Oxalá o Congresso Nacional entenda a gravidade da situação e colabore com a aprovação das medidas que precisam ser tomadas para fazer o Brasil voltar a crescer
O primeiro discurso de Michel Temer como presidente interino do país deixou claro que o esforço será de construir pontes com o Congresso Nacional. Temer apresentou diversas medidas que julga necessárias para tirar o país da crise, entre elas o incentivo a parcerias público-privadas, a revisão do pacto federativo, assim como temas que tendem a ser impopulares – e de difícil costura no Legislativo –, entre eles, as reformas trabalhista e previdenciária. E por diversas vezes enalteceu a importância do diálogo entre poderes para levar adiante um projeto de salvação nacional.
É importante lembrar que no governo de Dilma Rousseff a palavra diálogo, no sentido republicano, na prática não existia. Mas, como aos ouvidos de muitos parlamentares a palavra “diálogo” tem o efeito do canto das sereias – rememorando tempos passados de negociatas as mais diversas –, Temer precisa agir rápido. Nestes instantes iniciais de seu governo ainda vive uma lua-de-mel com o Congresso Nacional. E o momento é ideal para encaminhar as medidas de ajuste fiscal e outros projetos que tendem a ser impopulares. Garantiria assim, de um lado, menos obstáculos para a aprovação e daria sinais positivos ao mercado. De outro, evitaria que diálogo se transformasse em fisiologismo.
Na composição do ministério, Temer infelizmente deixou de lado a ideia de um gabinete de notáveis e privilegiou sua relação com o Congresso e os partidos, numa provável tentativa de estabelecer um diálogo “institucional” – numa interpretação benigna – com o Legislativo. Em relação à equipe de Dilma Rousseff, o percentual de parlamentares ministros triplicou: dos 23, 13 são congressistas. Além disso, outros quatro são presidentes de partido. Resta saber se a voracidade já conhecida dos parlamentares por cargos e verbas em troca de votos poderá ser contida pelo grupo de auxiliares do primeiro escalão.
Temer fez bem em reduzir as atuais 32 pastas para 23. Ao menos num primeiro momento, a medida tem o efeito simbólico de demonstrar preocupação com a austeridade e o enxugamento da máquina pública. Por outro lado, é lamentável que na composição do ministério sete nomes escolhidos apareçam mencionados em investigações da Operação Lava Jato. Uma das críticas ao governo Dilma foi precisamente o fato de vários auxiliares da presidente estarem sendo investigados na operação.
O presidente interino fez expressa menção à continuidade das investigações da Lava Jato e descartou qualquer tentativa de enfraquecê-la. Embora se reconheça que a declaração de Temer sobre a operação era necessária para firmar um compromisso com a sociedade e afastar dúvidas, ela acaba tendo efeito mais retórico que prático. É preciso aguardar movimentações e atos concretos que reforcem a independência da Polícia Federal.
No plano econômico, de saída, o peemedebista garantiu a simpatia do mercado, com a escolha de Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda. Assim, traz a segurança de que a condução da política econômica não mais será errática. De Meirelles, o mercado sabe o que esperar. E uma demonstração disse aguarda-se ainda para esta sexta-feira, quando o ministro pretende encaminhar projetos de lei e medidas provisórias para combater a crise.
Com Dilma Rousseff afastada da Presidência da República, o momento agora é de virar a página e de concentrar as atenções nos grandes problemas enfrentados pelo país. Oxalá o Congresso Nacional entenda a gravidade da situação e colabore com a aprovação das medidas que precisam ser tomadas para fazer o Brasil voltar a crescer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário