CORREIO BRAZILIENSE - 03/01
O Brasil, definitivamente, não é um país sério. No auge de uma crise na saúde, com a população aterrorizada às voltas com o zika vírus e hospitais em estado de abandono e fechando as portas, o governo saca da cartola R$ 72,4 bilhões para tentar salvar o pescoço de Dilma do impeachment. Deus do céu! Como, até aquele momento, ninguém sabia que havia esse monte de dinheiro ali, à disposição? E, não mais que de repente, o Tesouro Nacional tira a fortuna da cartola e tchan, tchan, tchan, tchan! Paga as pedaladas? E o Planalto ainda aumenta as verbas destinadas a emendas parlamentares de R$ 6,7 bilhões para R$ 7,2 bilhões? Votos contra o impedimento?
Realmente, o Brasil não pode ser levado a sério. Quer dizer que há dinheiro de sobra para salvar o mandato da presidente, mas falta para o básico na saúde? Até agora, parece inacreditável, mas a grande medida do governo para combater a microcefalia foi mudar o critério pelo qual se determina se a criança nasceu ou não com a malformação. Antes, classificava-se a doença quando bebês vinham ao mundo com a circunferência da cabeça igual ou menor do que 33cm. Caiu para 32cm. Com a medida, reduz-se o número de casos. Porém, de nada adianta no combate ao Aedes aegytpi. O país precisa urgentemente de grande campanha nacional para erradicar o mosquito. Até o momento, o que se faz é culpar a população: 80% dos focos, dizem as autoridades, estaria dentro das casas. Sim, o culpado somos nós, caro leitor.
Ou o brasileiro toma as ruas e se faz levar a sério ou continuará como o bobo da corte. Não é à toa que o Brasil está entre os 30 países que mais cobram tributos e se destaca como aquele que presta os piores serviços públicos. E ainda querem criar mais um: a CPMF, que, no fundo, só os pobres pagam, pois os donos do capital repassam os custos para a população. Hoje, no país, a realidade é tão trágica que, em plena capital da República, os hospitais públicos estão em situação de penúria. Escolas, idem. Imagine, então, nos grotões! Principalmente depois da tentativa de desmoralizar a Lei de Responsabilidade Fiscal, um dos pilares contra o vale-tudo dos governantes: dos municípios à União.
Dói é saber que poderia ser pior. Não fosse a Operação Lava-Jato, levada adiante apesar das tentativas de desmontá-la, a corrupção já teria sido elevada à condição de ato heroico. Pistoleiros a soldo nas redes sociais bem que tentaram. Mas a coragem e a persistência do juiz Sérgio Moro e de promotores como Deltan Dallagnol se impuseram até aqui. Graças a eles, dois poderes da República estão em xeque. Que caiam todos os que têm contas a acertar com a Justiça! Sim, sei: se isso acontecer, vai faltar cadeia.
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