FOLHA DE SP - 21/01
Nesta semana, o presidente do Banco Central golpeou o que restava de credibilidade na política econômica com um vaivém de expectativas que gerou desconfiança generalizada no Brasil e no exterior. Fiel a seu estilo, Dilma arrematou: "O BC não é uma instituição independente".
A conta desse experimento malfadado cairá nas costas de quem depende de salário e emprego. É possível que o governo chegue ao fim do mandato com uma economia menor e mais empobrecida do que encontrou ao assumir as rédeas.
O problema, no entanto, não se esgota aí. Os vaivéns do BC também estão tendo sérias consequências sobre as relações exteriores do país.
Responsável por 48% do PIB da América do Sul, o Brasil é o maior investidor, credor e consumidor da vizinhança. A Bovespa é a principal e mais líquida das Bolsas de Valores sul-americanas, ao passo que o real desenvolveu nessas duas décadas uma zona de influência a seu redor.
Quando o Brasil exporta crise para seus vizinhos, termina importando problemas graves. Afinal, a América do Sul é hoje essencial para a saúde da economia brasileira. A dependência com os vizinhos é mútua.
Num momento em que todos os países da vizinhança padecem de um contexto global de juros em alta e de preços de commodities em baixa, a crise brasileira pode ser explosiva.
O Banco Central deveria estar emitindo sinais claros que permitissem a governos estrangeiros ter o tempo para mitigar os impactos negativos da crise. Sem isso, o que resta é desconfiança numa região da qual dependemos.
Este governo é o que é, e não parece que vai mudar de toada. Mas é hora de começarmos a imaginar as linhas básicas da diplomacia financeira que será necessária para recolocar o Brasil nos trilhos quando tivermos a próxima transição presidencial.
A prioridade absoluta é reconhecer que o Banco Central é uma das instituições públicas de maior impacto sobre as relações exteriores. Portanto precisa ter os instrumentos para gerir sua realidade de forma inteligente.
O BC possui hoje dez escritórios no país, mas nenhum no exterior. Não conta com um embaixador itinerante para explicar suas posições no exterior nem costuma convidar representantes de bancos centrais estrangeiros para sessões do Copom (Comitê de Política Monetária).
Quase toda a cooperação técnica que o BC oferece na atualidade vai para África, Cuba e Suriname, não para a América do Sul, onde o impacto da política monetária é mais sentido. Não há mecanismos para gerir a interdependência.
É hora de começar a conceber uma diplomacia financeira equipada para valer.
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