O estrondoso sismo político e econômico decorrente do referendo que vai tirar o Reino Unido da União Europeia ecoará por décadas. Efeitos deletérios à parte, ele apenas confirma a exaustão do bloco por suas contradições internas.
É uma pena. Como ideia, a UE é um avanço civilizatório, por buscar funcionalidade de democracias a ela associadas, evitando assim guerras, se só um argumento for necessário.
O "Brexit" é fulgurante sinal do renascimento dos nacionalismos, que segue um padrão pendular histórico, apesar da náusea gerada por suas facetas racistas e xenófobas.
Símbolo sombrio da onda, a ascendente sigla Alternativa para a Alemanha evidencia nó fulcral do projeto europeu: como lidar com a identidade germânica. O fenômeno não é restrito e possui graus diversos de sofisticação, vide Donald Trump.
Mas tachá-los só de fascistas é ignorância histórica e preguiça mental. Nacionalismo está na origem da democracia liberal, assim como sistemas de freios e contrapesos. Fascismo rejeita controle, e perverte o nacionalismo encarnando-o num líder.
E o Brasil com isso? É má notícia, já que tudo o que não precisamos é de mais turbulência externa. A UE é nossa maior parceira comercial, apesar do protecionismo do grupo —a França mina o acordo com o Mercosul, esse arremedo de cópia dos europeus.
Se os britânicos empurram a UE e seu próprio reino à dissolução, por aqui perdemos tempo com um cartório de entraves burocráticos que poderia buscar inspiração no bloco andino, mais pragmático. Para piorar, nos anos PT o Mercosul tornou-se foro de proselitismo que não sabe lidar com o real, simbolizado hoje em saques na Venezuela.
A atual derrocada de regimes esquerdistas na região é senha para reformulação do Mercosul, já sinalizada pela nova gestão do Itamaraty. O Brasil precisa abandonar sua insularidade mental e requalificar sua inserção num mundo em mudança.
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