quais as famílias oferecem hospedagem em residências (Airbnb) e agências digitais (Online Travel Agencies – OTAs). Para lidar com eles, praticaram políticas agressivas de preços, fator que derrubou as diárias em cerca de 7%.
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