Uma das obrigações do Banco Central, de acordo com a legislação que instituiu o sistema de metas anuais de inflação, é divulgar relatórios trimestrais dando conta dos resultados obtidos pela autoridade monetária em relação ao cumprimento da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Não se trata, portanto, só de um paper (resumo) redigido em economês e dirigido aos especialistas que atuam no sofisticado mercado financeiro do país, mas de satisfação às autoridades do governo e ao Congresso Nacional, bem como à sociedade em geral. Afinal, a inflação é um dos principais indicadores da saúde da economia nacional e parâmetro fundamental tanto para a definição dos orçamentos públicos quanto para o planejamento das atividades empresariais e o posicionamento dos consumidores em relação ao custo de vida.
A semana termina com a divulgação de mais uma confissão de que a corrida dos preços atropelou o guardião da moeda nacional. O Banco Central informa que refez as projeções para este ano do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido mensalmente pelo IBGE e eleito o indicador oficial da inflação brasileira. Agora, a autoridade monetária reconhece que a inflação de 2015 não ficará abaixo de 10,8%.
O consumidor que frequenta o açougue, o supermercado, a feira e o comércio em geral sabia que o poder de compra de seu salário passou a diminuir mais depressa este ano do que nos anteriores, desmentindo o que ouvira nas mensagens da campanha eleitoral da candidata oficial em 2014. É assim que o avanço da inflação é percebido pelo comum dos mortais e, uma vez registrado, não há marketing oficial que possa amenizar a má impressão que ele causa.
Alívio só virá com a sensação de que os preços estão estáveis ou próximo disso. E quanto antes eles convergirem para patamares civilizados, melhor para quem vende e quem compra. Incomoda e preocupa, portanto, a declaração da autoridade responsável pelo controle da inflação de que, oficialmente, o governo perdeu feio para o dragão dos preços altos. Afinal,10,8% são mais que o dobro da meta de 4,5% e bem acima do limite de tolerância de 6,5%.
Pior ainda é saber que, nos últimos cinco anos, este não é o primeiro em que a inflação escapa do controle. Em boa parte, essa dificuldade em manter os preços dentro da meta de inflação se deve ao fato de o governo ter sido leniente com a política monetária, ao ponto de admitir como meta o teto de tolerância. Além disso, o falta de compromisso com a contenção do gasto público nos últimos anos fez com que a política fiscal atropelasse a política monetária, como se isso fosse normal e até positivo para estimular o desenvolvimento econômico.
Fazer de conta que a exceção era a normalidade acabou minando credibilidade das previsões e a confiança na capacidade do governo e do próprio Banco Central. E isso levou o país à atual situação de descrédito e desânimo tanto dos consumidores quanto dos investidores na retomada da economia. Essa nova derrota para a inflação deveria servir para convencer o governo a mudar seus métodos e abandonar seus truques. Eles estão vencidos.
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