Ao ritmo atual, é possível que a posição em swaps cambiais seja totalmente zerada nos próximos meses
As reuniões de primavera e anual do FMI costumam ser utilizadas pelos investidores e analistas do mercado financeiro para trocar impressões e avaliações sobre o estado da conjuntura internacional e a perspectiva imediata. A divulgação das projeções globais pelo próprio FMI oferece um pano de fundo a partir do qual autoridades e o setor privado desenvolvem suas considerações.
A mais recente edição das "Perspectivas Econômicas Globais" (World Economic Outlook) do FMI mostra um quadro de ligeiro enfraquecimento da expansão da economia mundial, em relação às projeções vigentes em janeiro. Os economistas do Fundo enxergam um crescimento mundial de 3,2% no ano, ante 3,4% em janeiro, e de 3,5% em 2017 (anteriormente 3,6%).
Entre as principais economias, as maiores revisões negativas foram nas projeções para a Rússia (-0,8 p.p.), Japão (-0,5 p.p.) e Brasil (-0,3 p.p.), segundo o FMI, e é também consenso entre os analistas independentes, ostentaremos no biênio 2015-16 de longe o pior desempenho entre as grandes economias. Note-se, de passagem, que atribuir a um mundo que cresce acima de 3% ao ano a nossa profunda recessão só pode servir a um discurso político descolado da realidade, não podendo ser visto como análise séria.
Ainda que as revisões nas projeções do FMI sejam limitadas, o tom de sua avaliação do cenário é bem mais sombrio. Em particular, o Fundo vislumbra uma piora do balanço de riscos associados aos mercados financeiros e a fatores geopolíticos. Os economistas do Fundo observam que temos tido episódios recorrentes de fuga de ativos de risco, em especial aqueles de mercados emergentes, como o Brasil, no qual os agentes parecem ter reagido mais intensamente do que de costume a percebidas mudanças nos fundamentos econômicos.
Há o risco que essa turbulência financeira acabe influenciando negativamente o comportamento da economia. Somam-se a esses riscos financeiros um estado de riscos geopolíticos elevados. A crise dos refugiados do Oriente Médio adiciona estresse às relações entre os governos europeus, enquanto um certo nacionalismo introspectivo torna-se parte muito relevante, talvez dominante, do debate político no Reino Unido e também em alguma medida nos EUA. Em resumo, a "nova ordem mundial" baseada em crescente integração econômica (e, em algumas regiões, política) vem sendo crescentemente contestada.
As projeções do Fundo para a economia chinesa, em contraste com a visão sobre a economia global, apresentam revisão marginalmente positiva, para 6,5% e 6,2% em 2016 e 2017. Mas a perspectiva de estabilização do crescimento chinês no "novo normal" entre 6 e 7% ao ano pode estar baseada em alicerces precários. O governo chinês parece ter suspendido seu plano reformista - o susto ocasionado pelo enfraquecimento da economia e pela instabilidade financeira vistos em 2015 parece ter suscitado uma nova rodada de estímulos creditícios que, sob certos aspectos, se assemelha àquela que caracterizou a resposta à crise de 2008/9.
Um crescimento econômico calcado em doses crescentes de alavancagem não necessariamente acabará em uma crise, mas inevitavelmente tende a estolar em algum momento. Assim, a visão predominante entre os analistas presentes no encontro de primavera do Fundo é que o estímulo chinês pode estar comprando maior crescimento no curto prazo ao custo de alimentar riscos de médio prazo.
Houve também muito debate sobre as perspectivas para a política monetária nos EUA. Depois de um longo período de estabilidade, o Fed começou a normalizar a postura da política monetária em dezembro passado. Desde então, contudo, a piora das perspectivas para a economia mundial, certo desapontamento (de novo no primeiro trimestre) com o ritmo da atividade doméstica, bem como um comportamento visto como benigno da inflação, levaram a uma pausa que tem se mostrado prolongada.
Ocorre que o desemprego segue em baixa, o que, em dado momento, irá ensejar aumento das pressões salariais e inflacionárias, que já começam a emergir, podendo levar o Fed a retomar as altas de juros e, talvez, acelerar o processo.
A combinação de uma economia chinesa resiliente e política monetária bem frouxa nos EUA tem constituído um pano de fundo favorável para os ativos e a economia brasileira, desde o minério de ferro ao índice de preços de ações. Mas esse quadro benigno pode se alterar de forma pronunciada nos próximos trimestres.
Nesse contexto, a atuação do Banco Central no mercado cambial é correta. Utilizando a oportunidade apresentada pelo contexto internacional temporariamente benigno e pela mudança de sentimento derivada da evolução do cenário político doméstico, as autoridades já reduziram em mais de um terço a exposição líquida na posição de swaps cambiais, e tendem a fazer mais. Nessa toada não é impossível que a posição seja integralmente zerada ao longo dos próximos meses.
Caso o cenário benigno persista nos trimestres à frente, podemos mesmo chegar à situação em que o Banco Central terá que considerar se volta ou não a incrementar as reservas internacionais - o custo fiscal das reservas argumenta que não, mas a prudência, diante de um cenário externo que pode se complicar significativamente, atua na direção oposta.
