O Estado de S. Paulo - 10/12
Pela primeira vez desde que existem dados confiáveis, a taxa de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do Brasil (Pesquisa Mensal de Emprego) aumentou no mês de outubro, em relação a setembro do mesmo ano; os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que cobre todo o território nacional, mostraram aceleração na taxa de desemprego no terceiro trimestre, atingindo 8,9% da força de trabalho; e foram destruídos 170 mil empregos formais no mês de outubro, totalizando quase 1,5 milhão de empregos destruídos em 12 meses. Estes dados são uma amostra da profundidade da contração do mercado de trabalho brasileiro em 2015.
E essa contração está se aprofundando. Em janeiro de 2015, a taxa de desemprego registrou aumento de 0,5 ponto de porcentagem em relação a janeiro de 2014. Essa diferença aumentou sistematicamente ao longo do ano, até atingir 3,2 pontos de porcentagem em outubro de 2015, se comparado a outubro de 2014.
A destruição de empregos formais está aumentando. As médias móveis trimestrais do número de empregos destruídos mostram um comportamento bem mais negativo do que a média dos últimos 12 meses, o que significa que, nos últimos trimestres, estão sendo destruídos mais empregos que nos trimestres anteriores. A relação entre salário de admissão e salário de demissão - um bom antecedente para a taxa de desemprego - está em trajetória de queda.
No primeiro trimestre do ano a taxa de desemprego é sempre maior do que no último trimestre do ano anterior. Mas a reintrodução de impostos sobre a folha de salários, que haviam sido retirados com a desoneração da folha, vai amplificar o efeito sazonal sobre o desemprego e a informalidade em 2016. Ou seja, 2016 será certamente pior do que 2015. Uma taxa de desemprego de dois dígitos não é uma possibilidade, mas uma certeza.
Inflação. Apesar do aumento do desemprego, a taxa de inflação continua a acelerar e caminha para os dois dígitos. E não é uma inflação qualquer. É o resultado da liberação dos preços administrados (combustíveis, energia elétrica, etc.), que foram artificialmente mantidos sob controle nos últimos anos; do descontrole da política fiscal, que fez com que a relação dívida/PIB entrasse em trajetória explosiva, com aumento de 8 pontos de porcentagem ao ano; e de uma política monetária leniente, que permitiu que a inflação de serviços permanecesse em níveis próximos a 9,0% ao ano durante vários anos.
E o processo está apenas começando. O aprofundamento da crise política com a abertura do processo de impeachment; as disputas internas na equipe econômica; a introdução do regime de partilha na exploração do pré-sal e de modicidade tarifária nas concessões de infraestrutura, que levaram ao aumento da corrupção e à queda do investimento privado; a incapacidade do Poder Executivo de propor e aprovar no Congresso Nacional a redução de gastos obrigatórios, inflados nos últimos anos; a quase ausência de gastos voluntários para serem cortados; e a recusa da sociedade de aceitar aumentos da carga tributária geram um impasse que vai manter a política fiscal fora de controle, com déficits primários em 2014, 2015 e em 2016.
O resultado será novo rebaixamento da classificação de risco do País, aumento do prêmio de risco, desvalorização cambial e pressão sobre a taxa de inflação, o que forçará o Banco Central a aumentar as taxas de juros, gerando mais recessão e desemprego. A opção é deixar que a aceleração inflacionária resolva o impasse entre governo e sociedade.
Enfim, trata-se de uma catástrofe social e econômica que vai persistir pelo menos até 2017, no cenário otimista de o governo conseguir retomar o controle do processo político. Uma catástrofe anunciada, construída cuidadosamente por erros de política econômica. Qualquer economista minimamente bem formado seria capaz de prever que estes erros nos levariam ao desastre: recessão, inflação, desemprego, queda dos salários reais, mais desigualdade e pobreza. Em suma, serão 30 anos de retrocesso em 12 anos de governo!
* José Márcio Camargo é professor titular do Departamento de Economia da PUC/Rio e economista da Opus Gestão de Recursos
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