O ESTADÃO - 10/06
Ou tratamos de tirar lá de baixo o mais rapidamente possível as riquezas deitadas em berço esplêndido ou correremos o risco de não mais contarmos com elas
Segunda-feira, os chefes de Estado do Grupo dos Sete (G-7), os países mais ricos do mundo, tomaram na cidade de Elmau (Alemanha) a decisão de descartar gradativamente o petróleo, o gás natural e o carvão da matriz energética mundial.
O processo deve perdurar até 2100. Mas, em 2050, o consumo desses insumos deve alcançar alguma coisa entre 40% e 70%. O objetivo é conter o aquecimento do planeta.
Ainda que digam que é projeto para as próximas gerações, o impacto sobre o Brasil deverá ser enorme até em prazos relativamente curtos.
A primeira reação à decisão do G-7 foi a de entender que esse acordo não passa de uma declaração de intenções, destituído de cronograma claro e sustentável de redução das emanações de CO2, país por país. Mas é uma decisão estratégica, cuja implantação, ainda que possa sofrer as injunções de toda ordem, tem conseqüências.
Para o Brasil, é melhor levar em conta que, apesar das voltas e reviravoltas sempre prováveis, movimentos nessa direção parecem irreversíveis. É mais ou menos como o processo de banimento do uso do tabaco: sempre haverá jogo contra, pesado ou muito pesado, e as recaídas de praxe. Mas o rumo é inexorável.
O consumo mundial de petróleo, hoje à altura dos 95 milhões de barris por dia, ainda vai aumentar por mais alguns anos, como mostram todas as projeções. Mas sua substituição por fontes energéticas não poluidoras está sendo acelerada. No mundo inteiro estão sendo incentivadas instalações de geração de energia eólica e solar. E o aumento de escala está derrubando rapidamente os custos.
A sociedade brasileira - e não apenas o governo - tem agora de entender que a idade do petróleo está com os anos contados. Ou tratamos de tirar lá de baixo o mais rapidamente possível as riquezas deitadas em berço esplêndido ou correremos o risco de não mais contarmos com elas, por colapso do mercado, como aconteceu com o carvão.
O olho gordo dos governos do PT descarregou sobre o pré-sal e sobre as reservas do País carga enorme de ambições. O petróleo foi escalado para fornecer centenas de bilhões de dólares em royalties para o governo federal, para Estados e municípios, para a educação e para a formação do patrimônio do fundo soberano. O governo imaginou grandes projetos de desenvolvimento da indústria naval e de equipamentos para a exploração de petróleo e de gás e, para isso, concedeu reservas de mercado.
Essas coisas parecem agora sujeitas a novas variáveis históricas. A Petrobrás não está dando conta nem do que já tem para fazer. Se a decisão for apressar a exploração e a produção para que o petróleo e o gás não se tornem um mico de vastas proporções, é preciso chamar para a tarefa outras empresas, mais recursos e menos preconceitos.
E isso vale também para a produção de petróleo e gás de xisto. A atitude básica da sociedade é de desconfiança, equivalente à que foi dispensada anos a fio para os produtos transgênicos. Mas também aí é preciso urgência. Ou se toma a decisão de explorar já essa nova fonte de riquezas ou o Brasil corre o risco de deixá-las enterradas pelos séculos dos séculos.
CONFIRA:
Esta é a evolução da movimentação de cargas pelos portos brasileiros, dado que justifica os investimentos em terminais portuários.
Plano de concessões
Não há garantia de que o novo programa de concessões de serviços públicos resolva o problema da falta de investimentos. Nem é possível avançar que, desta vez, as intenções serão convertidas em fatos. Por enquanto, o anúncio do pacote de infraestrutura às vésperas do congresso do PT sugere que o objetivo principal é criar uma agenda positiva para abafar o fogo amigo contra a política de ajuste.
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