Momentos de aguda escassez orçamentária, como os vivenciados hoje no país, impõem aos gestores estatais a tarefa de reavaliar as políticas públicas a fim de corrigir possíveis distorções e aumentar a eficiência dos gastos despendidos.
Vai na direção certa, assim, a decisão do MEC de não dar novas bolsas de estudo no exterior, no âmbito do programa Ciência sem Fronteiras, a alunos de graduação.
Não há dúvida de que privilegiar os graduandos, concedendo-lhes quase 80% dos 92,8 mil auxílios até agora implementados, constituiu um dos principais desvios da esbanjadora iniciativa. Somente em 2015, o Orçamento reservou ao programa R$ 3,7 bilhões.
Tais alunos carecem, no mais das vezes, de maturidade intelectual ou profissional para absorver conhecimentos e técnicas úteis ao país. Pior, muitos deles, como se verificou depois, nem mesmo dominavam os idiomas estrangeiros nos quais teriam as aulas.
Segundo a propaganda oficial, o Ciência sem Fronteiras priorizaria a excelência. O governo Dilma Rousseff (PT), entretanto, enviou a maioria desses estudantes para universidades de pouca relevância.
Como mostrou esta Folha, menos de 4% dos bolsistas conseguiram vagas para estudar nas 25 melhores instituições do planeta.
A execução atabalhoada, ademais, produziu falhas em aspectos básicos, como garantir a equivalência das disciplinas cursadas no exterior com as ensinadas por aqui. Assim, em muitos casos o ano acadêmico internacional acabou não gerando créditos para o aluno.
Tantos problemas decorrem sem dúvida do viés populista da empreitada, voltada a cumprir metas numéricas vistosas, não a fortalecer de fato o ensino e a pesquisa nacionais. Um exemplo de desperdício, de resto, seguido por outras iniciativas petistas, como o Fies.
O governo provisório de Michel Temer (PMDB), porém, recairá em excesso similar se puser em marcha a estranha ideia de reorientar o Ciência sem Fronteiras ao aprendizado de línguas, dentro e fora do país, por jovens de baixa renda no ensino médio de escolas públicas.
Ainda que não se conheçam números nem custos dessa novidade, parece ser uma maneira no mínimo perdulária de remendar as sabidas deficiências da rede pública com o ensino de idiomas estrangeiros.
O programa de bolsas deveria, desde seu início, privilegiar o intercâmbio de doutorandos e pesquisadores —o que, segundo o MEC, será mantido. A prioridade é permitir que acadêmicos de talento tenham contato direto com a melhor ciência do planeta.
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