O Estado de S. Paulo - 10/06
A coroa de espinhos que Dilma Rousseff carrega por conta de seus desacertos na condução da política e da economia no primeiro mandato tem espinhos suficientes para agravar-lhe a dor da expiação. Poderia, portanto, poupar-se, e aos brasileiros, das canhestras tentativas de tapar o sol com a peneira na questão do escândalo da Petrobrás. Dias atrás, em entrevista à televisão francesa, a presidente da República irritou-se com uma pergunta sobre se “assumiria suas responsabilidades” no caso de ser comprovado seu envolvimento com a corrupção na estatal: “Eu não respondo a essa questão porque sei que não tenho nada a ver. Eu sei o que faço. Lutarei até o fim para mostrar que não estou envolvida. Tenho uma história. Nunca fui acusada de nada”.
Pouco antes, Dilma havia tentado dissociar a Petrobrás do escândalo, alegando que as investigações da Operação Lava Jato atingem apenas alguns funcionários da estatal: “É importante entender que a Petrobrás tem mais de 30 mil empregados e são 5 envolvidos”. Garantiu ainda que não há “nenhum indício” de que pelo propinoduto da estatal tenham transitado recursos destinados a sua campanha reeleitoral.
As entrevistas à TV France 24 e a outras emissoras e jornais europeus foram concedidas a propósito da viagem de Dilma a Bruxelas para participar da reunião de cúpula entre a União Europeia e a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac).
O público francês não há de ter opinião formada sobre a possibilidade de envolvimento de Dilma no esquema de corrupção da Petrobrás. No Brasil, a tendência é de acreditar que esse envolvimento não implique a participação da então ministra de Minas e Energia, depois chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da estatal, no sentido de locupletar-se com as ações ilícitas. Apesar da perda de credibilidade política e de popularidade, mantém-se a aura de honestidade pessoal de Dilma. Mas é impossível de acreditar – levando em consideração as posições que ocupou no governo, com alguma responsabilidade em relação à Petrobrás, e suas características de gestora centralizadora e detalhista – que Dilma não tivesse informação ou nem desconfiasse da trama criminosa que durante tantos anos movimentou bilhões de reais praticamente sob seu nariz. Para onde estaria ela olhando, a ponto de ignorar completamente o que se passava na empresa à qual, como ministra de Minas e Energia e da Casa Civil e, depois, como presidente da República, dava especial atenção?
Nessas entrevistas, Dilma entrou em contradições e inconsistências. À TV francesa negou veementemente que sua campanha se tenha beneficiado do petrolão, para afirmar em seguida, reclamando de “perseguição”, que “todas as campanhas”, em 2014, receberam contribuição das empresas envolvidas no escândalo: “Eu não sei por que só a minha (campanha) foi destacada”.
Ao jornal belga Le Soir, Dilma explicou, sobre a substituição de diretores da Petrobrás por ocasião de sua posse na Presidência: “Essas cinco pessoas já não estavam na Petrobrás desde o fim de 2011. Não porque eram suspeitos, mas porque eles não faziam parte dos membros da equipe em que eu confio”. Mas não explicou as razões de sua desconfiança em relação a diretores nomeados durante o governo Lula e com os quais conviveu, pelo menos formalmente, enquanto presidiu o Conselho da empresa.
Quanto ao bisonho argumento de que não se pode falar em escândalo “da Petrobrás” porque apenas 5 de seus mais de 30 mil funcionários estão sendo acusados de corrupção, é o caso de lembrar-lhe que cada centavo dos bilhões de reais foi surrupiado “da Petrobrás”.
Dilma Rousseff parece não ter aprendido, depois das patranhas que disse durante a campanha eleitoral – e pelas quais paga caro, agora –, que o peixe morre pela boca. Foi assim, por paradoxal que pareça, que ela começou a perder sua credibilidade e a aprovação popular no momento em que conseguiu ganhar a eleição de outubro. Não é com tentativas canhestras de tapar o sol com a peneira que ela recuperará a confiança dos brasileiros.
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