As reuniões de primavera e anual do FMI costumam ser utilizadas pelos investidores e analistas do mercado financeiro para trocar impressões e avaliações sobre o estado da conjuntura internacional e a perspectiva imediata. A divulgação das projeções globais pelo próprio FMI oferece um pano de fundo a partir do qual autoridades e o setor privado desenvolvem suas considerações.
A mais recente edição das "Perspectivas Econômicas Globais" (World Economic Outlook) do FMI mostra um quadro de ligeiro enfraquecimento da expansão da economia mundial, em relação às projeções vigentes em janeiro. Os economistas do Fundo enxergam um crescimento mundial de 3,2% no ano, ante 3,4% em janeiro, e de 3,5% em 2017 (anteriormente 3,6%).
Entre as principais economias, as maiores revisões negativas foram nas projeções para a Rússia (-0,8 p.p.), Japão (-0,5 p.p.) e Brasil (-0,3 p.p.), segundo o FMI, e é também consenso entre os analistas independentes, ostentaremos no biênio 2015-16 de longe o pior desempenho entre as grandes economias. Note-se, de passagem, que atribuir a um mundo que cresce acima de 3% ao ano a nossa profunda recessão só pode servir a um discurso político descolado da realidade, não podendo ser visto como análise séria.
Ainda que as revisões nas projeções do FMI sejam limitadas, o tom de sua avaliação do cenário é bem mais sombrio. Em particular, o Fundo vislumbra uma piora do balanço de riscos associados aos mercados financeiros e a fatores geopolíticos. Os economistas do Fundo observam que temos tido episódios recorrentes de fuga de ativos de risco, em especial aqueles de mercados emergentes, como o Brasil, no qual os agentes parecem ter reagido mais intensamente do que de costume a percebidas mudanças nos fundamentos econômicos.
Há o risco que essa turbulência financeira acabe influenciando negativamente o comportamento da economia. Somam-se a esses riscos financeiros um estado de riscos geopolíticos elevados. A crise dos refugiados do Oriente Médio adiciona estresse às relações entre os governos europeus, enquanto um certo nacionalismo introspectivo torna-se parte muito relevante, talvez dominante, do debate político no Reino Unido e também em alguma medida nos EUA. Em resumo, a "nova ordem mundial" baseada em crescente integração econômica (e, em algumas regiões, política) vem sendo crescentemente contestada.
As projeções do Fundo para a economia chinesa, em contraste com a visão sobre a economia global, apresentam revisão marginalmente positiva, para 6,5% e 6,2% em 2016 e 2017. Mas a perspectiva de estabilização do crescimento chinês no "novo normal" entre 6 e 7% ao ano pode estar baseada em alicerces precários. O governo chinês parece ter suspendido seu plano reformista - o susto ocasionado pelo enfraquecimento da economia e pela instabilidade financeira vistos em 2015 parece ter suscitado uma nova rodada de estímulos creditícios que, sob certos aspectos, se assemelha àquela que caracterizou a resposta à crise de 2008/9.
Um crescimento econômico calcado em doses crescentes de alavancagem não necessariamente acabará em uma crise, mas inevitavelmente tende a estolar em algum momento. Assim, a visão predominante entre os analistas presentes no encontro de primavera do Fundo é que o estímulo chinês pode estar comprando maior crescimento no curto prazo ao custo de alimentar riscos de médio prazo.
Houve também muito debate sobre as perspectivas para a política monetária nos EUA. Depois de um longo período de estabilidade, o Fed começou a normalizar a postura da política monetária em dezembro passado. Desde então, contudo, a piora das perspectivas para a economia mundial, certo desapontamento (de novo no primeiro trimestre) com o ritmo da atividade doméstica, bem como um comportamento visto como benigno da inflação, levaram a uma pausa que tem se mostrado prolongada.
Ocorre que o desemprego segue em baixa, o que, em dado momento, irá ensejar aumento das pressões salariais e inflacionárias, que já começam a emergir, podendo levar o Fed a retomar as altas de juros e, talvez, acelerar o processo.
A combinação de uma economia chinesa resiliente e política monetária bem frouxa nos EUA tem constituído um pano de fundo favorável para os ativos e a economia brasileira, desde o minério de ferro ao índice de preços de ações. Mas esse quadro benigno pode se alterar de forma pronunciada nos próximos trimestres.
Nesse contexto, a atuação do Banco Central no mercado cambial é correta. Utilizando a oportunidade apresentada pelo contexto internacional temporariamente benigno e pela mudança de sentimento derivada da evolução do cenário político doméstico, as autoridades já reduziram em mais de um terço a exposição líquida na posição de swaps cambiais, e tendem a fazer mais. Nessa toada não é impossível que a posição seja integralmente zerada ao longo dos próximos meses.
Caso o cenário benigno persista nos trimestres à frente, podemos mesmo chegar à situação em que o Banco Central terá que considerar se volta ou não a incrementar as reservas internacionais - o custo fiscal das reservas argumenta que não, mas a prudência, diante de um cenário externo que pode se complicar significativamente, atua na direção oposta.
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