segunda-feira, janeiro 11, 2016

De cima a baixo - PAULO GUEDES

O GLOBO - 11/01

Mais do que a falta de recursos, os problemas de incapacidade administrativa atingem toda a estrutura de governo


A televisão exibiu em tempo real a premeditada explosão de vandalismo em meio a uma até então pacífica manifestação contra o aumento das tarifas de ônibus em São Paulo. Era possível desde o início observar suspeitos mascarados infiltrados na passeata. Tanto assim que o repórter da GloboNews registrou ao vivo os sucessivos episódios de destruição de veículos e de imóveis perpetrados pela mesma meia dúzia de vândalos em fúria com porretes, pedras, correntes e extintores de incêndio retirados dos próprios veículos atacados.

Foi revoltante assistir à contaminação de uma manifestação democrática pela escalada da barbárie ante a impotência das forças de segurança pública de São Paulo. Uma exuberante demonstração de incompetência administrativa pela inútil exibição de poderio material com centenas de policiais bem equipados, dezenas de motocicletas e viaturas em cega disparada, enquanto meia dúzia de vândalos ameaçavam transeuntes, apavoravam e desembarcavam passageiros dos coletivos, destruindo propriedades impunemente.

Ora, o testemunho ocular de um bom repórter demonstra que meia dúzia de policiais infiltrados, bem treinados e com equipamentos de comunicação poderiam ter igualmente monitorado as cenas de destruição, coordenando o cerco e aprisionamento dos vândalos. Presos em flagrante, desmascarados, identificados e em seguida processados por danos materiais e por colocar em risco outras vidas de uma multidão em pânico, cada um desses bárbaros poderia ser rapidamente reconvertido à civilização. Assistimos enfim a uma demonstração de que os problemas da administração pública nem sempre se devem à falta de recursos. Deveram-se, neste caso, à falta de inteligência.

Essa incapacidade administrativa atinge a própria estrutura da Federação. A boa execução das políticas sociais exigiria a descentralização de recursos e atribuições para estados e municípios, novos eixos para a modernização operacional do Estado brasileiro. Ao contrário da atual estrutura de governo gerencialmente caótica, com 39 ministérios e baixa sintonia com as gestões estaduais e municipais. Mas como exigir do Congresso as reformas fiscal e administrativa quando a principal preocupação dos presidentes da Câmara e do Senado é tirar seus pescoços da guilhotina?

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