Além de dar um jeito na cobrança demencial de alguns impostos, tais como ICMS e PIS/Cofins, o outro plano do governo para tornar o ambiente menos empesteado é o de concessões de obras de infraestrutura. Isto é, entregar a empresas privadas obras e operação de algumas rodovias, ferrovias, aeroportos e portos, plano que a princípio deve ser divulgado na semana que vem.
Pelo menos parte dos economistas de Dilma Rousseff está otimista com o programa. Com a exceção deles, mais ninguém parece estar, embora as empresas sempre reclamem, estejam mais ou menos certas nas queixas.
Gente do governo acredita que não vai faltar empresa para disputar as obras. Diz que mesmo nos grandes grupos avariados pela Lava Jato, as empreiteiras maiores, haveria firmas independentes ou autônomas capazes legal e financeiramente de entrar nas concorrências. Quer dizer, firmas que não correm o risco de serem declaradas inidôneas nem estão quase falidas.
Gente do governo diz ainda que empresas médias podem se associar para aproveitar a oportunidade aberta pela razia no grupo das grandes irmãs da empreita, algumas em recuperação judicial, outras vendendo os dedos e os anéis a fim de preservar os braços.
Por fim, no governo se acredita também que "se vai encaminhar uma solução para parte" das empreiteiras corruptas, que vai passar pela "negociação judicial" e "algum tipo de reestruturação" (venda de partes das empresas para pagamento das multas que virão e para o saneamento financeiro). Empresas estrangeiras poderiam comprar o resto de parte dessas empresas, sua "capacidade técnica".
O pessoal da construção pesada, empreiteiras e suas associações, diz que, além das "questões judiciais", não conseguiram entender ainda: 1) Como vai ser o financiamento das obras de longo prazo; 2) Quais serão as "novas regras" das concessões: duração, retorno, ritmo das obras.
Empresários dizem que simplesmente não há dinheiro ou recursos de outra espécie disponíveis. Para começar, porque parte das empresas assumiu empreendimentos pesados nos últimos anos. Além do mais, não sabem de onde virá o crédito, visto que o BNDES, grande financiador, está em fase de muda e míngua, com menos recursos para emprestar daqui por diante.
Tomar dinheiro emprestado no exterior, sem alguma "garantia oficial", está fora de questão, ainda mais em um ambiente econômico doméstico transtornado e sob risco de ser ainda mais balançado quando começar a alta das taxas de juros nos Estados Unidos. Trata-se de fatores, claro, que sujeitam o real a grandes desvalorizações.
Empresários dizem que têm sido frequentemente ouvidos pelo governo a respeito do pacote de concessões, que "está havendo diálogo", mas que ainda não viram ou não sabem de quem tenha visto o conjunto da obra, o plano do que vai ser concedido, em que termos e com quais condições de financiamento.
Um deles diz que mesmo o "programa mais bem-sucedido, de 2012", não deve funcionar agora, porque "tudo mudou": de novo, falta crédito, as empresas estão descapitalizadas, ocupadas ou falidas e as novas concessões não parecem ser tão rentáveis como aquelas do primeiro pacote do governo Dilma 1.
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