quinta-feira, maio 05, 2016

Crise e descaso - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 05/05

Para este ano, o rombo orçamentário da União está estimado em R$ 96,6 bilhões. Segundo as projeções mais otimistas, o Brasil precisará de uma década para equilibrar despesas e receitas. No ocaso da era petista, a presidente Dilma Rousseff reajustou em 9% o pagamento médio do Bolsa Família, que impactará no caixa a partir do próximo mês. Corrigiu em 5% a tabela do Imposto de Renda, percentual muito aquém das reais necessidades dos contribuintes, que rebaterá no caixa em 2017. Não bastasse, prorrogou os contratos do Programa Mais Médicos e autorizou a construção de 25 mil moradias pelo Minha Casa Minha vida.

O conjunto de providências tem apelo populista e em nada contribui para amenizar os impactos dos equívocos cometidos pelo governo na condução da política econômica. Hoje, o país está à beira do colapso. A atividade econômica está estagnada. Mais de 11 milhões de trabalhadores estão desempregados, a inflação saiu do controle, os investidores, cautelosos, adiaram os planos de investimento. Ou seja, os ganhos sociais alcançados, ainda que tímidos, estão se deteriorando em ritmo avassalador.

Ao longo de quase seis anos, a presidente não fez as correções de rumo exigidas para manter o país em rota de desenvolvimento social e econômico. Gastou mais do que poderia e empurrou o país para uma crise sem precedentes nas últimas duas décadas. Essa opção não pode ser atribuída à oposição. Ao contrário. O Executivo não conseguiu tomar providências práticas para reduzir os próprios gastos com a máquina pública, que foi inflada para abrigar aliados. O passo foi maior do que as pernas.

O pacote de bondades anunciado significa inflar um legado ainda mais nefasto para o sucessor. Como equilibrar as contas públicas, se mais despesas são criadas sem o devido lastro financeiro e quando as previsões de arrecadação ficam abaixo do esperado? Buscar solução para essa equação será tarefa para o próximo governo.

A recuperação das finanças públicas, diante de tamanho desarranjo, não será trabalho fácil para o iminente governo de Michel Temer. O preço maior, no entanto, será pago por aqueles que, hoje, são beneficiários programas sociais. Nos últimos meses, a retração vem sendo sentida em setores essenciais, como saúde e educação.

Em momento tão crucial para o país, o mínimo que se poderia esperar dos que estão à frente do Executivo é mais responsabilidade. Anunciar medidas que estão ameaçadas por falta de dinheiro em caixa é prática ilusionista. A conta dos desatinos pesará sobre os ombros dos trabalhadores, comprometerá ainda mais a prestação de serviços essenciais - praticamente falidos - à população e com repercussão na vida de geração futura, hoje, em formação.

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