Comparar a tentativa de golpe militar na Turquia com seu impeachment no Brasil é uma interpretação rudimentar da História, e só traz desfavores para a presidente afastada, Dilma Rousseff. Se houvesse povo nas ruas, ela não seria golpeada, infere-se de seu raciocínio. Não é nada disso, mas mesmo que fosse, faltam povo e votos no Congresso para mantê-la no poder. Além do mais, um golpe militar é uma ruptura constitucional, enquanto o impeachment é um instrumento legal do presidencialismo.
A mais recente pesquisa do Datafolha mostra bem a situação. O presidente interino, Michel Temer, é desconhecido por quase 30% dos cidadãos e tem uma avaliação de ótimo e bom de 14%, mas, mesmo assim, 50% dos eleitores preferem que ele permaneça no Palácio do Planalto.
A favor de Dilma, apenas 32% se pronunciaram. O restante ou disse que não quer nenhum dos dois, não soube responder, ou sugeriu novas eleições. Daí inferir que metade dos eleitores não quer Temer na Presidência é um contorcionismo que chega a ser engraçado.
Isso quer dizer que, mesmo diante das dificuldades de situações política e econômica degradadas, de ser bastante desconhecido, Temer é percebido como alguém cuja permanência à frente do governo provoca mais estabilidade do que Dilma. E a sensação de melhoria já é perceptível, mesmo que de maneira incipiente.
Nada mal para quem sofre uma campanha incessante, no país e no exterior, e é acusado de golpista pela máquina propagandística da esquerda. Se a presidente Dilma não pode nem mesmo ir à cerimônia de abertura das Olimpíadas com receio das vaias, como imaginar o povo nas ruas a pedir sua volta?
É verdade que ainda estamos longe de ver, e dificilmente isso acontecerá um dia, o mesmo povo nas ruas pedindo por Temer, mas há muito mais chances de isso acontecer do que a volta de Dilma ser motivo para mobilizar a população não aparelhada nem manipulada pela máquina política petista. Que, por sinal, anda cada dia mais esvaziada pela realidade.
O índice dos que consideram sua gestão ótima ou boa é de 14%, quase igual ao que Dilma tinha ao ser afastada da Presidência. Mas há sinais sutis que favorecem Temer: a avaliação como ruim ou péssimo tem 31% dos entrevistados, mas a de Dilma chegou a 65%. O governo Temer é considerado regular por 42%, o que representa uma oportunidade de melhoria maior do que tinha Dilma ao sair, com uma marca de apenas 24%.
Ao mesmo tempo, melhoraram as expectativas dos brasileiros sobre o futuro da economia e sobre sua situação pessoal, atingindo o maior patamar desde dezembro de 2014. A confiança, de maneira geral, subiu de acordo com o Índice Datafolha de Confiança, que marcou avanços na maioria de seus indicadores.
A insegurança em relação à inflação e ao desemprego continua muito grande, por volta de 60%, mas comparados com números anteriores, há visíveis sinais de melhoras, embora a situação continue, evidentemente, muito ruim.
Para os que sonham com o povo nas ruas gritando "Volta, Dilma", a pesquisa Datafolha não tem bons augúrios: seu afastamento definitivo é defendido por nada menos que 58% dos brasileiros, o que invalida a tentativa de leitura enviesada de que o país está dividido entre as duas hipóteses.
Também com relação à disputa presidencial de 2018 as notícias não são boas para o PT e seu candidato potencial, o ex-presidente Lula, embora, à primeira vista, a situação dele pareça boa.
Primeiramente, Lula tem na pesquisa menos apoio do que os tradicionais 30% que o PT sempre deteve nas eleições presidenciais, o que representa a queda da preferência pela sigla depois dos sucessivos escândalos de corrupção.
Em consequência dessa crise política, mais gente pretende anular o voto ou votar em branco do que votar em qualquer candidato, inclusive Lula. Para piorar a situação, se chegasse ao segundo turno depois de uma campanha que certamente o exporá a ataques e a evidências de corrupção, Lula perderia para todos: contra Marina Silva e José Serra, fora da margem de erro, e contra Aécio e Alckmin na margem.
Quem tem a comemorar nessa pesquisa é Marina Silva, que ganha de todos os presumíveis adversários por larga margem, identificada pelo eleitorado como uma alternativa à falta de credibilidade dos políticos.
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