CORREIO BRAZILIENSE -06/06
Parece um saco de maldades. E é. Mas as notícias cada vez piores que marcaram a semana não partem de banqueiros interessados em tirar a comida da boca dos pobres, como foi propagado pela campanha de reeleição da candidata oficial. Todo aquele discurso foi, na verdade, biombo para ocultar a enorme trapalhada com que o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff atirou a economia brasileira no poço profundo do desequilíbrio fiscal, inflação acelerada, recessão, desemprego e sérias ameaças às recentes conquistas sociais.
Na quarta-feira, o Banco Central (BC) deu mais uma volta no torniquete da política monetária. Aumentou de novo a taxa básica de juros para 13,75% ao ano. Já é uma das mais altas do mundo, mas a própria autoridade monetária não esconde que o aperto não vai parar por aí. Pura maldade, já que isso reduz o acesso das pessoas ao consumo de bens e serviços? O aumento do custo da dívida pública via pagamento de juros não atira contra o equilíbrio fiscal?
É por essas vias simplistas (para dizer o mínimo) que muitos críticos da alta dos juros fingem não entender o que de fato move a decisão da diretoria do BC. Ninguém duvida de que seria muito mais agradável deixar o consumo correr solto. As pessoas continuariam com a ilusão de viver em país próspero e, portanto, mais propensas a votar na continuidade do governo.
Foi exatamente esse castelo de areia erguido nos últimos anos que ruiu. Agora, passada a eleição, não há mais como esconder os escombros. O aperto nas taxas de juros é, portanto, nada mais do que um dos ingredientes do remédio amargo que a sociedade é obrigada a tomar para se livrar das consequências da equivocada, para não dizer irresponsável, condução da política econômica.
Na mesma quarta-feira, não faltou quem criticasse o Banco Central por não ter acompanhado a divulgação, pela manhã, do resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): o desemprego fechou o trimestre móvel encerrado em abril com mais um aumento, passando a 8%. É o nível mais elevado desde o início da série, em 2012.
Somado às baixas taxas de confiança de empresários e consumidores e ao recuo dos investimentos em expansão dos negócios (capital fixo) no primeiro trimestre, o nível de desemprego medido em todo o país pode piorar nos próximos meses. A crítica parte da equivocada comparação com decisões do banco central norte-americano, que tem nos níveis de emprego dos EUA um dos parâmetros usados para decidir sobre os juros. Não somos economia desenvolvida financeira e tecnologicamente como a deles. Não atraímos capitais com tanta facilidade e não temos a mesma capacidade de resposta.
Por isso mesmo, nem todas as decisões de política econômica tomadas em Washington podem ser replicadas por Brasília. Melhor mesmo é mirarmos sem falsetes a nossa realidade, compreender que não temos saída senão reconhecer o enorme peso dos erros aqui cometidos e enfrentar a dureza do ajuste. Além disso, é fundamental oferecer à sociedade, hoje exposta ao sacrifício, um plano factível de retomada do crescimento na fase seguinte, sem as fantasias e bravatas que nos levaram à calamitosa situação atual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário