CORREIO BRAZILIENSE - 03/06
Pasquale Scotti, 56 anos, condenado à prisão perpétua por ligação com a máfia, foi preso no Recife no fim do mês passado, mais de 20 anos depois de ser sentenciado pela Justiça de seu país. O caso serve para os brasileiros repensarem a lei de imigração nacional. Uma coisa é o país, formado por imigrantes, não negar receptividade humanitária para estrangeiros que buscam aqui sobrevivência e vida digna. Outra é garantir acolhida eficaz e organização, sobretudo no que diz respeito a melhor filtragem de quem quer entrar no Brasil.
A chegada crescente de haitianos - em apenas 10 dias de maio, aportaram em São Paulo 40 ônibus vindos do Acre - e africanos é exemplo disso, exigindo mobilização efetiva das autoridades para que a legislação seja cumprida, os imigrantes tenham oportunidades concretas e não venham apenas para engrossar os bolsões de miséria que vicejam nas grandes cidades.
O tema é complexo. Não pode ser encarado com simplismo. Urge acionar os mecanismos internacionais e os organismos policiais para controlar o tráfico humano e a clandestinidade. O ingresso de estrangeiros precisa ser efetivamente fiscalizado. Por trás de imigrante ilegal, podem estar armas, drogas e afins. Não é justo que estrangeiros sejam levados de um lado para o outro, sem a proteção assegurada pela legislação trabalhista, para que não sejam explorados por empregadores mal-intencionados.
Certo é que, se as autoridades não agirem logo, com organização e sem improvisos, poderá crescer o já refratário sentimento de rejeição e xenofobia que começa a aflorar nas redes sociais, num momento em que brasileiros disputam vagas no retraído mercado de trabalho do país. Ajuda humanitária é atitude relevante para qualquer governo, mundo afora, mas nada deve ser feito de afogadilho.
O Brasil tem 15.735 quilômetros de fronteiras terrestres, com 10 países da América do Sul - só com a Bolívia, são 3.126 - e 7.367 quilômetros de fronteiras marítimas. Conclui-se que, sem mais rigor na vigilância, a imigração ilegal tende a crescer, levando o país a abrigar pessoas de passado nada recomendável, como é o caso de Pasquale Scotti, que vivia como cidadão brasileiro acima de qualquer suspeita na capital pernambucana, embora estivesse condenado desde 2005 à prisão perpétua. Ele entrou no país em 1986, pela Região Norte, e passou por vários estados antes de fixar residência no Recife. A questão não é fechar os portos, aeroportos e fronteiras a imigrantes, mas acolhê-los com estrutura e transparência, para que o Brasil se livre de uma vez por todas da pecha de paraíso para procurados da Interpol.
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