FOLHA DE SP - 05/01
BRASÍLIA - Dilma Rousseff não foi a única nem a principal vencedora das eleições presidenciais de 2014. O que angariou a apertada maioria dos votos válidos foi a repulsa a um ajuste econômico baseado em juros altos, tarifaço e corte dos programas de amparo social –a tese básica da monotemática campanha petista.
Daí haver um tanto de contrassenso na crítica da presidente, em artigo publicado pela Folha, a "setores da oposição que não aceitaram o resultado das urnas". Afinal, ela própria inaugurou o desrespeito à escolha que convenceu o eleitorado a fazer.
Dessa transgressão de origem resultou o nó de seu segundo mandato, em que o governo não governa e a oposição não se opõe de forma coerente. Esta prega austeridade e flerta com a demagogia oportunista no Congresso; aquele não dispõe de credibilidade nem para conduzir o ajuste demonizado nem para voltar atrás.
Sem liderança e mediação política, o debate nacional atrofia, cedendo lugar ao bate-boca infantilizado das redes sociais e dos bares do Leblon, aos abaixo-assinados das tribos acadêmicas e a manifestações de rua crescentemente amorfas.
Desfez-se o entendimento mínimo em torno da gestão das contas do governo e da inflação, consolidado sob FHC e Lula. Abriu-se um caminho promissor para palpiteiros, marqueteiros e demais vendedores de discursos fáceis e saídas milagrosas.
O buraco no Orçamento se tornou grande demais para ser tapado com meras providências administrativas: há pela frente embates ideológicos em torno da repartição de sacrifícios e benesses, em que as decisões, quaisquer que sejam, muito provavelmente descontentarão mais da metade dos eleitores.
Recessões são, em geral, períodos em que excessos e desequilíbrios da economia são corrigidos, de forma amarga. Não é o caso da atual, inutilmente profunda e prolongada devido à babel política. Ao que tudo indica, o país sofrerá à toa neste 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário