ESTADÃO - 29/07
O presidente interino Michel Temer está diante de pelo menos três saias-justas simultâneas e tenta escapulir delas com suas melhores armas: a habilidade política, a capacidade de ouvir mais do que falar e de não se comprometer nem com um lado nem com o outro para tentar ficar bem com ambos. Geralmente, dá certo. Mas nem sempre...
Diante da notícia publicada pela colega Sonia Racy de que o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, assumiria o comando da segurança na Olimpíada, os ministros Raul Jungmann (Defesa) e Alexandre de Moraes (Justiça), ambos sabidamente vaidosos, deram um pulo. E, finalmente, se uniram contra o “inimigo” comum.
Para tentar contornar esse campeonato de egos, Temer convidou os três para um almoço em palácio e, entre uma declaração descontraída e outra, anunciou uma não solução: a coordenação é tripla, um terço de Etchegoyen, um terço de Jungmann, um terço de Moraes. Alguém já ouviu falar em “comando” assim?! Não resolveu nada, mas pôde, pelo menos, abafar os ciúmes e assistir aos ministros satisfeitos, até brincando com o general: “E aí, chefe?”.
A segunda saia justa é por causa do projeto de repatriação de recursos não declarados no exterior. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, falou mais do que devia e anunciou que o governo patrocinaria mudanças. Aí, quem deu um pulo foi o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, declarando publicamente que a lei da repatriação não muda. E aí?
Mais uma vez, Temer tentou resolver a pendenga em torno de uma mesa farta. Recebeu Maia para jantar na quarta, ontem reuniu o deputado e o ministro da Fazenda e optou por uma solução engenhosa para nem desautorizar um, nem desautorizar o outro e chegar ao objetivo de mexer na lei: o governo não patrocina mudança nenhuma, mas não se opõe a mudanças que o Congresso definir. Entendeu? Pois é. Diz que não apoia, mas apoia. Como, aliás, fez na própria eleição de Maia na Câmara.
Parênteses 1: a ideia é mudar a base de cálculo dos impostos para a legalização dos dólares. Pela lei em vigor, incidem sobre a movimentação financeira. Pelas alterações, passariam a ser sobre o saldo: quem movimentou US$ 30 milhões e só tem US$ 3 milhões na conta, paga sobre os US$ 3 milhões. Desde que aumente a arrecadação, um dos fantasmas do governo.
Parênteses 2: e as reações da Receita Federal e do Ministério Público, que são contra a lei e as possíveis mexidas na lei? Bem, essa é uma outra história, tema para outros almoços e jantares...
A terceira saia justa de Temer veio com a manchete de ontem do Estado sobre a gula de Meirelles que, depois de abocanhar a Secretaria de Previdência, está salivando para tirar a Secretaria de Orçamento do Planejamento e levar para a Fazenda. Dessa vez quem pulou foi o ministro Dyogo Oliveira.
E o que Temer fez? Após a primeira reunião com Meirelles, convocou ao Planalto o próprio Oliveira, que parece estar sempre na corda bamba. Mas, neste caso, o ministro não está pulando sozinho. O mínimo que dizem é que Meirelles é um salvador da pátria de uma nota só: o teto de gastos, o teto de gastos, o teto de gastos... Resultados? Necas.
Lula. Num mesmo dia, duas notícias sobre o ex-presidente Lula que se complementam. De um lado, o laudo da PF indica que ele orientou a reforma do sítio de Atibaia, no valor de R$ 1,2 milhão. De outro, seus advogados protocolaram petição na Comissão de Direitos Humanos da ONU contra o juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato. Acusam Moro de “imparcialidade” e de “abuso de poder”.
Quem poderia imaginar, há 20 ou 30 anos, que Lula poderia um dia condenar – e denunciar na ONU! – a operação e o juiz que abriram uma nova era no combate à corrupção endêmica no Brasil? O caçador definitivamente virou caça e reage como fera acuada.
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