O Rio de Janeiro sempre foi uma vitrine do Brasil. Não à toa, foi escolhido para o projeto maior do populismo que assaltou o país nos últimos anos. A Cidade Maravilhosa era o cartão-postal ideal para se espalhar ao mundo os avanços conquistados pelo "país do futuro e da igualdade social". Não se poupou em propaganda: a Copa do Mundo no Maracanã e as Olimpíadas sob as bênçãos do Cristo Redentor eram os trunfos de uma nação candidata a integrante do Primeiro Mundo. Mas algo deu muito errado. E não foi culpa do povo carioca.
O estado e a cidade símbolos da propaganda de um Brasil grande amargam hoje uma situação de penúria. A 47 dias do início dos Jogos Olímpicos, não há recursos para pagamento dos funcionários públicos, para a gestão da saúde, para quitar as dívidas com fornecedores e para garantir a assistência básica aos cidadãos. A decretação de calamidade pública das finanças é o triste coroamento de um projeto irresponsável, corrupto e incompetente que arrastou governos federal, estaduais e municipais.
Hoje, o presidente em exercício Michel Temer receberá governadores para, provavelmente, discutir a situação quase falimentar da maioria das unidades da federação. Uma ajuda necessária para o Rio de Janeiro será anunciada, evitando um vexame e um fracasso das Olimpíadas, com repercussões mundiais. Mas, nesse encontro, também será descortinada a triste realidade das contas públicas do país.
Mais uma vez, o Rio servirá de vitrine. Desta vez, no entanto, ao invés de um país exuberante e progressista, exibirá a perversa face de políticos irresponsáveis que lançaram o país na aventura de promover dois eventos de dimensões mundiais em apenas dois anos, com tremendas despesas aos cofres públicos.
Na esteira do Rio de Janeiro, outros governadores vão apresentar ao presidente a trágica situação de seus estados. Um reflexo de anos de desperdício do dinheiro dos cidadãos, com o inchaço da máquina pública e com gastos sem limites, nem controle. Isso sem falar da corrupção. E não é coincidência que a penúria das nossas unidades federativas ocorra simultaneamente ao afastamento da presidente por gritantes irregularidades na condução dos recursos públicos, ora investigadas pelo Senado. Há irresponsabilidade em todos os níveis.
O alerta vindo do Rio precisa ser entendido por nossos políticos. O Brasil atravessa hoje sua mais grave crise, com poucas perspectivas de saídas a curto prazo. Respeitar o contribuinte, administrando com zelo e honestidade o dinheiro pago pelos impostos, é o mínimo que se espera dos homens eleitos com nosso voto. Precisamos cobrar deles gestões profissionais e planejadas, seja qual for a ideologia ou o partido a que pertençam. Não há mais espaço para aventureiros e populistas.
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