ESTADÃO - 21/01
Otimismo versus pessimismo é tema perfeitamente oportuno neste momento. E não apenas porque um novo ano está começando. Isso é normal em todos os anos, quando estão começando. As pessoas, acho que no mundo inteiro, pelo menos no mundo do calendário gregoriano, tendem a aderir ao pessimismo ou ao otimismo nas passagens de anos – e a fazer prognósticos sobre o ano que entra.
Mas este ano é especial no Brasil.
A economia brasileira está no fundo do poço. Pior do que isso. Está sem ninguém que aponte uma saída minimamente viável. Segundo pesquisa recentemente divulgada pelos jornais, atribuída ao Pew Research Center, abrangendo 40 países, 87% dos brasileiros acham que a economia vai mal e apenas 13% pensam que vai bem.
Mas na cabeça das pessoas as coisas não parecem tão mal assim. Outros dados da mesma pesquisa mostram que 66% dos brasileiros acham que a economia vai melhorar nos próximos 12 meses, 13% acham que vai ficar igual e 21% acham que vai piorar. Digamos, pois, que uma maioria de brasileiros olha a economia com certo otimismo e uma minoria, 34%, ou não crê ou está pessimista. É um contingente nada desprezível. Mas é claro que, se 2015 tivesse terminado com a economia em crescimento, mesmo que pequeno, esse contingente seria menor.
A quantidade de pessimistas e de otimistas, medida por pesquisas, tem, no entanto, menor importância do que os sentimentos que envolvem as pessoas e que as pesquisas não medem: desesperança e descrença, além da frustração. A frustração em amplas camadas da população que pensavam ter tirado o pé da lama nos governos do PT deve ser acabrunhante. Somam-se a ela os sentimentos de desesperança e descrença diante do quadro político atual. Nas TVs, o que se vê, com o início dos horários de propaganda eleitoral, é o mesmo discurso vazio de gente sem a menor categoria para liderar ou animar quem quer que seja ou de quem já passou pelo poder e não tem mais nada a dizer ou a propor. É o ramerrão costumeiro sobre promessas ou planos inviáveis. Sem falar no desanimador panorama dos que já estão encastelados no poder, no Legislativo ou no Executivo federais, e que se entregam à gafieira de salão em torno de Eduardo Cunha, Dilma Rousseff, Michel Temer e do agora mais novo suspeito na Lava Jato: Jaques Wagner.
“Sei que tivemos um ano difícil, mas estou otimista com 2016. Acredito na força do nosso povo e na agenda que traçamos para o País”, disse a chefa da Nação na sua mensagem de ano-novo ao povo brasileiro. “A agenda de reformas do Estado vai aprofundar a democracia e fortalecer as bases do crescimento sustentável.”
A crença na força do nosso povo e a crença na hipótese de o Brasil ser maior que as crises são o refrão de quem não tem mensagem e tem a obrigação de parecer otimista.
Mas, talvez, se ela recitasse ou apresentasse a “agenda que traçamos para o País” e esmiuçasse os passos concretos que o seu governo pretende dar neste ano para conseguir atravessar a turbulência, estabilizar pelo menos a economia e desanuviar o nó político que a impede de governar, o do seu impeachment, talvez conseguisse incutir algo do seu declarado otimismo “com 2016” na alma dos brasileiros que a ouviam.
Mas nada disso se ouviu. Nenhum pormenor que pudesse ser levado a sério. Essa pessoa que nos dirige vem prometendo o futuro e entregando o atraso desde que tomou posse pela primeira vez. E sob seus pés ou asas rolam os maiores escândalos de corrupção, de desrespeito à coisa pública e de desatinos administrativos de que se tem notícia.
Pode ser que o Brasil seja forte e grande o bastante para surfar essa onda perversa e sair dela como o campeão Adriano de Souza, o Mineirinho. Mas, francamente, está muito difícil. E, do jeito que este governo deixa o País, 2016 talvez seja um problema bem menor do que os anos seguintes.
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