SÃO PAULO - As trepidações iniciais do macarrônico ministério Temer estimularam interpretações de que seu governo poderia inviabilizar-se rapidamente. Dois centímetros abaixo da superfície, entretanto, o movimento é de relativa solidificação.
A substituição do PT pelo PMDB no comando da coalizão, bem como a de petistas e seus satélites de esquerda por tucanos e seu séquito de direita na base, conferiu maior coerência ao bloco governista.
A necessidade de reenquadrar as finanças públicas e reorientar a economia para o mercado tornou-se impraticável com Dilma Rousseff no Planalto e o PT a liderar o governo no Congresso. Com Temer e a base deslocada para a centro-direita, o programa de reformas começa a andar.
Formou-se uma das mais fortes e coesas equipes econômicas liberais da Nova República. A Lava Jato, ao derrubar Romero Jucá do Planejamento, acabou por reforçar o comando de Henrique Meirelles.
José Serra, que no Planejamento resistia à condução da economia no primeiro FHC, desta vez integra a solução no Itamaraty. A promoção da abertura externa harmoniza-se com a linha da Fazenda.
Os parlamentares brasileiros, mesmo os de centro-direita, são gastões e paternalistas em sua maioria. Não aceitam só por boniteza o projeto de restrição fiscal e abertura econômica. Fazem-no sobretudo por necessidade —porque a alternativa é o abismo da incerteza política absoluta.
É render-se a Meirelles ou desfazer o último laço que segura o sistema. Depois de Dilma havia Temer, mas após Temer ninguém sabe. Políticos lutam pela sobrevivência num ambiente hostil. Têm ojeriza ao vácuo de previsão sobre seu futuro.
Assim Meirelles se torna o fiador de última instância do statu quo político. Tamanha hipertrofia de um ministro não ocorria desde que Delfim Netto assumiu a pasta no agonizante governo Figueiredo. Poder incontrastado nunca dá em boa coisa.
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