ZERO HORA - 05/01
A declaração do ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, para explicar os desvios de conduta dos companheiros do PT que se envolveram em falcatruas está a um passo do deboche: Quem nunca comeu melado quando come, se lambuza. Pela lógica de Wagner, os petistas, coitados, chegaram ao poder inocentes e ingênuos, mas acabaram reproduzindo metodologias antigas da política brasileira e se lambuzaram.
Como alegoria, até vale: quem nunca comeu melado talvez não saiba que esse derivado da cana-de-açúcar atrai moscas e que é preciso muito cuidado para não se lambuzar. Mas o que significa exatamente que os petistas se lambuzaram? Em entrevista à Folha de S.Paulo, Wagner deu a explicação:
O PT errou ao não ter feito a reforma política no primeiro ano do governo Lula. E aí não mudou os métodos do exercício da política.
O ministro cita como principal erro do seu partido ter usado ´ferramentas que já eram usadas´, como o financiamento privado das campanhas. Teria faltado ´treinamento´:
Quem é treinado erra menos, talvez, né?
No banquete do melado, os petistas, feito formigas insaciáveis, descobriram não apenas o magnetismo das campanhas milionárias, mas as vantagens do poder. Como já disse o próprio Lula, em uma rara autocrítica, os companheiros se empolgaram com os cargos e deixaram de lado a política que, nas décadas de 1980 e 1990, movia o PT.
Ex-governador da Bahia, Wagner usa, com outras palavras, o mesmo argumento de Lula à época do mensalão, quando sustentava que o problema era apenas de caixa 2 (ou de recursos não contabilizados, na definição do ex-tesoureiro Delúbio Soares): o PT fez o que os outros faziam.
É verdade que a corrupção não nasceu com o PT e que um dos méritos da presidente Dilma Rousseff é não tentar impedir a apuração, mas também é verdade que os valores desviados na Petrobras superam tudo o que se conhecia até aqui.
O reconhecimento de que deveria ter feito a reforma política chega tarde. Não só o PT se lambuzou, como entornou o tacho em que faz o melado. A reforma política era prioridade de Lula e não andou um milímetro em oito anos. A candidata Dilma Rousseff a anunciou como prioridade número 1 às vésperas do segundo turno de 2010, com o argumento de que era a mãe de todas as reformas, mas, uma vez eleita, não soube conduzir a mudança.
O que o Congresso aprovou com o nome de reforma política é um arremedo que não merece ser chamado como tal. Se dependesse dos deputados e senadores, até as doações empresariais de campanha continuariam sendo liberadas. Foi preciso que o Supremo Tribunal Federal as declarasse inconstitucionais para a presidente Dilma Rousseff vetar as contribuições de empresas. A restrição será testada na eleição deste ano, quando a Justiça Eleitoral e os próprios candidatos e dirigentes partidários terão de se desdobrar na fiscalização para impedir que o caixa 2 substitua as doações antes legais.
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