ESTADÃO - 12/01
Diante do risco de inflação ainda acima de 6,5% neste ano, com novo estouro do limite de tolerância, também conhecido como teto da meta, o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá anunciar mais um aumento de juros na próxima semana, logo depois de sua primeira reunião de 2016. Com uma alta de 0,5 ponto, a taxa básica, a Selic, chegará a 14,75%, segundo a aposta dominante no mercado. A expectativa de juros menores neste ano foi abandonada há mais de um mês, quando o agravamento da crise política, a incerteza sobre o futuro das contas públicas e a crescente desordem dos preços tornaram mais feias quase todas as projeções para o ano novo. No próximo Natal a taxa básica estará em 15,25%, um ponto acima do nível de hoje, de acordo com a avaliação captada na pesquisaFocus divulgada ontem pelo Banco Central (BC). Essa pesquisa é realizada semanalmente com cerca de cem instituições financeiras e consultorias.
A disposição de continuar aumentando os juros foi reafirmada pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, na carta aberta endereçada ao ministro da Fazenda, na sexta-feira passada, e divulgada depois do fechamento do mercado. A política monetária, segundo a carta, será orientada para garantir dois objetivos – manter a inflação dentro da margem de 6,5% em 2016 e levá-la à meta de 4,5% em 2017. Para isso, o BC agirá “independentemente do contorno das demais políticas”, afirmou Tombini, repetindo uma frase da ata da última reunião do Copom, em novembro.
A inflação chegou a 10,67% no ano passado e o presidente do BC, cumprindo a lei, mandou a carta para explicar por que o aumento de preços foi além do limite de tolerância, de 6,5%, fixado pelo Conselho Monetário Nacional. A explicação, tão razoável quanto poderia ser, passou muito longe de um reconhecimento de culpa ou de atribuição dos males do Brasil a alguma desordem econômica internacional. Fatores externos pesaram, sim, e o melhor exemplo é o aperto gradual da política americana de juros, com reflexos nos mercados de crédito, nos fluxos financeiros e no câmbio. Mas os danos causados ao Brasil seriam muito menores, e isso de alguma forma é dito na carta, se as condições internas fossem menos complicadas.
Tombini aponta, como em outros documentos do BC, a importância da recomposição dos preços administrados, como o da gasolina e da eletricidade, e os efeitos da valorização do dólar. Mas o aumento dos preços administrados (18,06%) foi muito maior que o previsto no começo do ano (7,6%). A taxa final de câmbio, de R$ 3,90 por dólar, ficou muito longe da projetada inicialmente, de R$ 2,75. Houve muito mais do que erros de previsão: a formação de preços foi fortemente afetada por “alterações significativas na trajetória esperada para as variáveis fiscais”. Em linguagem comum: a evolução das contas do governo foi muito pior do que se esperava e isso se refletiu na percepção de risco, na redução da confiança, na variação do câmbio e na formação de preços dos vários tipos de ativos.
Tombini foi bastante diplomático para deixar de lado um detalhe importante – o caráter voluntarista e demagógico do congelamento de preços administrados, como os da eletricidade e dos combustíveis. Mas mostrou como o custo da correção foi ampliado por novos erros do governo. Ele também lembrou um detalhe especialmente significativo, o rebaixamento do Brasil ao grau especulativo por duas agências de classificação, quando o governo, em duas ocasiões, propôs o relaxamento da meta orçamentária para 2016.
Essa referência, no parágrafo 24, denuncia dois dos erros mais graves cometidos pela presidente, com apoio do ministro do Planejamento e futuro ministro da Fazenda, Nelson Barbosa.
Nesta condição, resta ao BC cumprir seu papel “independentemente do contorno das demais políticas”. Que mais pode fazer o BC, quando as projeções indicam inflação de 6,93% em 2016 e 5,20% em 2017 e há tão pouca confiança na gestão das contas públicas?
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