É uma velha tradição da classe política brasileira só atentar para grandes transformações globais quando já é tarde demais.
Foi assim em 1979, quando a elite governante sentiu que algo estava acontecendo, mas levou anos para entender o significado e o alcance da "globalização". E foi assim em 2009, quando a crise financeira do Atlântico Norte dominou as atenções em Brasília, e quase ninguém registrou o problema — tão ou mais grave para nossos interesses — de desaceleração da China.
Em ambos os casos, os governos de plantão foram incapazes de interpretar mudanças globais a tempo de reagir de forma estratégica. A reação, quando finalmente chegou, foi atabalhoada.
Nossa tendência a repetir esse equívoco deve-se a um problema estrutural: o Brasil está longe dos grandes centros de reflexão, sua economia é relativamente fechada e sua elite não é globalizada. Ao contrário de Índia, México e Hong Kong, aqui o inglês não é língua franca. Mesmo nos mais altos escalões, todos se referem ao resto do planeta como "lá fora". Tomar a temperatura do mundo em tempo real vira um desafio árduo.
Em 2016 temos mais do mesmo. Em meio à crise nacional, o país volta-se para dentro. Quando a crise acabar, voltaremos a olhar para fora e, mais uma vez, descobriremos que muita coisa mudou. Quem for governo terá de correr atrás do prejuízo com a desvantagem de quem chega atrasado.
Os Estados Unidos encontram dificuldade para manter o ordenamento global que, apesar de suas brutais injustiças e turbulências, foi e continua sendo central para nosso desenvolvimento. A Europa desunida chacoalha o tabuleiro geoeconômico do qual dependemos. A América do Sul, com a paz colombiana equacionada, assiste a uma reconfiguração do fluxo de cocaína e crime organizado na qual o Brasil já virou epicentro. E nossa economia está sendo moldada por um ambiente regulatório global inédito em áreas de alta tecnologia, comércio internacional e segurança cibernética. A roda gira.
É hora de quebrar o ciclo de despreparo que tem sido nossa marca registrada.
O Estado brasileiro tem boa capacidade instalada para coletar e processar informações sobre tendências globais. O que falta é um modelo de gestão capaz de absorver e integrar o conhecimento gerado em nossa rede de embaixadas e na pesquisa de ponta realizada no Banco Central, IPEA e outros ministérios.
O que temos hoje é um sistema pulverizado que produz material disperso e de utilidade limitada para quem governa. Bem gerida, porém, a estimativa de riscos externos (e as medidas necessárias para mitiga-los) seria um instrumento primoroso de política pública.
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