O ESTADÃO - 14/03
Nesta sexta-feira, as cotações do dólar dispararam 3,36% para a cotação recorde em 12 anos de R$ 3,26. Mas, ao longo do dia, chegaram a bater nos R$ 3,27 (veja o gráfico).
É mais um indicador da insegurança produzida e disseminada pelo mau momento tanto da economia quanto da política. Manifestações com objetivos confusos sugerem instabilidade e déficit de confiança. Os títulos de dívida do Brasil estão ameaçados de rebaixamento para o nível de especulação. A inflação deixou o patamar dos 6,5% em 12 meses e saltou para 8,0%. Não há sinal de recuperação sustentável da atividade econômica.
Todos os dias, no Congresso e nas ruas, o programa de ajuste do governo vai sendo contestado. Espalham-se rumores e versões de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não aguentará as pressões, tanto de fora quanto de dentro do governo. A disparada do dólar puxa a dívida da Petrobrás, de US$ 261 bilhões, a níveis de difícil sustentação. Isolada e perplexa, a presidente Dilma vê seu governo se desidratando ainda no terceiro mês do seu segundo mandato.
A falta de lideranças extrapola a Presidência da República e é outra fonte de apreensão. Os chefões do Congresso estão ameaçados pelas denúncias da Operação Lava Jato e parecem atuar a esmo, mais como vingança, sabe-se lá contra quem, do que por motivação política propriamente dita. A oposição não tem proposta, a não ser a de “deixar Dilma sangrar”, o que sugere baixa identificação com o interesse público. As melhores cabeças da sociedade civil parecem fora de combate. As lideranças sindicais comportam-se como cartolas do Imposto Sindical. Na última greve dos caminhoneiros, que paralisou o País, não apareceu ninguém suficientemente representativo da categoria com quem negociar. O panelaço do último domingo surgiu quase que do nada. Desde 2013, os protestos são convocados pela internet por meio das redes sociais, algumas vezes em nome de siglas e de movimentos que ninguém conhece e que desaparecem tão rapidamente como surgiram.
Alguns analistas vêm dizendo que, ao contrário das anteriores, nesta crise ao menos o Brasil está bem servido por redes de proteção. Parecem referir-se aos US$ 369 bilhões das reservas internacionais. No entanto, elas estão aí para não serem usadas, porque, se forem, correm o risco de derreter. Se as reservas não devem ser usadas, então que tipo de rede de proteção constituem?
Alguma coisa o Brasil está aprendendo. Até há alguns poucos anos, a defesa da responsabilidade na condução das contas públicas era denunciada como jogo dos neoliberais e do capital estrangeiro. Ninguém diz hoje que a política de ajuste da presidente Dilma é inspirada na recomendação dos fundamentalistas do Fundo Monetário Internacional. Diz apenas que ela não é consequente com o que foi seu discurso de campanha.
Certo ou errado, o ajuste é coisa nossa. Dilma ainda não reconheceu que a desarrumação é consequência das escolhas feitas. Chegou mais perto disso na quinta-feira ao admitir que a política econômica adotada “se esgotou”.
Há uma enorme conta a pagar sobre a mesa. É por isso que o dólar e a inflação estão em convulsão.
CONFIRA
Aí está a evolução das cotações do petróleo desde fevereiro.
Derrubada
Nesta sexta-feira, os preços do petróleo negociado em Nova York caíram 4,69% porque a Agência Internacional de Energia divulgou relatório que mostrou aumento da produção e dos estoques nos Estados Unidos. Isso significa que ainda não dá para apostar na estabilização dos preços. O equilíbrio atual “é muito precário”. Ou seja, a atuação da Opep não está conseguindo alijar do mercado produtores dos Estados Unidos que supostamente operam com custos muito altos.
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